Bolsonaro nega tentativa de golpe e diz confiar no Congresso para se tornar elegível

"Ninguém votou em pessoal do Supremo. Ninguém votou em ministro da República. O poder mais importante é o do Congresso", afirmou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)

Fábio Matos

Jair Bolsonaro, ex-presidente da República (Foto: Divulgação/ Twitter oficial Jair Bolsonaro)
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República (Foto: Divulgação/ Twitter oficial Jair Bolsonaro)

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Alvo de processos que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) e tornado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda acredita ser possível reverter sua delicada situação jurídica e disputar a Presidência da República em 2026. 

Em entrevista ao jornal O Globo, o ex-mandatário nega qualquer tentativa de golpe de Estado em 2022 e garante não estar preocupado com seu julgamento nos tribunais, mas com quem vai julgá-lo. 

“Eu não estou preocupado com o meu julgamento. A minha preocupação é com quem vai me julgar. Uma prisão de um ex-presidente tem uma repercussão no mundo todo. Jair Bolsonaro preso. Preso por quê? É óbvio que tem que ter uma causa justa. Tem que aplicar a lei”, afirmou o ex-presidente. 

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“Eu não estava aqui no 8 de janeiro [de 2023]. Eu estava fora. Se eu estivesse no Brasil, acho que estaria complicada a situação, né? Porque iriam me culpar. Pelo que tudo indica, o 8 de janeiro foi construído pela esquerda. O que aconteceu nos Estados Unidos acontece aqui. No Capitólio, morreu gente. Tentaram colocar a culpa no [Donald] Trump”, prosseguiu Bolsonaro. 

Na entrevista, o ex-presidente foi questionado sobre a elaboração da chamada “minuta do golpe” durante o seu governo, inclusive com suposta participação de militares, com o objetivo de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que o derrotou nas eleições de 2022.

“Eu sempre fui contra qualquer tipo de ruptura institucional. O que se fala é que tem um rascunho de um documento. Cadê esse documento? O que é estado de sítio? Foi levantado isso. Como é que começa o estado de sítio? Com o presidente da República convocando os conselhos da República e o da Defesa Nacional, composto por gente do Executivo, da Câmara e do Senado. Foi tomada alguma providência para convocar os conselhos? Não”, disse Bolsonaro. 

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“O segundo passo seria o presidente mandar para o Congresso o pedido para decretar estado de sítio. Se o Congresso der positivo, aí o presidente assina o decreto. Não foi dado nenhum passo nesse sentido. Discutir a Constituição passou a ser crime?”, questionou. 

Indagado, então, se havia discutido a possibilidade de decretar estado de sítio no país, o ex-presidente respondeu: “Não estou assumindo que discuti ou não. Estou questionando”. 

“Possivelmente, discutir estado de sítio é algum crime? Quem autoriza o decreto de estado de sítio é o Congresso. Eu falava para os ministros que estavam ao meu lado: ‘Vão buscar os remédios dentro da Constituição’. Eu entendo que a Constituição é o remédio para os conflitos institucionais”, afirmou Bolsonaro. 

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“Agora, falar que eu estava preparando um golpe, pô, pelo amor de Deus. Você não vai [dar um golpe] depois que o TSE anunciou o resultado. Ninguém vai contigo. Quando o chefe do Executivo não é reeleito, 80% dos seus ministros desaparecem. Somente 10% está contigo e outros 10% ficam em cima do muro. Não tem como fazer mais nada. Se convidar para um churrasco, de 23 ministros vão aparecer 3, pô. Como vou dar um golpe num clima desse? Que absurdo isso aí.”

“Congresso é o caminho para quase tudo”

Durante a entrevista, Jair Bolsonaro não escondeu que vê o Congresso Nacional como o principal caminho para a aprovação de uma anistia aos envolvidos no 8 de janeiro – e também, no seu caso em particular, para recuperar a elegibilidade. 

“O Congresso pode. O Congresso é o caminho para quase tudo. O poder mais importante é o Legislativo. Depois, o Executivo…O Congresso é o poder mais importante. Ninguém votou em pessoal do Supremo. Ninguém votou em ministro da República. O poder mais importante é o do Congresso. A Constituição que entende dessa maneira. O Poder Judiciário é para dirimir conflitos”, defendeu. 

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Trump e passaporte apreendido

Bolsonaro também falou sobre a apreensão de seu passaporte por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Alexandre de Moraes determinou a apreensão do passaporte do ex-presidente da República como uma das medidas cautelares impostas em meio às investigações sobre a participação de Bolsonaro na suposta tentativa de golpe de Estado. 

Em outubro deste ano, a Primeira Turma do Supremo, presidida por Moraes, decidiu manter a retenção do passaporte de Bolsonaro. Por unanimidade, o colegiado rejeitou dois recursos que haviam sido apresentados pela defesa de Bolsonaro. Além de manter a decisão que determinou a ordem de entrega do passaporte do ex-presidente, a Primeira Turma também manteve o veto a qualquer tipo de comunicação entre Bolsonaro e outros investigados.

Bolsonaro deve ser convidado para a posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, em janeiro de 2025. Para conseguir viajar, terá de obter a autorização do Supremo

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“A informação que tenho é que vou ser convidado. Vou fazer uma petição para o Alexandre. Ele decidirá. Se indeferir, tem alguma alternativa? Eu fico no Brasil e assisto pela TV. Você acha que Trump vai convidar Lula para a posse? A não ser protocolarmente”, afirmou o ex-presidente. 

Em relação à vitória de Trump sobre a atual vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, na disputa pela Casa Branca, Bolsonaro disse se tratar de “uma boa notícia para o mundo”. 

“Nós defendemos a liberdade econômica. Os Estados Unidos são a maior democracia do mundo e dão o seu potencial. Eles projetam o poder. Então, é natural. Se o Brasil quer ter menos problemas no mundo, deve seguir um pouco a linha americana”, afirmou. 

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Pablo Marçal

Na entrevista, Jair Bolsonaro também foi questionado sobre a intenção do empresário e influenciador Pablo Marçal (PRTB), terceiro colocado nas eleições municipais em São Paulo (SP), de continuar na política e disputar a Presidência da República em 2026. 

“No PL, não tem [espaço]. Ele pode procurar outro partido. A direita não tem donos. A direita tem líderes. E todo mundo que se credencia como líder tem direito de buscar esse voto. Agora, o debate para buscar o voto não pode ser do padrão São Paulo. Não dá”, disse o ex-presidente. “Não vou dar opinião para ele [Marçal]. Tem gente de esquerda que vota nele. Isso aí é o jogo político. É preciso achar um partido e se candidatar.”

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Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”