Bolsonaro lidera com 28%, mas vê rejeição subir e desempenho piorar no 2º turno, mostra XP/Ipespe

Segundo o levantamento, pela primeira vez Bolsonaro aparece numericamente atrás de Haddad em simulação de segundo turno

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A nove dias do primeiro turno, o clima de polarização protagonizado pelos candidatos à presidência Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) se aprofundou, com a dupla ampliando vantagem sobre os demais postulantes ao Palácio do Planalto e travando duelo equilibrado nas simulações de segundo turno. Cada vez fica mais difícil para os adversários a reversão da tendência de uma disputa, a partir de 8 de outubro, entre os dois candidatos mais bem posicionados na corrida presidencial.

Segundo pesquisa XP/Ipespe, realizada entre os dias 24 e 26 de setembro, a distância entre o primeiro pelotão e o segundo agora chega a 10 pontos percentuais, o dobro do que se observou uma semana atrás. O levantamento está registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o código BR-00526/2018 e tem margem de erro máxima de 2,2 pontos percentuais para cima ou para baixo.

Na pesquisa, Bolsonaro manteve a liderança isolada da corrida, mas estacionou aos 28% das intenções de voto. O desempenho é superior em 5 p.p. ao registrado três semanas atrás, antes do atentado a facada sofrido pelo parlamentar durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG). Com apoio de 32% dos eleitores no Sul e 31% no Sudeste, além de 33% na classe C, o deputado diminui espaços para adversários na via antipetista. Por outro lado, uma de suas fraquezas consiste na expressiva diferença de 15 p.p. entre o apoio do eleitorado masculino (36%) e feminino (21%). Tais fatores podem prejudicá-lo em eventual disputa de segundo turno e até mesmo torná-lo alvo dos efeitos de possível perda de apoio para o chamado “voto útil”.

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No retrovisor, Bolsonaro vê Haddad cada vez mais próximo. O petista agora tem 21%, 5 pontos a mais do que na última pesquisa. Desde que foi oficializado candidato à presidência, substituindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele mais que dobrou seu nível de apoio. Nos resultados segmentados, Haddad agora conta com apoio de 31% dos nordestinos, de 26% do eleitorado com nível de escolaridade até o Ensino Médio completo e de 23% daqueles com renda familiar mensal de até 2 salários mínimos.

Com o crescimento, o ex-prefeito paulistano ampliou vantagem sobre seu principal concorrente no “campo vermelho”, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), que apenas manteve os 11% de intenções de voto que tinha na semana passada. O pedetista está tecnicamente empatado com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), do “campo azul”, que oscilou de 7% para 8%. O tucano patina até mesmo em faixas de histórico positivo de seu partido em eleições, caso do Sul e do Sudeste, onde não consegue superar os 10% das intenções de voto.

Dono da maior fatia de tempo no horário de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, Alckmin endureceu os ataques a Bolsonaro para tentar reaver votos do antilulismo e garantir um assento na disputa de segundo turno. A estratégia pode ter ajudado a elevar a rejeição do adversário, mas não o fez crescer nas pesquisas até o momento.

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Em situação de empate técnico com Alckmin aparece a ex-senadora Marina Silva (Rede), com 5% das intenções de voto. A candidata apresentou uma desidratação de 8 pontos em um intervalo de um mês e viu sua rejeição chegar ao patamar de 68%. Até o fim de agosto, ela era a segunda colocada na pesquisa. Marina chegou a ficar 7 pontos atrás do líder Bolsonaro, agora a diferença é de 23 p.p..

Também pontuam na pesquisa o empresário João Amoêdo (Novo), com 3% das intenções de voto, o senador Álvaro Dias (Podemos), com 2%, mesmo patamar do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB), e o deputado Cabo Daciolo (Patriota), com 1%. O grupo dos “não voto” (composto por votos em branco, nulos e eleitores indecisos) agora soma 17% do eleitorado no cenário estimulado e 39% no espontâneo – quando os nomes dos candidatos não são apresentados aos entrevistados. Uma semana atrás, os respectivos percentuais estavam em 23% e 39%.

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O levantamento XP/Ipespe também mostrou que, a pouco mais de uma semana do primeiro turno, o nível de interesse pela eleição presidencial subiu de 60% para 64%. Agora, 39% dos eleitores se dizem muito interessados, enquanto 25% afirmam estar mais ou menos interessados no processo. Três semanas atrás, a soma desses grupos representava 52% do eleitorado. A faixa de eleitores que se diz desinteressada com o processo está em 20%, o que pode indicar uma ativação tardia e decisão de voto de parcela relevante durante o sprint final.

Confira os cenários de primeiro turno para a corrida presidencial testados pela pesquisa:

Pesquisa espontânea: sem apresentação de nome dos candidatos aos entrevistados

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Pesquisa estimulada: com a apresentação dos nomes dos candidatos aos entrevistados

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Confira a série histórica das pesquisas XP/Ipespe

Segundo turno

Foram testadas seis situações de segundo turno nesta pesquisa. Em eventual disputa entre Alckmin e Haddad, pela primeira vez na série histórica o quadro seria de empate técnico, com o tucano numericamente à frente com 38% das intenções de voto contra 35% para o petista. Votos em branco, nulos e indecisos agora somam 27%. Em nenhum momento o ex-prefeito liderou as simulações, mas, nas últimas três semanas ele apresentou um crescimento ininterrupto em seu nível de apoio. Enquanto Alckmin aparece estável aos 38% no período, Haddad saltou 10 pontos percentuais, fazendo a diferença entre os candidatos cair para 3 p.p..

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No caso de enfrentamento entre Alckmin e Bolsonaro, o cenário também é de empate técnico, com o tucano voltando a aparecer mais forte numericamente, com 41% das intenções de voto contra 38% para o deputado. Brancos, nulos e indecisos somam 22% do eleitorado. No último levantamento, os dois candidatos apareciam empatados com apoio de 39%. A diferença entre os candidatos chegou a ser de 7 pontos percentuais a favor do parlamentar na quarta semana de maio. Na maior parte do tempo, Bolsonaro apresentou níveis de apoio mais elevados, mas a diferença, na maior parte do tempo, ficou dentro do limite da margem máxima de erro – de 3,2 p.p. até a primeira semana de setembro, quando passou para 2,2 p.p. com o aumento no número de entrevistas feitas na pesquisa (de 1.000 para 2.000).

Em eventual disputa entre Marina Silva e Bolsonaro, o quadro é de empate técnico, no limite da soma das margens de erro dos candidatos. Nesta simulação, o deputado aparece com 39% das intenções de voto, contra 35% para a ex-senadora. Brancos, nulos e indecisos somam 25%. Na última pesquisa, Bolsonaro interrompeu uma sequência de 14 semanas numericamente atrás e em situação de empate com Marina, ao liderar por diferença de 5 pontos.

Se o segundo turno fosse entre Ciro e Alckmin, o cenário também seria de empate técnico, com o pedetista numericamente à frente por 39% a 35%. Brancos, nulos e indecisos agora somam 26% do eleitorado. É a terceira vez que Ciro aparece numericamente à frente na disputa. Na semana passada, ele tinha 2 p.p. a mais que o ex-governador paulista. Em nenhum momento um dos candidatos teve vantagem superior ao limite da soma das respectivas margens de erro, mas na maior parte do tempo Alckmin esteve numericamente à frente.

Caso Bolsonaro e Ciro se enfrentassem, o pedetista venceria com 43% das intenções de voto, contra 35% do parlamentar. Brancos, nulos e indecisos somariam 21%. É a maior diferença já registrada a favor do ex-governador do Ceará. Há quatro semanas, Ciro contava com vantagem de apenas 2 pontos percentuais. Bolsonaro esteve numericamente à frente na maior parte do tempo, mas em quadro de empate técnico. Apenas nos dois primeiros levantamentos, realizados em maio, ele vencia com diferença superior à soma das margens de erro.

A pesquisa também simulou um segundo turno entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Neste caso, o quadro também é de empate técnico, mas, pela primeira vez, o petista aparece numericamente à frente, por placar de 43% a 39%, no limite da soma das margens de erro dos candidatos. O grupo dos “não voto” agora soma 18%. Em abril, Bolsonaro chegou a contar com gordura de 11 pontos percentuais. Na semana passada, a diferença passou para apenas 3 pontos.

Leia também: Bolsonaro x Haddad: como votariam os eleitores de Ciro, Marina e Alckmin neste cenário?

Rejeição aos candidatos

A pesquisa também perguntou aos entrevistados em quais candidatos não votariam em hipótese alguma. Marina Silva lidera o ranking da rejeição com taxa de 68%, em uma oscilação ascendente de 1 ponto percentual em comparação com a semana anterior e um crescimento de 8 pontos em um intervalo de um mês. Foi a maior elevação em repúdio registrada entre os principais presidenciáveis.

Logo atrás aparece Geraldo Alckmin, rejeitado por 61% do eleitorado – oscilação positiva de 1 p.p. em relação aos percentuais registrados nas últimas duas semanas. O tucano é seguido de perto por Bolsonaro, que agora aparece com taxa rejeição de 60%, crescimento de 3 pontos em comparação com os percentuais dos últimos dois levantamentos. Antes do ataque a facada sofrido em Juiz de Fora (MG) há 22 dias, o deputado havia alcançado seu maior nível de repúdio entre o eleitorado: 62%. Também aparece com rejeição de 60% o candidato Fernando Haddad. O patamar é o mesmo registrado no último levantamento e 4 pontos superior ao de um mês atrás.

Já Ciro Gomes é repudiado por 54% dos eleitores, contra 53% de Álvaro Dias. O senador, porém, é desconhecido por 25%, contra 6% registrados do lado do pedetista. A trajetória dos índices de rejeição dos principais nomes nas últimas sete pesquisas está na tabela abaixo:

CANDIDATO DE 13 A 15/08 DE 20 A 22/08 DE 27 A 29/08 DE 3 A 5/09 DE 10 A 12/09 DE 17 A 19/09 DE 24 A 26/09
Jair Bolsonaro 58% 59% 61% 62% 57% 57% 60%
Marina Silva 60% 60% 60% 62% 64% 67% 68%
Ciro Gomes 59% 59% 59% 59% 56% 54% 54%
Geraldo Alckmin 59% 60% 59% 59% 60% 60% 61%
Álvaro Dias 48% 48% 48% 48% 49% 51% 53%
Fernando Haddad 54% 54% 56% 57% 57% 60% 60%

Fonte: XP/Ipespe

Leia também:

– “Por que votarei em Geraldo Alckmin”, por Andre Lichtenstein
– “Por que votarei em Jair Bolsonaro”, por André Gordon
– “Por que votar em João Amoêdo”, por Pablo Spyer
– “Por que Henrique Meirelles seria o melhor presidente para o Brasil”, por Jason Vieira

Metodologia

A pesquisa XP/Ipespe foi feita por telefone, entre os dias 24 e 26 de setembro, e ouviu 2.000 entrevistados de todas as regiões do país. Os questionários foram aplicados “ao vivo” por entrevistadores, com aleatoriedade na leitura dos nomes dos candidatos nas perguntas estimuladas, e submetidos a verificação posterior em 20% dos casos. A amostra representa a totalidade dos eleitores brasileiros com acesso à rede telefônica fixa (na residência ou trabalho) e a telefone celular, sob critérios de estratificação por sexo, idade, nível de escolaridade, renda familiar etc.

O intervalo de confiança é de 95,45%, o que significa que, se o questionário fosse aplicado mais de uma vez no mesmo período e sob mesmas condições, esta seria a chance de o resultado se repetir dentro da margem de erro máxima, estabelecida em 2,2 pontos percentuais. O levantamento está registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo código BR-00526/2018 e teve custo de R$ 60.000,00.

O Ipespe realiza pesquisas telefônicas desde 1993 e foi o primeiro instituto no Brasil a realizar tracking telefônico em campanhas eleitorais, a partir de 1998. O instituto tem como presidente do conselho científico o sociólogo Antonio Lavareda e na diretoria executiva, Marcela Montenegro.

Em entrevista concedida ao InfoMoney em 12 de junho, Lavareda explicou as diferenças de metodologias adotadas pelos institutos de pesquisa e defendeu a validade de levantamentos feitos tanto presencialmente quanto por telefone, desde que em ambos os casos procedimentos metodológicos sejam seguidos rigorosamente, com amostras bem construídas e ponderações bem feitas. Veja as explicações do sociólogo:

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.