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BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Jair Bolsonaro voltou a levantar suspeitas infundadas sobre a vacinação de crianças contra a Covid-19 e atacar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nesta quinta-feira, um dia após o Ministério da Saúde incluir a faixa etária de 5 a 11 anos na campanha nacional de imunização.
Em entrevista a uma rádio de Pernambuco exibida nas redes sociais do presidente, Bolsonaro afirmou que não conhece crianças que morreram de Covid-19, apesar de dados das secretarias estaduais de Saúde mostrarem que 301 crianças entre 5 e 11 anos morreram da doença no país até o início de dezembro. O presidente disse que há interesses por trás na aprovação das vacinas pediátricas.
“Você vai vacinar teu filho contra algo que o jovem por si só a possibilidade de morrer é quase zero? O que está por trás disso? Qual é o interesse da Anvisa por trás disso? Qual é o interesse das pessoas taradas por vacina? É pela sua vida? Pela sua saúde? Se fosse, estariam preocupados com outras doenças, e não estão. Quando se trata de criança, não se deixe levar por propaganda”, disse.
Bolsonaro considerou lamentável a decisão da Anvisa de autorizar a vacina e repetiu que sua filha Laura, de 11 anos, não será vacinada.
Em sua tradicional live de quinta à noite, o presidente voltou à carga contra a imunização das crianças ao destacar que a Pfizer não vai se responsabilizar por eventuais efeitos adversos, e ainda pediu que os país levem os filhos ao médico imediatamente caso tenham sintomas após serem vacinados.
“Se o teu filho, após a vacina, tiver qualquer problema, não responsabiliza a Pfizer. A Pfizer fez a vacina e está aí sendo testada –como a própria Pfizer diz– que tem certos efeitos colaterais que vamos tomar conhecimento ao longo de 2022, 23 e 24, por aí afora. Então a Pfizer não se responsabiliza por efeito colateral”, disse ele, sem mostrar qualquer evidência que embase essas considerações.
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Na transmissão, o presidente disse que, pelo fato de a imunização não ser obrigatória, nenhum prefeito ou governador poderá impedir crianças de serem matriculadas nas escolas por falta de vacina, uma vez que a imunização não é obrigatória.
Em uma nota de repúdio publicada após as declarações do presidente, a Sociedade Brasileira de Pediatria disse que a população não deve temer a vacina, mas, sim, a doença que ela busca prevenir.
“A vacina previne a morte, a dor, sofrimento, emergências e internação em todas as faixas etárias. Negar este benefício às crianças sem evidências científicas sólidas, bem como desestimular a adesão dos pais e dos responsáveis à imunização dos seus filhos, é um ato lamentável e irresponsável, que, infelizmente, pode custar vidas”, afirmou.
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Decisão
O Ministério da Saúde divulgou na quarta-feira o cronograma de chegada das vacinas da Pfizer para a faixa etária de 5 a 11 anos, 20 dias depois de a Anvisa ter aprovado o uso do imunizante, que tem uma dosagem menor que a dos adultos.
Dada a resistência do presidente, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, criou uma consulta pública via internet e uma audiência pública para debater as diretrizes da vacinação infantil, o que atrasou ainda mais o início do processo, que deve começar somente na segunda quinzena de janeiro.
Por pressão de Bolsonaro, o ministério queria impor a necessidade de prescrição médica e autorização por escrito dos pais para a aplicação da vacina nas crianças. Com o resultado da consulta pública, em que a vasta maioria das pessoas foi contrária, e da audiência, onde especialistas e secretários de Saúde deixaram claro que a medida era inviável, o ministério voltou atrás.
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Ainda assim, durante a entrevista onde foram anunciadas as medidas, a secretária de combate à Covid-19, Rosane Melo, ajudou a semear dúvidas ao dizer que seria “imprescindível” que os pais consultassem um médico antes da vacinação. A medida não é necessária, segundo especialistas, nem será obrigatória.
Em sua fala na rádio, Bolsonaro diz para a população não se deixar levar por “propaganda” – que na verdade não existe no caso de vacinas – e insinua que podem existir efeitos colaterais desconhecidos na vacinação infantil.