Em sabatina, Bolsonaro defende ações de seu governo pelas mulheres

Presidente rebateu críticas a seu discurso de 7 de Setembro; analistas políticos alertam que falas podem dificultar conquista do público feminino.

Equipe InfoMoney

O presidente Jair Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, durante desfile cívico-militar do 7 de Setembro (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O presidente Jair Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, durante desfile cívico-militar do 7 de Setembro (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, defendeu as ações de seu governo em favor do público feminino. Em sabatina realizada nesta quinta-feira (8), pelo jornal Correio Braziliense, o presidente questionou as críticas ao seu comportamento em relação ao tema e disse que “sente uma postura diferente das mulheres que encontra na rua”. Cientistas políticos têm alertado que falas de Bolsonaro, como as de 7 de Setembro, em que ele usou termos como “imbrochável”, podem vir a prejudicá-lo junto ao eleitorado feminino.

“Nós já sancionamos leis e outras medidas, mais de 70, em defesa da mulher. Ninguém fez isso. Acabei de sancionar uma lei sobre a laqueadura: era 25 anos [idade mínima], passou para 21. E a mulher casada não tem que pedir autorização do marido e [o procedimento] pode ser feito imediatamente. É um tremendo avanço. A mulher que tem dois filhos e não quer ter mais, ela que faça uma laqueadura. Porque homem é machão e tem medo de fazer vasectomia achando que vai brochar, vai deixar de ser imbrochável”, disse, se referindo à lei sancionada por ele no início do mês sobre medidas contraceptivas no sistema público de saúde e repetindo termo utilizado em discurso no 7 de Setembro.

Na sabatina, disponível em vídeo, o presidente ainda citou o Auxílio Brasil e a entrega de títulos de terras rurais como medidas que beneficiam, em 80% dos casos, mães de família. Ele disse que seu governo endureceu a pena para agressores de mulheres e viabilizou a criação de um cadastro de estupradores para ajudar na investigação de crimes.

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Na avaliação de cientistas políticos, as declarações de Bolsonaro no 7 de Setembro, como aquela em que ele insinuou uma comparação da primeira-dama Michelle com a esposa de seu principal adversário na disputa pelo Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), podem contribuir para ampliar a rejeição do presidente entre as mulheres.

Em conversas extraoficiais trazidas pela coluna Painel, da Folha de S.Paulo, entretanto, a equipe de campanha do presidente Bolsonaro avalia que o uso do termo “imbrochável” pelo presidente afeta menos os votos do candidato à reeleição do que um possível ataque ao Supremo Tribunal Federal (STF) ou uma postura mais agressiva junto à sua base de apoiadores.

O cientista político Carlos Melo, professor do Insper, lembra que Bolsonaro já comparou Michelle à esposa de Emmanuel Macron, presidente da França. “Não é legal, não pega bem.” Para Melo, o presidente tem dificuldade de compreender as mulheres que não são conservadoras. “Existe um contingente grande de mulheres que são modernas, têm uma enorme dificuldade para tocar a vida, e não são princesas. Ele acha que o seu ideal de mulher, ou aquilo que ele tem, seja norma. Para um país que é diversificado, para uma sociedade que é ampla. Um erro”, afirmou.

Vitor Oliveira, cientista político e sócio-diretor da consultoria Pulso Público, avalia que o presidente Bolsonaro e seus apoiadores, no geral, não conseguem dialogar com uma parte grande das mulheres. “Dialoga sim, de maneira muito intensa, com um grupo de mulheres que é bastante importante na sociedade e que de uma certa forma se associam aos valores que o bolsonarismo traz consigo: um conservadorismo, uma visão até um pouco patriarcal da sociedade”, disse.

Oliveira citou que a primeira-dama tem ficado cada vez mais exposta à medida que Bolsonaro a usa para tentar dialogar com o eleitorado feminino. “Os esforços que têm sido feitos não diminuem esse gap. Eles estão muito mais no sentido de tentar ir na margem do que atualmente é a base do presidente e evitar que, por exemplo, mulheres evangélicas acabem votando no Lula. Me parece que é muito mais isso do que efetivamente conquistar um eleitorado feminino maior do que o que o presidente tem”, afirmou o cientista político.

Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper, fala que as mensagens truncadas de Bolsonaro com o eleitorado feminino podem se refletir nas pesquisas de intenção de voto, de forma negativa à campanha de reeleição do presidente, conforme o pleito se aproxima. “A gente percebe claramente um problema do ponto de vista da comunicação do presidente com esse eleitorado feminino. Isso é uma dificuldade dele. (…) Ele precisa se aproximar das mulheres, só que essa comunicação é truncada (…).”

“Isso não tem problema para a base social dele. A base social dele acha esse discurso correto, bacana, interessante. Só que ele não consegue avançar para um eleitorado feminino que não é típico da base social dele. E isso pode inclusive custar a ele pontos importantes nas pesquisas. Pode custar a ele votos importantes na eleição. Sobretudo se a gente pensar num eventual segundo turno. Cada vez que ele comete esse tipo de ‘sincericídio’, vamos chamar assim, cada vez que ele faz essas declarações ou toma essas atitudes, ele acaba dificultando a própria vida dele e a própria busca dele pela reeleição”, completou.

Pesquisas

Quando se fala em voto das mulheres, Bolsonaro tem tido uma performance, no geral, estável. Pesquisa Ipec divulgada nesta semana mostra que Bolsonaro tem 26% das intenções de voto entre o eleitorado feminino. No levantamento anterior, do final de agosto, ele tinha 29%.

Na pesquisa Datafolha divulgada em 1 de setembro, a intenção de voto em Bolsonaro entre as mulheres oscilou de 28% na semana anterior para 29%. Já a rejeição passou de 53% para 55%, ou seja, dentro da margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Foi o primeiro levantamento desde o debate entre os presidenciáveis organizado pelo Grupo Bandeirantes, no dia 28 de agosto, quando Bolsonaro foi criticado por ter se dirigido à jornalista Vera Magalhães de forma agressiva.

Na pesquisa Genial/Quaest, Bolsonaro tem se mantido estável nas intenções de voto do público feminino desde julho, oscilando dentro da margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. Em julho, 28% das mulheres entrevistadas disseram que votariam no atual presidente, mesmo percentual visto no levantamento de 3 de agosto.

Em 17 de agosto, o número aumentou para 30%, mas na sequência caiu para 29% em 31 de agosto. No entanto, Lula, seu principal adversário, também tem se mantido estável na pesquisa do Quaest, considerando apenas o eleitorado feminino, com 46% nos levantamentos de 3 e 17 de agosto, e 45% em 31 de agosto.