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Em uma mensagem gravada, já que está com o passaporte retido pela Justiça brasileira e não pode deixar o país, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não poupou elogios ao mandatário da Argentina, Javier Milei, na abertura de mais uma edição da CPAC (Conservative Political Action Conference – ou Conferência de Ação Política Conservadora, na tradução em português), nesta quarta-feira (4), em Buenos Aires.
Trata-se do principal fórum de debates envolvendo as forças políticas mais conservadoras em nível global. Desta vez, o anfitrião do encontro é o presidente da Argentina, Javier Milei, aliado de Bolsonaro e do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
No vídeo, exibido na abertura da conferência, Bolsonaro elogiou o governo do aliado argentino.
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“Prezado Javier Milei, meus cumprimentos pelo jeito que você está conduzindo essa nação e conseguindo ótimos resultados. Parabéns pelas medidas, às vezes salgadas, que você está tomando, que estão dando resultado”, disse o brasileiro.
“Nós fizemos no Brasil algo parecido com o que você está fazendo na Argentina, mas tivemos dois problemas: a pandemia e a guerra na Ucrânia. Nós também reduzimos a carga tributária e por três meses consecutivos tivemos deflação. Eu espero que a Argentina continue nessa linha. Os problemas vão aparecendo, mas vamos driblando”, prosseguiu Bolsonaro, comparando a gestão de Milei ao seu governo no Brasil (entre 2019 e 2022).
“A volta de Donald Trump [nos EUA] nos dá forças. Ele já reclamou da anistia do filho do [Joe] Biden, sugeriu que também haveria anistia aos invasores do Capitólio, o que nos leva a defender que também exista anistia aos patriotas que saíram às ruas em 8 de janeiro no Brasil”, completou Bolsonaro, reiterando sua defesa de uma anistia aos condenados pelos ataques às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023.
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Em seu discurso, o ex-presidente da República aproveitou para agradecer a Milei por ter “recebido” vários condenados pelo 8 de janeiro que fugiram para a Argentina – e pediram refúgio ao país. “Lutamos pela anistia dessas pessoas”, disse o ex-presidente.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), rival de Bolsonaro, encaminhou ao país vizinho pedidos de extradição de 63 foragidos que participaram dos atos de 8 de janeiro do ano passado em Brasília (DF). Na ocasião, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto foram invadidos e depredados.
Golpe de Estado
Em sua fala exibida na CPAC, Jair Bolsonaro voltou a afirmar que é alvo de uma perseguição jurídica no Brasil. O ex-presidente é um dos 37 indiciados no inquérito da Polícia Federal (PF) que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado no país, no fim de 2022, com o intuito de evitar a posse de Lula. Bolsonaro também é alvo dos inquéritos sobre a suposta fraude em cartões de vacinação e sobre as joias sauditas.
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“Não houve golpe. Nós apenas conversamos sobre hipóteses constitucionais, mas Lula da Silva quer dizer que eu tentei dar um golpe de Estado”, disse Bolsonaro. “Temos um juiz na Suprema Corte que não segue o devido processo legal. Ele se faz de vítima. E por isso não tenho meu passaporte. Mas espero que me devolvam para eu poder comparecer na posse do Trump, que me convidou”, completou o ex-presidente, referindo-se ao ministro Alexandre de Moraes, do STF.
CPAC em Buenos Aires
Além de Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o filho “02” do ex-presidente, também participará da CPAC e deve discursar.
O estrategista político Steve Bannon, muito ligado a Trump e à extrema-direita americana, também é aguardado no encontro conservador, participando por videoconferência. Outro que confirmou presença é o advogado e comentarista político americano Ben Shapiro.
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A CPAC em Buenos Aires também deve receber o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo; a ministra da Segurança do país, Patricia Bullrich; Santiago Abascal, líder da extrema-direita na Espanha; e Eduardo Velástegui, representante da direita mais radical no México. Também devem comparecer políticos conservadores de países como Uruguai, Chile, Peru e Bolívia.
O tema da edição “argentina” da CPAC é: “Defendendo a liberdade, a soberania nacional e valores tradicionais no futuro da América Latina”.
Segundo especialistas, a reunião deve se tornar um palanque políico para Javier Milei, que vem tentando consolidar a imagem de grande líder conservador regional e uma das referências da direita mundial. Ele se aproximou recentemente de Trump, com quem vem construindo uma boa relação.
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Na Cúpula de Líderes do G20, no Rio de Janeiro (RJ), no mês passado, Milei esboçou ficar de fora da declaração final do encontro, mas acabou cedendo na última hora e autorizou os representantes do governo argentino a assinarem o documento.
A CPAC teve origem nos EUA, em 1974, em meio à crise política no país em função do escândalo de Watergate, que culminou na renúncia do então presidente Richard Nixon. Naquela época, um dos principais lemas do evento era a “defesa da Constituição” americana, em um momento de forte polarização política e embates entre movimentos sociais e de defesa de minorias e grupos mais conservadores.
Em sua história cinquentenária, a CPAC já contou com a participação de ex-presidentes dos EUA como Ronald Reagan, George W. Bush e o próprio Donald Trump, todos do Partido Republicano.
O evento chegou ao Brasil em 2019, por iniciativa de Eduardo Bolsonaro, durante o primeiro ano de governo de Jair Bolsonaro.