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Os atos do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Dia da Independência, em Brasília e no Rio de Janeiro, foram mais uma demonstração de força do mandatário e capacidade de mobilização de sua base eleitoral, mas também explicitaram dificuldades de avanços em direção a outras faixas da população que hoje declaram opções distintas de voto no pleito de outubro.
É o que avaliam analistas políticos consultados pelo InfoMoney. Para muitos deles, as manifestações do 7 de Setembro não produziram fatos novos capazes de mudar o curso da disputa pelo Palácio do Planalto e, de quebra, podem trazer riscos jurídicos adicionais à campanha de Bolsonaro pela apropriação política de uma solenidade oficial.
“O tamanho das manifestações surpreendeu”, observa Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper. “Foi um recado do presidente de que ele tem uma base social relevante, não está isolado do ponto de vista da população. Ele fez a convocatória dos atos e teve essa resposta da sua base social”.
Para o especialista, Bolsonaro pode ter conseguido uma boa fotografia dos atos ao garantir a presença de sua base social, mas não avançou ao eleitor localizado mais ao “centro” do espectro ideológica. A avaliação é que o mandatário não fez concessões suficientes em seus discursos.
“Pelo tom dos discursos, percebemos que ele pregou para convertidos, falando aos seus próprios apoiadores – o que é interessante, sobretudo para pavimentar caminho para o segundo turno, mas que não amplia em nada sua base social, política e o nível de apoio popular. Ele não vai ganhar as eleições só com sua base, precisa ampliar isso”, afirma.
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O cientista político Vitor Oliveira, sócio-diretor da consultoria Pulso Público, reconhece que as manifestações foram grandes, mas diz que dentro do que se esperava pelos esforços mobilizados ao longo dos últimos dias e da proximidade das eleições.
“[Os atos] Foram grandes e mostram como, de fato, existe uma parcela considerável da população que não apenas tem a intenção de votar no presidente, mas que efetivamente se mobiliza. Isso é algo que, nos últimos 40 anos, só o bolsonarismo conseguiu fazer nesse polo mais à direita da política brasileira”, comenta.
Para a equipe de análise política da XP Investimentos, Bolsonaro cumpriu o script desenhado por sua campanha ao não atacar diretamente ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) em seus discursos e não colocar em dúvida a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro.
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“O desafio de Bolsonaro, contudo, tanto nas ruas quanto nas redes sociais, não era mobilizar sua própria base, mas sim dialogar com outros agrupamentos para além do bolsonarismo. Isso, no entanto, não aconteceu”, observam.
“Ao contrário, o presidente cometeu alguns deslizes, principalmente ao se referir à primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e puxar coro para dizer que é ‘imbrochável’ – algo que repercutiu negativamente nas redes”, complementam.
Na avaliação dos especialistas, o mandatário “perdeu a oportunidade” de engajar eleitores com pautas que vão além de seu próprio núcleo, como o combate à fome, o Auxílio Brasil, a queda do desemprego, a redução da inflação ou o próprio Pix.
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Visão similar tem o cientista político Carlos Melo, professor do Insper. Para ele, os atos do Bicentenário da Independência representavam uma oportunidade para Bolsonaro criar um fato novo e tentar crescer em faixas de eleitores que hoje não o apoiam.
“O desafio era criar um fato novo e ganhar votos. Para ganhar votos, precisava entrar no eleitorado de Lula, Ciro, Simone e nos que ainda estão indecisos. Fez isso? Não. Ampliou em relação às mulheres, fatia mais importante do eleitorado? Não”, disse.
“Três déficits precisam ser considerados. O primeiro em relação ao eleitorado feminino. Ele foi grosseiro, não se comunicou para além da bolha. O segundo, o déficit da representatividade. Ele estava sozinho no palanque. Nem o [Arthur] Lira foi. Restou ele com Luciano Hang. E o último déficit é o uso da máquina pública. As TVs passaram a tarde inteira falando disso. Ele transformou a festa de 200 anos de Independência em um ato de campanha. Isso não pega para os eleitores dele, mas pega para quem não é eleitor dele. Mobilizou vários recursos para fazer um ato de campanha”, complementou.
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“Estruturalmente, o bolsonarismo não consegue dialogar com uma parcela importante do público feminino, e os esforços que têm sido feitos não diminuem esse hiato, eles estão muito mais no sentido de tentar ir na margem do que é a base do presidente e evitar que, por exemplo, mulheres evangélicas votem em Lula”, observa Vitor Oliveira.
Se por um lado Bolsonaro conseguiu atrair milhares de apoiadores para os atos, por outro também chamaram atenção as ausências dos chefes de outros Poderes na solenidade do Bicentenário da Independência, em Brasília. Os presidentes do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, não marcaram presença no evento.
O esvaziamento institucional foi ponto de atenção nas análises. “Isso demonstra duas coisas importantes: 1) temos uma crise institucional colocada, a partir de uma dificuldade de o Poder Executivo em dialogar e se aproximar das outras esferas; 2) os presidentes de instituições e Poderes anteciparam o que assistimos: o desfile e toda a celebração, que é de Estado, foi usada como evento de governo, sobretudo com características eleitorais”, pontua Consentino.
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“A ausência de outras lideranças políticas é uma sinalização de que a elite política brasileira está esperando o resultado das eleições para se posicionar. Ninguém que está do lado de Bolsonaro se afastou dele porque ele é um cabo eleitoral importante – e de fato é uma candidatura competitiva, a despeito do favoritismo de Lula. Há uma sinalização de que eles não estão com Bolsonaro para o que der e vier, e sim que, no caso de vitória de Lula, por exemplo, pode haver reposicionamento de uma pessoa como Arthur Lira”, avalia Vitor Oliveira.
Para o analista político Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria Integrada, o 7 de Setembro foi um “ato de campanha travestido de celebração do Bicentenário da Independência”, o que foi explicitado com as ausências dos demais chefes de Poderes.
O especialista destaca uma mudança na estratégia do discurso de Bolsonaro, que apostou menos no tensionamento institucional, apesar de alguns sinais ambíguos (como a promessa de enquadrar quem ele julga “jogar fora das quatro linhas” da Constituição), e mais no desgaste de seu principal adversário na disputa eleitoral: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Em contraposição a essa perda de ênfase na questão institucional, houve um forte foco na estratégia desgaste da oposição, por meio fundamentalmente de três elementos: corrupção, associação a governos autoritários na América Latina e agenda moral. São temas tradicionais da mobilização bolsonarista”, observa.
Apesar dos esforços, Cortez vê impactos eleitorais limitados do episódio. “Consigo enxergar efeitos pequenos para o cenário eleitoral. Dado que há uma cristalização muito alta do voto em Lula e Bolsonaro, não imagino mudança tão forte. É uma eleição em que os candidatos já têm uma imagem muito consolidada, é difícil trazer uma mensagem nova”, diz.
Em relatório enviado a clientes na quarta-feira (7), os analistas políticos da consultoria internacional de risco político Eurasia Group chegaram a uma avaliação similar. “De uma maneira geral, o evento de hoje não foi uma ameaça à segurança, como muitos temiam, mas um típico comício de campanha e deve ser interpretado como tal”, afirmam.
“Dada sua magnitude e a intensa cobertura midiática, ele provavelmente ajudará a mobilizar a base de Bolsonaro por uma ou duas semanas, e as pesquisas podem mostrar um aumento no apoio incondicional ao presidente. Mas a falta de novas mensagens ao público em geral, que tem se preocupado principalmente com a economia, significa que continua provável sua derrota nas eleições de outubro”, concluem.
Os analistas não acreditam que o evento foi um “turning point” e mantêm a probabilidade de 35% de vitória para Bolsonaro em um eventual segundo turno contra Lula.