Apoio a Lula chega ao pior patamar desde volta ao Planalto, mostra pesquisa

Mulheres, evangélicos e classe média puxam aumento da rejeição à atual administração poucos dias após falas de Lula sobre Israel e ato a favor de Jair Bolsonaro em São Paulo

Marcos Mortari

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista concedida no Palácio do Planalto (Foto: Ricardo Stuckert / PR)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista concedida no Palácio do Planalto (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) experimentou, em fevereiro, o pior momento para a avaliação de sua administração desde que retornou ao Palácio do Planalto para um terceiro mandato presidencial, em janeiro de 2023. É o que mostra pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (6).

Segundo o levantamento, realizado entre os dias 25 e 27 de fevereiro, com uma amostra de 2 mil eleitores, 35% dos entrevistados consideram o governo atual “positivo” − oscilação negativa de 1 ponto percentual em relação ao mês anterior, em movimento que confirma uma tendência de queda desde o pico de 42% em agosto. É o patamar mais baixo desde que Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto pela segunda vez.

Já as avaliações negativas saltaram de 29% para 34% em um mês, renovando máxima no atual mandato presidencial. A diferença de 1 p.p. para a aprovação é também a menor entre os dois indicadores, o que aponta para um momento mais desafiador para a administração petista em um ano em que aliados buscarão apoio nas eleições municipais. A margem máxima de erro da pesquisa é de 2,2 pontos.

De acordo com o levantamento, 35% dos eleitores afirmam que o governo Lula pior do que eles esperavam, contra 27% que dizem o contrário. Um ano atrás, esses grupos representavam 18% e 33% dos entrevistados, respectivamente. Já os que dizem que a atual administração não está nem melhor, nem pior, oscilaram de 38% para 36% de fevereiro de 2023 para cá. Mesmo assim, a maioria (47%) ainda consideram o governo petista melhor que o de Jair Bolsonaro (PL).

Considerando segmentos da população, a pesquisa Genial/Quaest mostrou uma disparada na rejeição a Lula entre o eleitorado evangélico, saindo de 36% em janeiro para atuais 48%. As avaliações positivas neste grupo, por outro lado, minguaram de 27% para 22% no período. Ao contrário dos católicos, em que a aprovação permaneceu praticamente estável (42% contra 41% em janeiro).

Vale a ressalva de que, como os evangélicos representam apenas 31% da amostra, a margem de erro neste caso é maior − o que justificaria oscilações mais significativas de uma pesquisa para outra −, mas o movimento observado supera tais limites e ocorre logo após declarações de Lula comparando as ações de Israel em Gaza ao Holocausto.

O levantamento também ouviu a avaliação dos eleitores sobre o trabalho que Lula está fazendo desde que retornou ao comando do Poder Executivo. Segundo a pesquisa, 51% aprovam e 46% desaprovam − também a menor distância entre os indicadores, que era de 11 pontos percentuais em janeiro e chegou a bater 28 p.p. um ano atrás.

Olhando o eleitorado de forma segmentada, um dos grupos que mais contribuiu para a piora na avaliação de Lula foi o das mulheres. Segundo a pesquisa, a aprovação à atual administração recuou de 55% para 51% entre as eleitoras em um intervalo de um mês, no pior patamar do Lula III. A desaprovação, por outro lado, avançou de 41% para 45%.

Considerando as estratificações por região, Lula manteve forte apoio no Nordeste, onde a aprovação oscilou de 70% para 68% neste intervalo de um mês. Movimento muito distinto ao observado no Sudeste e no Sul, regiões em que a rejeição avançou de 47% para 52% e de 51% para 57%, no pior desempenho do petista no terceiro mandato.

Entre os estratos de renda, Lula só tem aprovação maior do que rejeição no eleitorado com renda familiar mensal de até 2 salários mínimos (61% contra 36%) − resultado que repete o padrão de votação do petista na eleição presidencial de 2022.

A pesquisa também mostra que, até janeiro, Lula mantinha aprovação superior à rejeição entre eleitores com renda familiar mensal entre 2 e 5 salários mínimos (52% a 46%). Mas o quadro virou no último levantamento, com os eleitores descontentes passando para 52%, contra 45% de satisfeitos.

O padrão é o mesmo observado por nível de escolaridade. Lula manteve apoio majoritário entre eleitores com até o Ensino Fundamental completo (59% de aprovação contra 38% de reprovação) − embora as visões positivas também tenham recuado 6 pontos percentuais em um mês, na mesma proporção do avanço das negativas.

Assim como no caso de eleitores de classe média, pela primeira vez a rejeição ao atual governo superou numericamente a aprovação entre o grupo com Ensino Médio completo ou incompleto: 50% contra 48%, em diferença dentro da margem de erro. Já entre os mais escolarizados, com Ensino Superior completo ou mais, a rejeição somou 53%, e a aprovação ficou em 45%.

Como foi feita a pesquisa?

A pesquisa Genial/Quaest foi realizada entre os dias 25 e 27 de fevereiro − portanto, no calor das manifestações a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista, em São Paulo. Foram ouvidos para o levantamento 2.000 brasileiros com 16 anos ou mais, de todas as regiões do país.

A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas face a face, através da aplicação de questionários estruturados. O nível de confiança da pesquisa é de 95%, o que significa dizer que, se ela tivesse sido feita mais de uma vez, sob as mesmas condições, esta seria a probabilidade de o resultado se repetir dentro da margem de erro.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.