Avaliação de Haddad melhora no mercado, mas investidores mantêm pé atrás sobre agenda fiscal, diz pesquisa

Melhora na reputação do ministro não foi suficiente para mudar percepção negativa da maioria dos agentes econômicos sobre trabalhos da pasta

Marcos Mortari

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) (Foto: Washington Costa/MF)
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) (Foto: Washington Costa/MF)

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Recém completados 150 dias desde sua indicação para comandar o Ministério da Fazenda do governo Lula, Fernando Haddad (PT) passou a contar com maior simpatia do mercado financeiro em comparação com dois meses atrás. É o que mostra pesquisa Genial/Quaest com 92 representantes de fundos de investimentos com sedes em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Segundo o levantamento, a melhora na reputação do ministro, no entanto, não foi suficiente para subverter a percepção negativa da maioria dos agentes econômicos sobre seu trabalho à frente de uma das pastas mais importantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O estudo mostra que as avaliações positivas da Faria Lima e do Leblon sobre a gestão de Haddad mais que dobraram de março para cá, passando de 10% para 26% dos entrevistados.

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No mesmo período, as impressões negativas oscilaram negativamente em 1 pontos percentual, para 37% – mesmo patamar das avaliações regulares, que no último levantamento haviam somado 52%.

Leia também: Após semana de derrotas no Congresso, mercado vê menor capacidade do governo em aprovar agenda, diz Genial/Quaest

O movimento coincide com vitórias relevantes de Haddad no governo e com o anúncio de medidas foçadas na busca do saneamento das contas públicas. A principal delas é o projeto de lei complementar do novo arcabouço fiscal, que estabelece um limite para a evolução de despesas públicas dependendo da dinâmica das receitas e cria metas de resultado primário para os quatro anos do mandato presidencial.

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No período também houve o anúncio de medidas de recomposição da base fiscal do Estado a partir do incremento de receitas. Algumas ainda dependem da aprovação pelo Congresso Nacional, como o retorno do chamado “voto de qualidade” a favor da União no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf) e a impossibilidade de inclusão do ICMS na base de cálculo de créditos do PIS e da Cofins.

Outras já contam com decisão favorável no Poder Judiciário – mesmo que com divergências de interpretação quando aos efeitos, como a impossibilidade de incentivos fiscais do ICMS para custeio saírem da base de cálculo do IRPF e da CSLL, decidida há duas semanas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Mesmo com as medidas, o pessimismo dos investidores ouvidos pela pesquisa é persistentemente elevado. Para 90%, a política econômica do país caminha na direção errada. Dois meses atrás eram 98%. Já os que estão de acordo com as escolhas feitas subiram de 2% para 10%.

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Para 61%, a economia brasileira vai piorar nos próximos 12 meses (em março eram 78%). Os que esperam melhora foram de 6% para 14%, enquanto os que apostam em manutenção do cenário subiram 10 p.p., para 26%.

O grupo que vê riscos de recessão no país neste ano recuou de 73% para 40%. Mas saltou de 68% para 80% o percentual de investidores entrevistados que acreditam que o governo não está preocupado com o controle da inflação.

Desconfiança com agenda

Do lado do novo marco fiscal, apenas 3% consideram o projeto de lei complementar (PLP 93/2023) entregue por Lula ao Congresso Nacional positivo. Outros 48% veem como negativo e 49%, regular.

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A esmagadora maioria (92%) acredita que o texto será aprovado pelo parlamento, mas poucos esperam mudanças significativas em termos de endurecimento do texto.

Dos pontos em discussão pelos parlamentares, apenas a retomada do contingenciamento de despesas por frustração de receitas é visto com melhores condições de aprovação, sendo apontada como “muito provável” por 40% dos entrevistados – 13 p.p. a menos do que os que veem chance regular, mas 32 p.p. a mais dos que classificam a aprovação como improvável.

Ainda segundo a pesquisa Genial/Quaest, 87% acreditam que a política fiscal do governo Lula não vai gerar sustentabilidade da dívida pública – eram 90% em março. E boa parte disso passa pela percepção de dificuldades na batalha contra os chamados gastos tributários. Para 67%, a atual administração não será capaz de conduzir tal agenda, a despeito do discurso levantado pela equipe econômica.

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De acordo com o levantamento, 96% dos investidores institucionais consultados são favoráveis à revisão de renúncias fiscais proposta por Haddad e 70% veem efeitos positivos com a medida, mas apenas 7% esperam um ganho de arrecadação superior a R$ 100 bilhões, como espera o ministro.

Para a maioria (38%), seria possível conseguir receitas adicionais entre R$ 50 bilhões e R$ 70 bilhões, montante considerado insuficiente pela equipe econômica para zerar o déficit primário em 2024 e atingir um superávit de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) no último ano do terceiro mandato presidencial de Lula. Outros 36% esperam um impacto inferior a R$ 50 bilhões para as contas públicas.

Esta foi a segunda edição da pesquisa “O que pensa o mercado financeiro”, que contou com 92 entrevistas com gestores, economistas, analistas e tomadores de decisão do mercado financeiro de fundos de investimentos com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro entre os dias 4 e 8 de maio.

A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas online através da aplicação de questionários estruturados.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.