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(Reuters) – Equipes de resgate continuaram nesta terça-feira (07) as buscas por pessoas que permanecem isoladas devido às enchentes devastadoras que atingiram o Rio Grande do Sul, com ao menos 95 mortos e 131 desaparecidos, enquanto sobreviventes enfrentam escassez de alimentos e suprimentos básicos.
Nos arredores de Eldorado do Sul, a 17 quilômetros da capital Porto Alegre, muitas pessoas dormiam na beira da estrada e disseram à Reuters que estavam passando fome. Famílias inteiras saíam a pé, carregando pertences em mochilas e carrinhos de compras.
“É muito triste isso. Eu nunca vi uma coisa dessa. Eu acho que isso é um sinal para o pessoal ser mais humano. Não sei o que está acontecendo nesse mundo”, disse Moacir Egídio à Reuters, aos prantos, na beira de uma estrada próxima a Eldorado do Sul.
Pequenas embarcações podiam ser vistas atravessando a cidade alagada em busca de mais sobreviventes, que incluíam famílias inteiras com suas bagagens carregadas em mochilas e até carrinhos de supermercado.
“Eu estou com pessoas desconhecidas aqui. Não sei onde está a minha família”, afirmou Ricardo Junior.
As inundações dificultaram os esforços de resgate, com dezenas de pessoas ainda à espera de serem retiradas de barco ou helicóptero das casas atingidas.
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De acordo com a Defesa Civil, 401 de 497 municípios gaúchos foram afetados pelos eventos climáticos, com mais de 159 mil pessoas desalojadas, sendo mais de 48 mil em abrigos.
As chuvas provocaram cheias em rios que alagaram completamente as cidades, além de destruírem estradas e pontes. Afetaram ainda os serviços de fornecimento de água, energia elétrica e telefonia para centenas de milhares de pessoas.
Os eventos climáticos afetaram no total mais de 1,4 milhão de pessoas, segundo a Defesa Civil.
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A previsão é de que a chuva diminua até quinta-feira, mas retorne com força na sexta-feira e permaneça durante o fim de semana.
Especialistas em clima atribuíram as chuvas extremas no Rio Grande do Sul à confluência de fatores: uma onda de calor causada pelo fenômeno El Niño deste ano, que aquece as águas do Pacífico e traz chuvas para o sul do Brasil; uma frente fria com chuvas e vendavais vindos da Antártica; e o calor incomum no Atlântico, que também aumenta a umidade.
O aquecimento global agrava esses fenômenos e intensifica os efeitos entre esses sistemas, tornando o clima imprevisível, disse Marcelo Schneider, pesquisador do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
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Desabastecimento
Em Porto Alegre, as ruas do centro ficaram submersas depois que o rio Guaíba transbordou com níveis recordes de água. Moradores encontraram prateleiras de supermercados vazias e postos de gasolina fechados, com lojas racionando a venda de água mineral. A cidade distribuiu água em caminhões para hospitais e abrigos.
As inundações também impactaram os serviços de água e eletricidade. Quase meio milhão de pessoas ficaram sem energia em Porto Alegre e em cidades periféricas, pois as companhias elétricas cortaram o fornecimento por razões de segurança nos bairros inundados.
O aeroporto de Porto Alegre, com a pista submersa, suspendeu todos os voos desde sexta-feira, e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) suspendeu os jogos dos três times do Estado — Grêmio, Internacional e Juventude — até o fim do mês.
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse no programa “Bom dia, presidente!” desta terça-feira, no CanalGov, que só será possível saber o tamanho dos estragos causados pelas chuvas no Estado quando as águas baixarem.
Lula reiterou que não faltará apoio do governo federal ao Rio Grande do Sul para o que está sendo considerado o pior desastre climático da história do Estado.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, anunciou que o governo federal está preparando uma medida provisória para autorizar a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a importar 1 milhão de toneladas de arroz, com o objetivo de evitar impactos nos preços do cereal, já que muitas lavouras do Rio Grande do Sul foram atingidas por enchentes.
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Também nesta terça-feira o Senado aprovou o projeto de decreto legislativo que reconhece o estado de calamidade no Rio Grande do Sul devido às fortes chuvas, o que possibilitará o envio de recursos federais ao Estado sem que isso afete a meta fiscal do governo. Aprovada pela Câmara dos Deputados na véspera, a proposta segue para sanção presidencial.
Economistas do JP Morgan projetaram que o impacto das enchentes na economia do Brasil seria uma redução modesta no crescimento do PIB e um aumento marginal na inflação, principalmente devido aos preços mais elevados do arroz, que é amplamente produzido no Rio Grande do Sul.
Além de destruir infraestruturas críticas, as fortes chuvas e as inundações deixaram os campos de cereais submersos e mataram o gado, interrompendo a colheita da soja e paralisando o trabalho em vários frigoríficos.
O porto de Rio Grande, importante para exportação de grãos, estava operando normalmente, disse a autoridade portuária do Estado. No entanto, as principais estradas de acesso estavam intransitáveis, perturbando as entregas de cereais ao porto, uma vez que caminhões tiveram de fazer um grande desvio, disseram os exportadores.