Assédio no governo: bancada feminina do Senado pede investigação “célere e rigorosa”

No comunicado, assinado pela senadora Leila Barros (PDT-DF), a bancada feminina manifesta “profunda preocupação” com o suposto assédio sexual que teria vitimado a ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial

Fábio Matos

Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial (Foto: Flickr/MIR)
Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial (Foto: Flickr/MIR)

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A bancada feminina do Senado Federal, cuja liderança é da senadora Leila Barros (PDT-DF), divulgou nota, nesta sexta-feira (6), sobre as denúncias de suposto assédio sexual envolvendo o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida.

Na quinta-feira (5), a ONG Me Too Brasil confirmou que recebeu denúncias de que Almeida teria assediado mulheres, que se mantiveram sob anonimato. Os casos teriam ocorrido no ano passado e uma das vítimas seria a ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial.

Silvio Almeida, por meio de uma nota oficial e de um vídeo publicado nas redes sociais, negou, peremptoriamente, as acusações e prometeu colaborar com as investigações.

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O caso será investigado pela Controladoria-Geral da União (CGU), pela Advocacia-Geral da União (AGU) e pela Polícia Federal (PF). A Comissão de Ética Pública da Presidência também se reúne, nesta sexta, de forma “extraordinária”, para tratar do assunto.

No comunicado, assinado por Leila Barros, a bancada feminina do Senado manifesta “profunda preocupação” com o suposto assédio sexual que teria vitimado Anielle.

“Reconhecendo a seriedade da acusação, reforçamos a necessidade de uma investigação célere, transparente e rigorosa, que garanta a imparcialidade e o respeito aos direitos de todas as partes envolvidas”, diz o texto das senadoras.

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“É fundamental que as vozes das mulheres que denunciam sejam ouvidas, acolhidas e respeitadas, assim como deve ser assegurado o direito de defesa ao ministro Silvio Almeida. Nosso compromisso é com a justiça e com a proteção de todos os direitos, sem exceções”, prossegue a nota.

“A Bancada Feminina do Senado permanecerá atenta e firme na defesa de uma sociedade em que todas as mulheres possam viver livres de violência e assédio. Manifestamos, ainda, nossa solidariedade às mulheres que, com coragem, decidiram trazer suas denúncias a público”, diz o texto.

Conversa com Lula pode selar demissão

Mais cedo, em entrevista à Rádio Difusora, de Goiânia (GO), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu fortes indicações de que a situação de Silvio Almeida no governo é insustentável.

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“Eu fiquei sabendo disso ontem. Pedi ao advogado-geral da União [Jorge Messias], ao controlador-geral da República [Vinícius Marques de Carvalho] e ao ministro da Justiça [Ricardo Lewandowski] que conversassem com as pessoas até eu chegar [a Brasília] hoje. O que eu posso antecipar para você é o seguinte: alguém que pratica assédio não vai ficar no governo”, afirmou Lula.

“É preciso que a gente permita o direito à defesa, à presunção de inocência de quem tem direito de se defender. Nós vamos colocar a Polícia Federal, o Ministério Público e a Comissão de Ética da Presidência da República para investigar”, prosseguiu o presidente.

“Eu estou em uma briga danada contra a violência contra as mulheres. Meu governo tem a prioridade de fazer com que as mulheres se transformem definitivamente em uma parte importante da política nacional. Então, eu não posso permitir que tenha assédio”, disse Lula.

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O presidente confirmou que terá conversas, nesta tarde, com o próprio Silvio Almeida e com Anielle Franco. Depois de ouvir auxiliares e pareceres da Comissão de Ética Pública da Presidência, o petista deve decidir o que fazer.lítica nacional. Então, eu não posso permitir que tenha assédio”, disse Lula.

“Nós vamos ter que apurar corretamente, mas eu acho que não é possível a continuidade no governo porque o governo não vai fazer jus ao seu discurso de defesa das mulheres e dos direitos humanos com alguém que esteja sendo acusado de assédio”, afirmou Lula.

“É isso que eu vou decidir hoje à tarde. O governo precisa de tranquilidade. O país está indo bem”, continuou o presidente. “Não vou permitir que um equívoco de alguém vá prejudicar o governo. Nós queremos paz e tranquilidade. Assédio não pode coexistir com a democracia e o respeito aos direitos humanos.”

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”