Após desistir de eleição na Câmara, Pereira diz que Lula não se opõe a Hugo Motta

Questionado sobre a reação de Arthur Lira à sugestão do nome de Hugo Motta, Marcos Pereira disse que o presidente da Câmara “reforçou que tudo é uma questão de construção”

Fábio Matos

Marcos Pereira, deputado federal e presidente do Republicanos (Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados)
Marcos Pereira, deputado federal e presidente do Republicanos (Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados)

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Horas depois de anunciar oficialmente sua desistência do processo eleitoral para a presidência da Câmara dos Deputados, Marcos Pereira (Republicanos-SP) afirmou que o possível nome de consenso do grupo hoje predominante na Casa, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), não enfrenta “resistência” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em entrevista ao jornal O Globo, o presidente nacional do Republicanos disse ainda que Motta reúne melhores condições para unir o bloco parlamentar que deu sustentação aos dois mandatos de Arthur Lira (PP-AL) no comando da Câmara.

“Estive com Lula e comuniquei que o plano de apresentar o Hugo poderia gerar um consenso. Lula disse que não iria interferir no processo e não apresentou resistência”, revelou Pereira.

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“Ele [Lula] me disse que precisava conhecer o Hugo melhor e que o considerava muito jovem. Mas concordou com a minha escolha e disse que eu precisava apresentar este plano ao Lira também, mas que, por ele, não havia objeções. Sei que nem o Lira nem o Lula querem uma disputa”, afirmou o deputado.

Questionado sobre a reação de Arthur Lira à sugestão do nome de Hugo Motta, Marcos Pereira disse que o presidente da Câmara “reforçou que tudo é uma questão de construção”. “[Lira] Disse que precisava conversar com o Elmar [Nascimento, do União Brasil] e que ia trabalhar para viabilizar a solução que eu estava trazendo”, relatou Pereira. “Desde então, não conversei diretamente com Elmar. Mas o líder do processo de escolha é o Lira.”

Até então, Marcos Pereira era apontado como um dos três principais postulantes à presidência da Câmara, ao lado de Elmar Nascimento (União Brasil-BA) – que teria a preferência de Lira – e Antonio Brito (PSD-BA). Atualmente, Pereira é o primeiro vice-presidente da Câmara.
“É uma articulação complexa. O Lira colocou para mim que Elmar era o único candidato do seu bloco, enquanto eu tinha dois adversários no meu. Para ter o apoio dele, eu precisava de uma unidade. Cheguei a conversar com Brito e Isnaldo [Bulhões, do MDB] sobre o tema. Mas, na última hora, o Brito recuou. Apelei ao [Gilberto] Kassab, pedi ajuda ao Planalto e ao Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo] para que convencessem o Kassab. Em todas essas conversas, o Kassab dizia que não era o momento de fundir as candidaturas, que poderia ocorrer à frente”, narrou Pereira.

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“E o Lira tinha um prazo. Eu percebi que não teria tempo para virar o candidato dele neste prazo. Com base nisso, levei o nome do Hugo ao Arthur, já que líderes de vários partidos se diziam simpáticos ao nome dele.”

Inagado se Hugo Motta teria capacidade de unir o bloco, o presidente do Republicanos respondeu: “Ele tem uma relação mais antiga e sólida com os líderes do que eu. Conversei com todos os partidos”.

Desistência após “apelo”

O anúncio oficial da desistência foi feito pelo próprio Pereira, em nota divulgada na manhã desta quarta-feira (4). O parlamentar anunciou seu apoio à candidatura do deputado Hugo Motta (PB), líder do Republicanos na Câmara.

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“Recebi um apelo de vários líderes de partidos que não possuem candidaturas para que, em prol do Brasil, buscasse uma solução consensual que unifique a Câmara com serenidade, diálogo e previsibilidade”, afirmou Pereira, na nota divulgada nesta manhã.

“Diante deste cenário, abri mão de minha candidatura e decidi colocar ao presidente Arthur Lira a opção do líder da bancada do Republicanos, Hugo Motta, para que ele seja o nome de consenso entre todas as alas políticas do plenário”, anunciou o deputado.

No texto, o presidente do Republicanos diz ainda que “a candidatura à presidência da Câmara é uma construção coletiva com todos os líderes partidários e deputados” e afirma que tomou “uma decisão em prol da Câmara, de todos os deputados e do Brasil”. “Sou mais um entre os 513 [deputados]”, concluiu.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”