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SÃO PAULO – A última pesquisa Datafolha manteve a indicação de uma tendência de segundo turno entre o deputado Jair Bolsonaro (PSL) e o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT), mas deixou uma fresta para a possibilidade de um cenário alternativo ainda a 17 dias da corrida às urnas. Com Geraldo Alckmin (PSDB) patinando e Marina Silva (Rede) desidratando, quem volta a chamar atenção é Ciro Gomes (PDT).
Segundo o levantamento, Ciro aparece tecnicamente empatado com Haddad no primeiro turno e vence todos os adversários no segundo. O quadro é mais favorável para o pedetista em comparação ao apresentado no dia anterior pelo Ibope. No Datafolha, Haddad apresentou crescimento mais moderado e Ciro liderou como segunda opção de voto dos eleitores, com 15% das indicações, embora seus apoiadores estejam entre os menos convictos.
Para manter viva a esperança de ir ao segundo turno, Ciro precisa: 1) torcer para que o ritmo do crescimento de Haddad diminua nas próximas pesquisas e que a resiliência de suas intenções de votos se mantenha; 2) tentar ser beneficiado pelo chamado ‘voto útil’, já que é o candidato que hoje indica maiores chances de derrotar Bolsonaro no segundo turno. Os demais aparecem apenas tecnicamente empatados com o deputado.
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A combinação dos elementos alimenta especulações sobre a possibilidade de Ciro disputar uma vaga para o segundo turno sob perspectivas mais favoráveis. O pedetista seria uma alternativa no campo da esquerda à polarização entre antilulismo e antibolsonarismo, que hoje caminha para a consolidação. Mas, para obter êxito, também teria que crescer nas pesquisas. E de onde viriam os votos? Haveria apenas espaço na esquerda ou há faixas do eleitorado de centro-direita dispostas a alavancar sua candidatura?
Para tentar responder essas questões, é preciso observar a rejeição a Ciro entre eleitores que hoje declaram apoio a outros candidatos e a possibilidade de mudança nos votos a favor do pedetista entre esses grupos. Além de sinalizar maiores chances de derrotar Bolsonaro, Ciro pode se vender como alternativa ao cenário de disputa entre o parlamentar e Haddad, recusado por determinados eleitores de centro.
1) A tabela abaixo compara a rejeição dos dois principais nomes da esquerda entre eleitores de quatro candidatos:
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Candidato |
Rejeição ao candidato entre eleitores de: | ||||
Álvaro Dias | Geraldo Alckmin | Jair Bolsonaro | Marina Silva | Total | |
Ciro Gomes (PDT) | 47% | 66% | 92% | 67% | 56% |
Fernando Haddad (PT) | 58% | 65% | 90% | 65% | 57% |
Fonte: XP/Ipespe (BR-07277/2018)
2) A seguir, a capacidade de cada candidato herdar votos como segunda opção entre eleitores de adversários:
Segunda opção de voto | Transferência de votos ao candidato entre eleitores de: | |||
Jair Bolsonaro | Geraldo Alckmin | Marina Silva | Álvaro Dias 4 | |
Álvaro Dias (Podemos) | 10% (2 p.p.) | 8% (0,72 p.p.) | 4% (0,24 p.p.) | – |
Ciro Gomes (PDT) | 7% (1,4 p.p.) | 13% (1,17 p.p.) | 21% (1,26 p.p.) | 13% (0,52 p.p.) |
Fernando Haddad (PT) | 1% (0,2 p.p.) | 4% (0,36 p.p.) | 13% (0,78 p.p.) | 1% (0,04 p.p.) |
Geraldo Alckmin (PSDB) | 19% (3,8 p.p.) | – | 9% (0,54 p.p.) | 17% (0,68 p.p.) |
Henrique Meirelles (MDB) | 3% (0,6 p.p.) | 8% (0,72 p.p.) | 6% (0,36 p.p.) | 9% (0,36 p.p.) |
Jair Bolsonaro (PSL) | – | 15% (1,35 p.p.) | 10% (0,60 p.p.) | 25% (1 p.p.) |
Marina Silva (Rede) | 2% (0,4 p.p.) | 29% (2,61 p.p.) | – | 6% (0,24 p.p.) |
João Amoêdo (Novo) | 11% (2,2 p.p.) | 0% | 7% (0,42 p.p.) | 2% (0,08 p.p.) |
Fonte: XP/Ipespe (BR-07277/2018)
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3) A tabela abaixo compara a migração de votos para Haddad e Ciro em cenários de segundo turno contra Bolsonaro e Alckmin:
Fonte: XP/Ipespe (BR-07277/2018)
Os cruzamentos mostram que Ciro tem leve vantagem na capacidade de herdar votos de outros candidatos em comparação com Haddad. As perspectivas, porém, não apontam para uma transferência suficiente a favor do pedetista, também muito rejeitado entre apoiadores de Alckmin e Marina. Se a tendência de crescimento de Haddad se mantiver, o quadro fica complicado para a “terceira via Ciro”, sobretudo com a possibilidade de o petista ultrapassar Bolsonaro na simulação de segundo turno das próximas pesquisas, mesmo que numericamente apenas, em condição de empate técnico.
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Para o cientista político Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores, o Datafolha abriu a possibilidade de Ciro Gomes tornar-se alternativa de “centro”, em detrimento à tendência de consolidação de um segundo turno entre Haddad e Bolsonaro. O especialista, porém, vê o pedetista correndo por fora, com muitos obstáculos a serem enfrentados. “Segundo a última pesquisa, existe [a possibilidade de Ciro ocupar esse espaço]. Mas, como Ciro também assusta muita gente, por ser da esquerda e pelo destempero, não dá para apostar muito nisso”, observou. Pelas condições atuais, a janela para uma terceira via na corrida presidencial ainda existe, mas é cada vez menor.
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