Invasão em Brasília traz paralelos com Capitólio nos EUA e reforça a visão de bolsonarismo radical

Analistas destacam ainda importância da reação do governo para conter os ataques a sede dos Três Poderes, sendo o primeiro grande teste depois da posse

Giovanna Sutto Marcos Mortari

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Na tarde deste domingo (8), bolsonaristas golpistas conseguiram furar o bloqueio montado pelas forças de segurança e pela polícia militar e invadiram Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal, gerando cenas de vandalismo e depredação nas sedes dos Três Poderes.

Com isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decretou a intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal e informou que poderá requisitar meios necessários para retomar a ordem. A intervenção será comandada pelo secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, subordinado diretamente à Presidência da República. Acompanhe a situação no ao vivo sobre a invasão em Brasília.

Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores, destacou, em análise antes do decreto de Lula, que os atos reforçam a fragilidade da segurança dos palácios governamentais em Brasília. Para ele, a principal responsabilidade fica com o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB). Após a eclosão dos atos, Rocha demitiu Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo de Jair Bolsonaro (PL). Torres assumiu a chefia da Secretaria de Segurança do DF no último dia 2 e estava nos EUA.

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Embora alguns vejam os atos como ingrediente a enfraquecer o governo Lula, o especialista pondera que a nova gestão agora teria uma justificativa sólida para impor forte repressão a bolsonaristas radicais.

Além de legitimar ações mais enérgicas contra o grupo (provavelmente a partir de uma intervenção federal sobre a segurança pública no DF), os episódios também teriam potencial para isolar mais parlamentares bolsonaristas no Congresso Nacional, afirma.

Conforme destacou a equipe de análise da XP Política, as cenas de vandalismo com a invasão às principais instituições em Brasília — Congresso, Planalto e Supremo — levantaram de início a expectativa sobre a habilidade do novo governo em tomar as medidas necessárias para debelar rapidamente esses atos e retomar a normalidade.

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Integrantes do governo apontaram a necessidade de uma reação enérgica para reaver o controle da situação e evitar que cenas como essas se repitam no futuro.

Para os analistas da casa, mesmo que esses atos estejam partindo de apoiadores de Bolsonaro, não é possível dizer que seja algo que o fortaleça politicamente.

“Ao contrário. Na ausência do ex-presidente, que está nos Estados Unidos, esses atos radicais tendem a afastar o eleitor médio — caso se repita o que foi medido durante a campanha em relação a atos mais radicais partindo do presidente ou de seu entorno. Nesse sentido, os atos tendem a consolidar a imagem radical do grupo e dificultar a atuação do bolsonarismo como oposição institucional nos próximos quatro anos”, aponta.

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Para Mário Braga, analista sênior da consultoria Control Risks, o episódio tem paralelos com a invasão do Capitólio (o prédio do Congresso dos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021). O especialista, no entanto, destaca que a ação por aqui ocorre após a posse de Lula e seus ministros – o que reduz ainda mais o potencial risco institucional da investida de apoiadores de Bolsonaro.

Também na avaliação de Braga, o resultado das ações deste domingo em Brasília não indicam necessariamente uma maior adesão às manifestações de bolsonaristas.

Ele destaca que o esquema de segurança bem-sucedido implementado nos atos do 7 de setembro e na própria posse de Lula não se repetiu neste domingo. Este pode ser fator importante a compreender as invasões aos prédios públicos e a depredação de patrimônio.

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Para Braga, agora é importante monitorar o potencial contágio dos atos em outras partes do país e os riscos de novas manifestações nestes termos no futuro.

Também na visão de Carlos Eduardo Borenstein, da Arko Advice, a invasão não enfraquece o governo, até porque a extrema direita já está operando há muito tempo.

“Interessante lembrar que o Flavio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública, fez a recomendação para o Anderson Torres não fosse colocado como o secretário de segurança pública do DF e mesmo assim ele foi”.

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Borenstein aponta que, para o bolsonarismo, a repercussão é negativa porque as manchetes de toda a cobertura de jornalística taxam o movimento como radical e relacionado com terrorismo.

“A repercussão internacional é de notas de repúdio em favor da democracia brasileira e reforça percepção que se foi construído durante o governo Bolsonaro que de fato tinha sinais de que a democracia brasileira estava em risco, dentro do bolsonarismo”, avalia.

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Giovanna Sutto

Jornalista com mais de 6 anos de experiência na cobertura de finanças pessoais, meios de pagamentos, economia e carreira. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.