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SÃO PAULO – O sentimento “antipolítica” que domina os eleitores brasileiros neste momento pode ser bastante perigoso para o futuro do País, e a história da América Latina mostra isso. É o que diz matéria publicada pela The Economist na edição desta quinta-feira (28), que resume diversas das eleições que ocorreram na região desde os anos 90, quando o eleitorado buscou um nome de fora, o chamado “outsider”.
O texto, sob o título “o preço de eleger um salvador na América Latina”, destaca que México e Brasil estão enfrentando uma disputa eleitoral, sendo o primeiro já no próximo domingo. Em ambos os casos, o sentimento é muito parecido: diante de economias fracas, problemas diversos, entre violência e crise política, as pessoas querem um nome que fuja do tradicional.
No caso dos mexicanos, o nome que surge é o de Andrés Manuel López Obrador, que tem sido muito comparado com Lula. Ele já perdeu duas eleições no país, mas agora caminha para vencer com tranquilidade. “Obrador é da esquerda, mas é um pretenso salvador e não um social-democrata. Em vez de um futuro melhor, ele promete devolver o México a um passado melhor e mais seguro de governo forte e paternalista”, diz a Economist.
Já no caso do Brasil, o nome que ganha destaque é Jair Bolsonaro, que a a publicação define como um “ex-oficial do Exército grosseiramente autoritário, misógino e homofóbico”. Porém, no caso do nosso país, o fato de existir um segundo turno torna improvável que ele consiga ser eleito, afirma a revista britânica. “No entanto, o fato de ele ter uma chance é um sinal de tempos desesperados”, diz a matéria.
E é aí que o passado mostra que este pode ser um caminho perigoso para se seguir. Segundo a Economist, “não é a primeira vez que os latino-americanos se voltam, em caso de emergência, a pretensos salvadores”. O primeiro caso é o do Peru, que em 1990 elegeu Alberto Fujimori em um cenário de “insurgência terrorista, hiperinflação e colapso econômico”. Mas o que se viu, foi um político que fechou o Congresso, tirou direitos, mas mesmo assim foi reeleito em 1995.
A Economist lembra também da Venezuela, que diante do colapso do preço do petróleo nos anos 80 e 90, se afundou em uma grande crise. “Com raiva, os venezuelanos recorreram a um tenente-coronel do exército, Hugo Chávez, que liderou um golpe fracassado que cristalizou a desilusão popular com a ordem estabelecida”, diz a revista. Apesar de recuperar o país, os anos seguintes mostraram onde a economia venezuelana foi parar por conta de suas políticas.
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“Quando os eleitores escolhem candidatos que normalmente não escolheriam, as consequências negativas são duradouras”, afirma a Economist, citando a Venezuela, Colômbia e Peru, que caíram em um cenário de grande polarização política. Nos três casos, os países estão divididos, o que atrapalha para a melhora e para a eleição de um nome que realmente pode levar estas economias a uma recuperação.
Por fim, o texto diz que “essa polarização duradoura é o que pode enfrentar o México e o Brasil”. “É o alto preço que os países pagam quando o establishment político falha em suas funções mais básicas de proteger a vida dos cidadãos ou impedir o roubo de dinheiro público”, continua a matéria.
“Quando isso acontece, não é de surpreender que os eleitores procurem em outro lugar. Mas o problema com os salvadores é que, mais cedo ou mais tarde, os países têm que tentar se salvar deles”, conclui a publicação.
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