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A seis meses do primeiro turno das eleições municipais, alguns dos principais ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm começado a se envolver de forma mais direta nas disputas locais.
Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país e cidade considerada estratégica por Lula no embate com o campo político ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), pré-candidatos como o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) têm recebido ou se esforçado para receber apoios de figuras de destaque na Esplanda dos Ministérios.
O principal cabo eleitoral de Tabata, por exemplo, é o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB). O ex-governador de São Paulo já declarou, publicamente, que apoia Tabata para a sucessão de Nunes na capital paulista.
Alckmin chegou a ser pressionado pelo próprio Lula para se manter neutro na eleição de São Paulo, de modo que a base de sustentação ao governo federal não ficasse dividida na maior capital do país. O presidente apoia Boulos à prefeitura paulistana, e o PT indicou a ex-prefeita Marta Suplicy (que retornou recentemente à legenda) para compor a chapa como candidata a vice. Mesmo assim, Alckmin resistiu e cerrou fileiras com Tabata, sua colega de partido.
A deputada federal também conta com o apoio do ministro do Empreendedorismo, Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, Márcio França (PSB). Em 2020, o também ex-governador de São Paulo disputou a prefeitura da capital, mas terminou apenas na terceira colocação, fora do segundo turno, superado por Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL).
França alimenta o sonho de concorrer novamente ao governo do estado em 2026. Depois de assumir o cargo de governador em 2018, com a saída de Alckmin (então ainda no PSDB) para disputar a eleição presidencial, França foi derrotado no segundo turno do pleito daquele ano por João Doria (PSDB). Há, ainda, a possibilidade de o atual ministro se lançar ao Senado em 2026.
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Boulos e Tabata “disputam” ministro da Educação
Correndo praticamente na mesma raia eleitoral, disputando votos da esquerda e da centro esquerda, Boulos e Tabata participaram, na semana passada, de um evento com o ministro da Educação, Camilo Santana (PT) – no lançamento do programa Pé de Meia, em São Paulo, destinado a alunos de baixa renda do ensino médio.
Durante o anúncio, cada um ficou de um lado do chefe do MEC. Tabata é a idealizadora do Pé de Meia, projeto aprovado pelo Congresso Nacional e que se transformou em uma das bandeiras do governo Lula na área da educação. Apoiado pelo presidente da República, Boulos também fez questão de marcar presença no ato.
Na terça-feira (9), Boulos voltou a aparecer ao lado de uma ministro do governo, Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos). Nas últimas semanas, o pré-candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo também esteve com Sônia Guajajara, ministro dos Povos Indígenas e que foi candidata a vice de Boulos na eleição presidencial de 2018, e Marina Silva (Rede), ministra do Meio Ambiente.
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Tebet com Nunes
Filiada ao MDB e considerada o maior símbolo da chamada “frente ampla” que ajudou na vitória de Lula em 2022, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), declarou recentemente que apoiará o prefeito Ricardo Nunes em sua candidatura à reeleição em São Paulo.
Em entrevista à CNN Brasil, no início do mês, Tebet confirmou o apoio ao colega de partido, mas impôs uma condição: a de não subir no mesmo palanque de Bolsonaro, que também deve apoiar Nunes.
Ao justificar o apoio ao atual prefeito de São Paulo, Tebet classificou Nunes como “um democrata”. “Até agora, o Ricardo Nunes não me deu ainda nenhum motivo para não apoiá-lo. Obviamente, vou ver qual é a plataforma de governo dele, se ele vai continuar defendendo a democracia e os valores com os quais eu comungo. O que me recuso é subir em palanque de bolsonarista”, afirmou.
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Apesar de ser uma das principais lideranças do MDB em nível nacional, o apoio de Simone Tebet à candidatura de Ricardo Nunes era considerado uma incógnita até mesmo pelos aliados mais próximos do prefeito.
O apoio quase certo de Bolsonaro – que deve indicar o vice na chapa de Nunes – torna a situação de Tebet ainda mais delicada. Em 2022, após terminar em terceiro lugar no primeiro turno das eleições presidenciais (com 4,16% dos votos), a ex-senadora declarou apoio a Lula no segundo turno contra Bolsonaro e se engajou de forma decisiva na campanha do petista.
Na mesma entrevista à CNN, Tebet afirmou que Bolsonaro tentou dar um golpe de Estado no Brasil após ser derrotado em 2022. O ex-presidente é investigado pela Polícia Federal (PF) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
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Nunes, por sua vez, comemorou o apoio de Tebet e minimizou as declarações da ministra sobre Bolsonaro. Segundo o prefeito, “é absolutamente natural” que Tebet não queira subir no palanque com o ex-presidente. Nunes disse que sua candidatura representa uma “frente ampla” em São Paulo, que reúne “vários setores da política, com pensamentos diferentes, contra a extrema esquerda” – que seria personificada por Boulos.
“Existe uma frente ampla verdadeira em torno da nossa candidatura, e a Simone Tebet faz parte disso”, afirmou o prefeito. “Mas, como é uma frente ampla, vão ter setores que, às vezes, não concordam e não têm o mesmo posicionamento ideológico. É absolutamente natural que, em algum momento, ela venha a participar da campanha e escolha um momento em que não esteja presente o Bolsonaro. E vice-versa. É natural da democracia”, concluiu Nunes.
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