Alberto Fernández confirma favoritismo e é eleito o novo presidente da Argentina

Candidato da Frente de Todos supera atual presidente Mauricio Macri. Resultado marca volta de Cristina Kirchner ao poder, agora como vice

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Os argentinos foram às urnas neste domingo (27) e decidiram dar uma nova chance ao kirchnerismo quatro anos após a derrota de Cristina Kirchner para o atual presidente Mauricio Marcri, candidato à reeleição no pleito atual.

Com 93,55% das urnas apuradas, o candidato opositor Alberto Fernández, 60, da Frente de Todos (chapa que conta com a ex-presidente na vice), liderava a disputa com 47,90% dos votos. O candidato à reeleição, da chapa Cambiemos, aparecia na segunda posição, com 40,57%.

Na sequência, apareciam os candidatos Roberto Lavagna (Consenso Federal), com 6,17%; Nicolás Del Caño (Frente de Izquierda y de Trabajadores), com 2,14%; Juan Gómez (Frente Nos), com 1,71%; e José Espert (Unite por la Libertad y la Dignidad), com 1,47%.

O resultado já coloca a esquerda matematicamente de volta ao poder no país vizinho, sem necessidade de disputa em segundo turno. A disputa contou com elevada taxa de comparecimento dos argentinos: 80,86%.

Pelas regras eleitorais argentinas, se um candidato alcança 45% dos votos ou 40% e uma vantagem de pelo menos 10 pontos percentuais em relação ao segundo colocado no primeiro turno, ele já está eleito sem necessidade de uma nova votação.

Atual presidente, Macri teve uma recuperação ao longo da campanha após resultados ruins obtidos nas primárias de agosto, mas o esforço foi insuficiente para colocá-lo no segundo turno.

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O mandatário cresceu cerca de 8 pontos percentuais, mas sofreu com uma derrota na província de Buenos Aires — região que foi determinante para sua vitória em 2015.

Confirmação do favoritismo

O desempenho de Fernández repete o sinalizado dois meses antes, nas PASO (Primarias Abiertas Simultáneas y Obligatorias) — o equivalente a eleições primárias no país.

Na ocasião, o candidato opositor obteve 47% dos votos. Já Macri mostrou crescimento significativo em relação ao episódio, quando ficou com 32%. Mesmo assim, não conseguiu evitar que seu principal adversário superasse a marca dos 45%.

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Um dia após as primárias, o mercado apresentou forte reação negativa. O principal índice acionário do país, o Merval, caiu 30%, enquanto o dólar disparou 35,6% ante o peso — o que também desencadeou um agravamento da crise da dívida argentina, já que a maior parte está atrelada à divisa norte-americana.

A preocupação dos investidores com um governo Fernández é da volta de um maior intervencionismo na economia e uma postura de maior leniência com o controle das contas públicas. A memória da gestão de Cristina Fernández de Kirchner, que acaba de ser eleita vice-presidente, também preocupa os agentes econômicos, que lembram de medidas como controle cambial, restrição à remessa de lucros, interferência em setores específicos e até mesmo a nacionalização de empresas — como o que ocorreu com a petrolífera YPF em uma disputa polêmica com a Repsol.

Desde as primárias, o opositor tem tentado dar indicações de responsabilidade fiscal, porém, sem descuidar dos acenos prioritários a políticas orientadas ao combate de desigualdades, investimentos em educação e a incentivos econômicos pelo lado do consumo. Mas ainda há uma série de dúvidas sobre como será uma gestão Fernández-Fernández.

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Em entrevista exclusiva concedida ao InfoMoney em setembro, o economista Emmanuel Alvarez Agis, tido como um dos nomes mais influentes da candidatura opositora, defendeu uma postura mais equilibrada com relação às contas públicas e criticou medidas tomadas pelo presidente Macri após as primárias: o anúncio de “reperfilamento” da dívida e iniciativas de controle cambial.

“É muito paradoxal que todas as medidas que o mercado temia que Alberto Fernández tomasse já foram tomadas por Macri. Que medo poderia ter o mercado? Parece que a única vantagem disso é que hoje estamos com todos os medos do mercado concretos. Já temos a dívida com problemas, a moeda se depreciou muito e há um controle de capitais. Então, o único positivo é que esse é o piso. Daqui, a única coisa que pode fazer Alberto Fernández é melhorar”, pontuou.

Sobre o papel a ser desempenhado pela vice na próxima gestão, ele respondeu: Acredito que Cristina fez uma avaliação autocrítica da sua própria trajetória política e seu governo e escolheu uma pessoa como Alberto Fernández, que publicamente a criticou muito. Então, me parece que, na realidade, o que Cristina está dizendo à sociedade com essa eleição de Alberto Fernández é: “eu aprendi com meus erros e quero provar com uma alternativa muito mais abarcadora do que o que foi no passado”. Eleitoralmente funcionou muito bem”.

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Quem é

Alberto Fernández participou do governo de Néstor Kirchner, entre 2003 e 2007, como chefe do Gabinete de Ministros, e continuou no primeiro governo de Cristina Kirchner.

No ano seguinte, em 2008, Fernández renunciou em meio a uma crise e se tornou crítico do governo de Cristina. Ano passado, dez anos depois de romperem, houve uma reaproximação entre os dois. Alberto, então, se tornou candidato à presidência, convidado por Cristina para compor a chapa.

Ele é advogado e professor de direito penal e civil argentino, e dá aulas na Facultade de Direito da Universidade de Buenos Aires (UBA).

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(com Agência Brasil)

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.