Agressão contra Marçal é forte, mas não deve mudar eleição em SP, avalia Eurasia

Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas do grupo Eurasia, lembra do pouco impacto que atentado teve a favor da candidatura de Donald Trump nos EUA; consultoria aposta em favoritismo de Nunes

Paulo Barros

O analista político Christopher Garman, diretor para Américas da consultoria de risco internacional Eurasia Group (Foto: Divulgação)
O analista político Christopher Garman, diretor para Américas da consultoria de risco internacional Eurasia Group (Foto: Divulgação)

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O episódio de agressão do apresentador José Luiz Datena (PSDB) contra o ex-coach Pablo Marçal (PRTB) durante debate na TV Cultura, no domingo (15), é “lamentável”, uma “quebra essas normas de conduta”, e sintomático de um sentimento de revolta do eleitor, mas não deve mudar de forma relevante o cenário das eleições para a prefeitura de São Paulo. A avaliação é de Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas do grupo Eurasia.

“É um episódio profundamente lamentável, não lembro de um candidato agredir outro em um debate ao vivo dessa forma. Me parece sintomático de um ambiente onde eleições estão sendo fortemente influenciadas por esse profundo desencanto, e candidatos que acabam surfando essa onda de revolta contra o sistema, e utilizando mecanismos e retórica que são mais propícias a atos como esses. Dito isso, acho que não vai ter um impacto relevante na eleição”, analisa Garman em entrevista ao InfoMoney.

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Segundo o profissional, apesar de o episódio render mais tempo de exposição a Marçal, ele já teve muita atenção da mídia, e não deve ser beneficiado com cobertura adicional da imprensa após os fatos de ontem. Além disso, diz, é “prematuro” comparar a agressão sofrida pelo candidato a facada contra Jair Bolsonaro antes das eleições presidenciais de 2018.

“Um ato de violência como esse no debate tem uma repercussão menor. Eleitoralmente, o que transmite é um sinal de baderna e violência na campanha em si. Então não está claro que ele vai se beneficiar de um fenômeno mais amplo. Na reta final esse tipo de evento tem um pouco mais de impacto, mas a nossa aposta na Eurasia é que não tenha impacto”, explica Garman.

“Até vimos um atentado contra o Donald Trump nos Estados Unidos que teve um impacto muito pequeno, quase nulo na eleição. Então, perante o tribunal público, o impacto [da agressão a Marçal] tende a ser bem modesto”, complementa.

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Já para Datena, que disse que não desistirá da campanha e que não se arrepende de ter jogado uma cadeira no adversário, a agressão deve dificultar ainda o seu potencial de atrair votos. “É uma candidatura que já estava em declínio dramático, e que continua a ter um declínio. Os votos no Datena estão caindo e parece que estão migrando para a candidatura do Nunes Essa tendência deve se exacerbar ainda mais”, avalia o diretor da Eurasia.

Nunes favorito

Mesmo após o debate e o episódio de agressão, a Eurasia mantém sua avaliação de que, nessa reta final da corrida eleitoral, o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tende a ampliar seu favoritismo. A razão, explica Garman, passa por um movimento de voto útil, que deve se aprofundar no segundo turno, mas sobretudo por uma tendência de continuidade nas eleições em várias capitais, com níveis de aprovação que não sinalizam desejo de mudança por parte do eleitor.

“A taxa de aprovação média das 27 capitais hoje está em 58%. A aprovação do governo Nunes, em média, está em 44-45% e, geralmente, quando um incumbente tem uma taxa de aprovação acima de 40%, o índice de reeleição é mais elevado, que é um sinal que o eleitor não está insatisfeito com o status quo”, conta o especialista.

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“Estamos num ambiente não só onde a economia está indo bem, renda real está subindo, mas as prefeituras estão com dinheiro em caixa, de forma histórica, porque o gasto com o pessoal foi retido, e a receita subiu, dado o crescimento da economia e do lado da inflação. Os prefeitos estão fazendo as suas cidades canteiros de obras”, complementa o diretor da Eurasia.

Por outro lado, na visão de Garman, Marçal mostra muita competitividade por uma questão interna da base mais conservadora do eleitorado, que exibe inquietação profunda e um sentimento antissistema muito forte. “Ele é o único candidato antissistema nessa disputa, então ele ocupa esse espaço, e até tem chance de chegar no segundo turno.

Paulo Barros

Editor de Investimentos