“Abin paralela” espionou Lira, Renan, Kim, Randolfe, STF e jornalistas, diz PF

O sigilo das investigações foi retirado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o que jogou luz sobre operações que se desenrolavam nos bastidores do governo Bolsonaro, às margens do poder

Fábio Matos

Jair Bolsonaro, ao lado dos presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), em frente ao Congresso Nacional (Foto: Marcos Brandão/Senado Federal)
Jair Bolsonaro, ao lado dos presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), em frente ao Congresso Nacional (Foto: Marcos Brandão/Senado Federal)

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De acordo com o relatório da investigação da Polícia Federal (PF) sobre o suposto esquema de espionagem ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), uma série de integrantes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário caíram nas garras da chamada “Abin paralela”.

O sigilo das investigações foi retirado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o que jogou luz sobre operações que se desenrolavam nos bastidores do governo Bolsonaro, às margens do poder.

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Entre os nomes supostamente alvos da “arapongagem” da Abin, aparecem o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o senador Renan Calheiros (MDB-AL), ex-presidente do Senado. Segundo a PF, a espionagem ilegal abrangia tanto políticos aliados do governo de então (como Lira) quanto opositores (no caso de Renan).

Outro nome que teria sido espionado pelo grupo é o do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, um dos maiores alvos do bolsonarismo durante o período em que o ex-presidente da República ocupou o Palácio do Planalto.

De acordo com o relatório da PF, o monitoramento ilegal de Maia teria sido executado por ordem de Alexandre Ramagem, ex-chefe da Abin no governo Bolsonaro – e hoje pré-candidato do PL à prefeitura do Rio de Janeiro (RJ).

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Questionado sobre as investigações, Rodrigo Maia disse ao G1 que foi alvo de um “ato totalitário e criminoso”.

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Aliados e adversários foram alvo

Outros políticos monitorados pela “Abin paralela” do governo Bolsonaro, aponta a PF, teriam sido o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP), a ex-deputada federal Joice Hasselmann (antiga aliada de Bolsonaro, mas que rompeu com o ex-presidente) e os senadores Alessandro Vieira (MDB-SE), Omar Aziz (PSD-AM) e Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), além do próprio Renan – os três últimos fizeram parte da CPI da Covid, que investigou as ações e omissões do governo Bolsonaro durante a pandemia.

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No Poder Executivo, de acordo com a PF, o ex-governador de São Paulo João Doria (sem partido) também teria sido espionado ilegalmente. Doria é mais um caso de ex-apoiador de Bolsonaro que passou a ser alvo do núcleo bolsonarista depois de romper com o então presidente da República.

Ministros do STF não escaparam

Ainda de acordo com o relatório da PF sobre o caso, pelo menos quatro ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) teriam sido monitorados clandestinamente.

A investigação aponta que foram alvos os ministros Alexandre de Moraes – considerado inimigo público número 1 do bolsonarismo na Corte –, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux.

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Segundo o relatório da PF, os diálogos obtidos pela investigação indicam que os investigados planejavam possíveis ações clandestinas contra os magistrados da mais alta Corte do Judiciário brasileiro, “com o escopo de questionar a credibilidade do sistema eleitoral”.

O grupo também teria espionado escritórios de advocacia, deputados, senadores e adversários políticos de integrantes do governo que atuavam na Esplanada dos Ministérios. A lista de monitorados inclui parlamentares de partidos como PP, MDB e aliados do hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Servidores do Ibama, auditores da Receita e jornalistas

A “arapongagem” da Abrin também teve como alvos, diz a PF, os servidores do Ibama Hugo Ferreira Netto Loss e Roberto Cabral Borges e os auditores da Receita Federal Christiano José Paes Leme Botelho, Cleber Homen da Silva e José Pereira de Barros Neto.

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Em relação aos auditores da Receita, aponta a PF, a ideia do grupo seria coibir as investigações do suposto esquema de “rachadinha” no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), um dos filhos do ex-presidente.

A ação clandestina de espionagem teria ocorrido, de acordo com a PF, no dia 20 de novembro de 2020, com o intuito de escobrir “podres” e “relações políticas” dos auditores.

A imprensa profissional também não escapou da “Abin paralela”. Segundo as investigações da PF, os jornalistas Monica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista foram monitorados pelo grupo criminoso.

PF nas ruas

A PF deflagrou, na manhã desta quinta-feira (11), a 4ª fase da Operação Última Milha. O objetivo é desarticular a organização criminosa que monitorava ilegalmente autoridades públicas, além de produzir notícias falsas, utilizando-se de sistemas Abin.

De acordo com a corporação, policiais federais cumprem 5 mandados de prisão preventiva e 7 de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília (DF), Curitiba (PR), Juiz de Fora (MG), Salvador (BA) e São Paulo (SP).

Em nota, a PF informou que membros dos Três Poderes e jornalistas foram alvos do grupo, “incluindo a criação de perfis falsos e a divulgação de informações sabidamente falsas”.

“A organização criminosa também acessou ilegalmente computadores, aparelhos de telefonia e infraestrutura de telecomunicações para monitorar pessoas e agentes públicos”, diz a PF.

Os investigados podem responder pelos crimes de organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático alheio.

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Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”