“A pior coisa para a democracia é general em palanque”, diz Barroso

Em entrevista, presidente do STF diz que revelações trazidas pela Polícia Federal mostram que alguns setores das Forças Armadas aderiram ao "golpismo"

Fábio Matos

Ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, em entrevista ao InfoMoney, na sede do portal em São Paulo (Foto: Thiago Vianna)
Ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, em entrevista ao InfoMoney, na sede do portal em São Paulo (Foto: Thiago Vianna)

Publicidade

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, fez duras críticas ao que classificou como “politização indevida” das Forças Armadas durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Segundo o magistrado, as revelações trazidas à tona pelo inquérito da Polícia Federal (PF) que investiga a suposta tentativa de golpe de Estado por parte de Bolsonaro e alguns de seus aliados mais próximos, incluindo militares, mostram que alguns setores da instituição acabaram aderindo ao “golpismo”.

“Infelizmente, se reavivou uma assombração que já achávamos enterrada na vida brasileira, que é a do golpismo. A verdade é que as Forças Armadas no período pós-1988 haviam tido um comportamento exemplar e recuperado o prestígio que eu acho que a instituição merece. São pessoas que vão para os lugares mais remotos do Brasil, não é uma vida fácil. Eu tenho apreço pela instituição”, afirmou Barroso, em entrevista à GloboNews, nesta quarta-feira (21).

Continua depois da publicidade

O presidente do STF ressalvou, no entanto, que oficiais em postos de comando no Exército frearam a tentativa de golpe e ajudaram a “impedir o avanço do sentimento golpista” entre os militares.

“A pior coisa que existe para a democracia é general em palanque. Acho que houve uma politização indevida a ser lamentada, mas as instituições prevaleceram. Conseguimos recuperar a institucionalidade”, disse Barroso.

Ataques de Bolsonaro

Durante a entrevista, o magistrado também comentou os inúmeros discursos proferidos por Bolsonaro, enquanto estava na Presidência da República, contra o Poder Judiciário e a própria Justiça Eleitoral – colocando em dúvida, inclusive, a lisura das eleições no Brasil.

Continua depois da publicidade

“Para enfrentar esse problema, eu montei uma Comissão de Transparência porque nós não tínhamos nada a esconder. E chamei diversos segmentos representativos da sociedade”, explicou Barroso.

O ministro foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante as eleições municipais de 2020 e deixou a corte em fevereiro de 2022. Em seu lugar, assumiu o posto o ministro Alexandre de Moraes, que conduziu o processo eleitoral naquele ano.

“Chamei as Forças Armadas e preciso dizer, lamentando muito, que tiveram um comportamento bastante decepcionante. Chamei para dar transparência, para ajudar na segurança, para prestigiar a instituição e eles acabaram sendo manipulados para levantar desconfianças e suspeitas infundadas”, lamentou o presidente do STF. “No final das contas, foi altamente legitimador do processo eleitoral você ter alguém lá dentro procurando alguma coisa errada.”

Continua depois da publicidade

Combate às “fake news”

Luís Roberto Barroso também falou sobre o combate à propagação de notícias falsas durantes os processos eleitorais. O presidente do STF reconheceu que, neste momento, o Brasil não tem ferramentas capazes de impedir o chamado “deep fake” – o uso da inteligência artificial para manipular imagens, dados e informações sobre candidatos ou partidos políticos.

“A notícia ruim é que não há como, neste momento, conter o uso do ‘deep fake’”, disse Barroso. “A ideia que se tinha era, tecnologicamente, você ser capaz de identificar o que era produto de inteligência artificial. Ter uma marca d’água. Mas não se consegue. A tecnologia ainda não consegue. Então, nós vamos lidar com o ‘deep fake’ nas eleições”, concluiu.

ACESSO GRATUITO

CARTEIRA DE BONDS

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”