Com juros maiores, o rendimento dos investimentos mais conservadores sobe e a renda fixa fica mais atrativa. Até aí, sem novidades. Mas o que acontece quando essa lógica é aplicada ao longo prazo? Na prática, a notícia é boa: significa que, pelos próximos 35 anos, você terá que investir todo mês um pouco menos do que aplicava há dois anos para chegar à mesma renda na aposentadoria.
Quando a taxa SELIC estava na casa dos 2%, alguém com 30 anos tinha que guardar R$ 1.870 por mês para ter uma renda mensal de R$ 10 mil entre os 65 e 90 anos, sem considerar a inflação. Com o atual cenário de taxa Selic subindo e em mais de dois dígitos ao ano, é preciso menos para atingir esse valor.
Esses são os resultados de algumas simulações feitas na nova calculadora de aposentadoria do InfoMoney. A ferramenta foi elaborada por Lauro Araújo, mestre em finanças internacionais, assessor de investimentos e autor de livros como Guia de Investimentos e Saúde Financeira e Fique Rico e Viva Feliz.
Existem algumas regrinhas de uso, como não mudar o nome do arquivo e ter uma versão de Excel habilitada para macros e função solver. Esses detalhes técnicos e o passo a passo para usar a calculadora estão explicados no tutorial em vídeo abaixo e também na primeira aba da planilha.
Um dos campos que deve ser preenchido na planilha é o rendimento real (acima da inflação) e líquido (sem Imposto de Renda) dos investimentos feitos para a aposentadoria.
No exemplo do início do texto, para comparar o rendimento de dois anos atrás com o atual, Araújo considerou que em 2020, quando a taxa Selic estava em 2% ao ano, o investidor poderia ganhar algo em torno de 2% acima da inflação, já descontado o IR.
Agora, com a Selic na casa dos 11%, o rendimento médio, descontada a inflação, fica próximo a 5%, considerando investimentos mais conservadores.
A Selic impacta os investimentos porque ela é o juro básico da economia e a referência usada para a remuneração dos investimentos de renda fixa (entenda mais), classe que concentra muitas das aplicações para a aposentadoria, como os títulos públicos atrelados à inflação, Tesouro IPCA, e boa parte dos fundos de previdência.
Quando a Selic muda, essas aplicações podem render mais, na alta da Selic, ou menos, na baixa. Agora estamos saindo de um período de baixa e entrando em um período de taxas mais altas.
“Olhando o que aconteceu nos últimos anos fica fácil entender por que é importante você monitorar como sua reserva para a aposentadoria está caminhando e fazer os ajustes necessários. Em época de rendimentos mais baixos, é necessário guardar mais dinheiro; e em épocas de rendimentos mais altos, podemos guardar menos”, afirma o assessor de investimentos.
Outro ponto importante quando o assunto é aposentadoria é que, ao calcular o rendimento no longo prazo, não se deve observar só a fotografia do momento, mas o filme todo. Ou seja, é preciso considerar não apenas o rendimento médio e a inflação atuais, mas a projeção dessas taxas durante todo o período do investimento.
Olhando para o longo prazo, Araújo diz que hoje o mais razoável é considerar uma rentabilidade líquida entre 4% e 5%, dependendo de como você investe o dinheiro para sua aposentadoria.
“A Selic está subindo e pode passar de 11% em breve. A inflação reduziu um pouco, mas não deve ficar muito baixa. Portanto é interessante manter uma expectativa de rendimentos, acima da inflação entre 3,5% e 4,5% ao ano. É preciso pensar nas premissas com visão de longo prazo”, explica.
Segundo ele, uma alta na Selic e e a manutenção da inflação em alta dificulta nossa reserva de longo prazo. “Com a Selic alta, nossos rendimentos são melhores, mas a inflação alta ‘corrói’ o valor do nosso dinheiro. Como diria o bom mineiro: um olho no queijo e o outro no rato!”, diz Araújo.
Uma frase muito repetida no mundo das finanças, de autoria do físico irlandês William Thompson, diz que “não é possível melhorar aquilo que não se pode medir”.
Em outras palavras, quanto antes o investidor encarar essa nova realidade, mais fácil será corrigir a estratégia rumo à tão sonhada aposentadoria.
Onde investir?
O cenário atual conta com juros maiores, o que pode impulsionar os investimentos em renda fixa. Mais que isso: a expectativa de economistas consultados pelo Banco Central é de que os juros sejam elevados, de forma menos acelerada, nas próximas reuniões e encerrem 2022 ainda no patamar de dois dígitos.
Nesse cenário, especialistas ouvidos pelo InfoMoney afirmam que boa parte das oportunidades de investimento seguem nos papéis pós-fixados – tanto os que acompanham a variação da Selic (como o título público Tesouro Selic) quanto os atrelados à taxa do CDI, como os CDBs pós-fixados.
Ativos atrelados à inflação e com isenção de Imposto de Renda, como certificados de recebíveis, debêntures incentivadas, além de Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e do Agronegócio (LCAs) também podem ser opções.
Momentos de juros mais altos são desafiadores para as companhias abertas porque o aumento da Selic provoca impacto nas despesas financeiras e, consequentemente, sobre o lucro dos negócios. Mas gestores afirmam que a Bolsa segue atrativa e que há ações descontadas no setor de commodities.
Apesar das opções disponíveis, a decisão sobre onde investir, ainda mais para um objetivo tão importante como a aposentadoria, deve ser tomada com muito cuidado. Arriscar sem critério pode ser perigoso, por outro lado, se aportar de forma muito conservadora, você pode deixar dinheiro na mesa.
Por isso sempre leve em consideração seu perfil, se é mais conservador, moderado ou arrojado (descubra seu perfil e veja os primeiros passos para investir).
Esses são alguns dos pontos de partida sobre o tema aposentadoria, mas a nossa recomendação é: mexa bastante na planilha e divirta-se. Guardar dinheiro, quando existe um futuro pela frente, pode ser muito mais divertido do que deixar para a última hora. E bons investimentos!