Em 1° de maio de 2023, Wesley Batista Filho assumiu como CEO na JBS USA, substituindo o experiente Tim Shellpeper, que se aposentou depois de quase seis anos na companhia.
Shellpeper ingressou na JBS com a missão de reestruturar a Swift. Foi a partir dessa aquisição, financiada em parte por recursos do BNDES em 2007, que o grupo se tornou o maior produtor de proteína animal do mundo.
No entanto, experiência é o que não falta ao jovem herdeiro, que, ao que tudo indica, é o favorito para ocupar a posição que já foi de seu pai, tio e avô depois da aposentadoria do atual CEO global, Gilberto Tomazoni. Embora a JBS não tenha anunciado um processo sucessório, o movimento marca mais uma etapa concluída nesse sentido, pois o filho de Wesley Batista já atua no grupo desde 2010, e vem sendo preparado para liderar os negócios da família.
Formação e carreira de Wesley Batista Filho
Aos 15 anos, o jovem foi à Suíça para estudar no Lyceum Alpinum Zuoz, internato fundado em 1904 nas proximidades de St. Moriz. Segundo ele, foi sua a ideia de estudar no exterior, sendo que, antes de optar pela escola, a família visitou três outras instituições suíças. Mas foi preciso convencer os pais de que estava pronto para sair de casa.
“Descobrimos que Zuoz era a melhor alternativa, pois oferecia uma atmosfera muito realista. Antes de dar sua aprovação final, meu pai testou meu nível de comprometimento e disse que eu só poderia ir se concordasse em estudar alemão. Quando eu concordei, ele percebeu que eu estava falando sério e avançamos com minha inscrição”, disse Wesley Filho em entrevista à escola Swiss Learning, em 2021.
Concluído o ensino médio na escola suíça, Wesley Batista Filho ingressou na Universidade Estadual do Colorado, mas interrompeu os estudos para se dedicar à JBS em tempo integral. Por sua vivência no exterior, tornou-se fluente em inglês, espanhol, francês e alemão, o que lhe deu desenvoltura para transitar entre diferentes culturas e assumir posições internacionais no grupo.
O neto de José Batista Sobrinho começou na JBS em 2010 como trainee nos Estados Unidos. Voltou ao Brasil, para trabalhar na área de comércio internacional de carne bovina, o que o credenciou a assumir, em 2012, a operação da companhia no Paraguai e Uruguai, países essencialmente exportadores. Em 2014, mudou-se para o Canadá para ser responsável pelos negócios do país, onde ficou até 2017. Em um novo retorno ao Brasil, tornou-se CEO da JBS para a América do Sul, incluindo os negócios da Seara. Desde maio deste ano, é o CEO da JBS USA, a principal divisão de negócios da JBS no mundo.
Segundo o jovem executivo, sua rotina de trabalho contempla de 12 a 13 horas diárias, e começa bem cedo. “Meu pai me deu um bom conselho quando eu estava começando minha carreira: seja o primeiro a chegar e o último a sair, pois assim você terá mais tempo para aprender, e isso o ajudará a ganhar o respeito de seus colegas”, declarou quando perguntado sobre bons conselhos que recebeu ao longo do caminho.
Wesley Filho casou cedo, com a namorada de adolescência que também frequentou o mesmo internato suíço. Os dois têm um filho.
Desafios pela frente
Nas últimas décadas, a indústria de carne bovina sofreu expressivos avanços tecnológicos. Fatores como melhoramento genético, pressão por redução nas áreas de pastagem e questões ambientais tem obrigado as empresas a otimizar processos para melhorar a competitividade da cadeia produtiva.
Nesse cenário, a JBS ainda precisa se consolidar em áreas novas do negócio, como alimentos à base de vegetais e cultivo de salmão. Além disso, ainda estão presentes na memória do mercado os problemas de governança que o grupo teve em 2017, em meio a denúncias de corrupção e manipulação do mercado financeiro, que levaram tanto seu pai (Wesley Batista) quanto seu tio (Joesley Batista) para a cadeia.
Para alguns analistas, esse conjunto pode vir a ser um grande desafio para Wesley Batista Filho na condução do gigantesco negócio que terá nas mãos. No entanto, sobram elogios por parte de quem o conhece de perto e acompanha o seu trabalho, inclusive com depoimentos de que ele conseguiu melhorar a produção e as vendas das unidades norte-americanas. Muito familiarizado com todo o processo, Wesley Filho era ainda adolescente quando aprendeu a desossar um boi, e conhecidos dizem que, ainda hoje, ele costuma fiscalizar eventualmente as linhas de produção, para assegurar o tamanho certo das peças.
De pequeno açougue em Anápolis à maior empresa de carnes do mundo
A história da gigante começou em 1958, quando José Batista Sobrinho – cujas iniciais formam o atual nome da empresa – abriu uma pequena casa de carnes em Anápolis, no estado de Goiás.
No final dos anos 60, a empresa adquire suas duas primeiras plantas de abate de gado no Centro-Oeste. De lá para cá, a JBS cresceu adquirindo grandes frigoríficos e diversificando os negócios, atualmente com braços em setores como energia, mineração, fintech de pagamento e banco digital.
A companhia é hoje a maior empresa de proteína animal do mundo, atuando em quase 200 países nos cinco continentes, e com capacidade para processar 75 mil bovinos por dia. Entre suas marcas, estão Seara, Swift, Friboi, Doriana e vários outros nomes tradicionais, no Brasil e no exterior.