Tucano histórico, Tasso Jereissati é saída do PSDB para eleição sem candidato próprio

Veja fatos de sua trajetória.

Nome completo:Tasso Ribeiro Jereissati
Data de nascimento:15 de dezembro de 1948
Local de nascimento:Fortaleza, Ceará
Formação:Administração de Empresas
Profissão: Empresário e político
Partido:PSDB
Cargo de destaque:Senador
FamíliaCasado, quatro filhos

Tasso Jereissati é um empresário e político brasileiro. Senador da República pelo PSDB do Ceará, foi três vezes governador do estado e está no fim de seu segundo mandato no Senado. É uma das principais lideranças tucanas e por duas vezes ocupou a presidência nacional do partido.

O presidente do PSDB, Bruno Araújo, anunciou Tasso como nome de “convergência” do partido para pré-candidato a vice em 1o de junho, após o ex-governador João Doria desistir de sua pré-candidatura à Presidência. A sigla formalizou o apoio a Tebet em 09 de junho. Esta é a primeira vez que o PSDB não tem um candidato próprio ao Planalto desde sua fundação, em 1988. A pré-candidatura de Tasso a vice ainda precisa ser confirmada. 

Além de fortalecer a pré-candidatura de Tebet, que ainda não conseguiu passar de 2% nas pesquisas de intenção de voto, a presença de Tasso é vista como canal para uma eventual aproximação com outros postulantes ao Planalto, como o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), aliado de longa data do tucano, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem o senador mantém relações cordiais.

Lula é o favorito nas pesquisas até agora e pode vir a receber o apoio de outros candidatos contrários ao presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno, se houver.

Tasso é uma das únicas lideranças históricas do PSDB ainda em atividade na política nacional. Em fim de mandato como senador, já falou em reduzir o ritmo, mas a pré-candidatura a vice surge como alternativa momentânea à aposentadoria. O senador é conhecido pelas articulações nos bastidores, pelas conversas ao pé do ouvido.

História de Tasso Jereissati

Tasso Ribeiro Jereissati nasceu em Fortaleza, Ceará, em 15 de dezembro de 1948. Ele é um dos seis filhos do casal Carlos Jereissati e Maria de Lourdes Jereissati. O pai, como o filho, foi empresário e político. Exerceu os cargos de deputado federal e senador.

Em 1958, a família se mudou para o Rio de Janeiro e, posteriormente, para a recém inaugurada Brasília, onde Tasso terminou o ensino médio. O pai morreu em 1963, quando era senador.

Tasso estudou Administração de Empresas na Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo, e foi trabalhar nos negócios da família. A tradição empresarial dos Jereissati teve início com o avô, Aziz Kalil Jereissati, imigrante libanês que se estabeleceu como comerciante em fortaleza.

Os negócios do pai incluíam indústria têxtil, imobiliária, o Grande Moinho Cearense e a metalúrgica La Fonte, fabricante de fechaduras e cadeados. Ao lado do irmão mais velho, Carlos Francisco Ribeiro Jereissati, Tasso foi pioneiro no mercado de shopping centers no Brasil. O Grupo Jereissati, comandado por Carlos, é controlador da rede de shoppings Iguatemi, entre outros empreendimentos.

Tasso é o parlamentar mais rico do Senado, com um patrimônio avaliado em R$ 389 milhões, segundo declaração de bens apresentada à Justiça Eleitoral em 2014, quando de sua última eleição para a Casa.

Em 1976, a atividade empresarial começou levá-lo à política, quando ingressou no Centro Industrial do Ceará (CIC) junto com um grupo de jovens empresários cearenses que defendia a redemocratização do Brasil. De 1981 a 1983, ele foi presidente da instituição. Segundo informações do CPDOQ da FGV, o CIC era um fórum importante de debates sobre o estado e o Nordeste.

Na época, Tasso levou a Fortaleza políticos como André Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso, economistas como Celso Furtado, Luís Carlos Bresser Pereira e Maria da Conceição Tavares, e empresários como Antônio Ermírio de Moraes. A ideia era incluir o Nordeste na agenda política do País e discutir alternativas para a região.

Uma das bandeiras de Tasso e seu grupo era combater a influência de “coronéis” que dominavam a política nordestina com apoio do regime militar. Nesse sentido, o CIC apoiou a campanha pelas eleições diretas em 1984 e instalou o primeiro comitê em apoio à candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República.

Carreira política

Em 1986, depois da fase como liderança empresarial, Tasso saiu candidato ao governo do Ceará pelo PMDB, com o compromisso de “mudar, renovar e acabar com a miséria”. Ele teve apoio do então presidente José Sarney, também do PMDB, que gozava da popularidade momentânea do Plano Cruzado. O pacote acabou fracassando, mas não sem antes ajudar a eleger vários políticos do partido naquele ano.

Tasso foi eleito. Em 1987, ao assumir o cargo, baixou um pacote com o objetivo de moralizar a administração pública do Ceará e em cinco meses obteve o primeiro superávit fiscal. Chegou a ser convidado para o Ministério da Fazenda em substituição a Dílson Funaro, autor do Plano Cruzado, mas de acordo com informações do CPDOC, foi vetado por Ulysses Guimarães, então presidente do PMDB.

Em 1988, Tasso apoiou com sucesso a candidatura de Ciro Gomes para a Prefeitura de Fortaleza. Na época, Ciro era deputado estadual pelo PMDB e líder do governo na Assembleia Legislativa.

Em 1989, o então governador cearense permaneceu indeciso sobre quem apoiar na primeira eleição direta para presidente depois da ditadura. Flertou com Mario Covas, do recém criado PSDB, e Fernando Collor de Mello. Não quis dar apoio a Ulysses. Acabou saindo do PMDB e anunciou sua preferência por Covas. Em janeiro de 1990, aderiu ao PSDB, levando junto aliados como Ciro.

Em 1990, Tasso apoiou Ciro como seu sucessor no governo do estado. Naquela época ainda não havia possibilidade de reeleição. O aliado foi eleito no primeiro turno. Em 1991, o hoje senador foi escolhido pela primeira vez como presidente do PSDB.

Para as eleições de 1994, Tasso chegou a ensaiar negociação de apoio do PSDB à candidatura de Lula à Presidência. Mas o partido lançou o nome de Fernando Henrique, ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco quando da elaboração do Plano Real. Seu aliado Ciro ocupou o cargo de ministro da Fazenda nos meses finais do mandato de Itamar.

Tasso foi mais uma vez eleito governador do Ceará em 1994, no primeiro turno. Quando iniciou seu primeiro mandato, o estado respondia por 4% da arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do Nordeste e 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. No começo do segundo, os números haviam subido para 16% e 2,2%, respectivamente.

Ele negociou recursos com bancos internacionais de fomento para a transposição de bacias hidrográficas, saneamento básico, construção de um novo aeroporto em Fortaleza, para financiar pequenos agricultores e o combater à pobreza. Deu início às obras do Açude Castanhão, maior reservatório de água do País. Foi apontado como segundo governador mais popular do Brasil em pesquisa Vox Populi, atrás apenas do paranaense Jaime Lerner.

Se reelegeu governador em 1998, novamente no primeiro turno. Em 2000, apoiou Patrícia Saboya, ex-mulher de Ciro, para a Prefeitura de Fortaleza e acabou rompendo com aliados tradicionais que defendiam uma candidatura própria do PSDB. Saboya ficou em quarto lugar no pleito, vencido por Juraci Magalhães (PMDB).

Tasso chegou a cogitar ser candidato a presidente em 2002. Seu nome volta e meia é citado por apoiadores como opção quando pleitos assim se aproximam. Na época, teve o nome lançado pelo então senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).

Tasso tinha credenciais. Ao longo de seus governos e o de Ciro, o Ceará registrou avanços significativos nos indicadores da qualidade de vida, redução da mortalidade infantil, queda do analfabetismo e da evasão e escolar, e aumento da expectativa de vida. De acordo com a ONU, foi o estado brasileiro com maior crescimento no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 1995 a 2002.

No entanto, José Serra foi escolhido candidato pelo PSDB e Tasso acabou anunciando apoio a Ciro, então no PPS. Ciro ficou em quarto lugar, desempenho pior ao que teve no pleito anterior, em 1998, quando terminou em terceiro. Tasso, porém, se elegeu senador. Patrícia Saboya ficou com a segunda vaga para o Senado. Lula conquistou a presidência, e Lúcio Alcântara (PSDB), o governo do Ceará.

Tasso Jereissati chega ao senado

Embora da oposição, Tasso foi um interlocutor importante no começo do governo Lula, a partir de 2003. Participou das negociações da Reforma da Previdência a ajudou o governo a vencer resistências ao projeto, que foi aprovado. Esta foi a segunda de três reformas da Previdência instituídas desde a redemocratização.

Em 2004, pela primeira vez, Tasso e Ciro apoiaram candidatos diferentes para a Prefeitura de Fortaleza. Então ministro da Integração Nacional do governo Lula, Ciro apoiou Inácio Arruda (PCdoB), ao passo que seu padrinho político foi com Antônio Cambraia (PSDB). Quem venceu, porém, foi Luiziane Lins (PT).

Tasso abordou de forma prudente denúncias que surgiram contra integrantes do governo Lula no início, mas no fim seguiu os posicionamentos de seu partido e chegou até a admitir apoio ao impeachment do presidente. Em 2005, foi eleito novamente presidente do PSDB.

Tinha a missão de comandar a legenda durante a escolha do candidato para a campanha presidencial de 2006. A cúpula tucana, liderada por Tasso, queria emplacar Serra, na época prefeito de São Paulo.

O então governador paulista, Geraldo Alckmin (hoje no PSB), atropelou as articulações e acabou saindo candidato pelo PSDB. Perdeu para Lula, seu companheiro de chapa em 2022. Serra disputou – e venceu – o pleito para o governo de São Paulo. Cid Gomes (PSB, hoje no PDT), irmão de Ciro, ganhou a disputa para o governo cearense.

Na eleição para a Prefeitura de Fortaleza em 2008, Tasso e Ciro mais uma vez apoiaram Patrícia Saboya, que terminou em terceiro lugar. A petista Luiziane Lins foi reeleita.

Tasso voltou a se candidatar ao Senado em 2010, mas não se reelegeu. Em 2011, assumiu a presidência do Instituto Teotônio Vilela, órgão do PSDB, e passou a integrar os conselhos estratégicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).

Em 2014, conseguiu se eleger senador mais uma vez, com mais de 2,3 milhões de votos. No governo Temer, votou a favor da PEC do Teto de Gastos e da Reforma Trabalhista.

Tasso voltou a assumir interinamente a presidência do PSDB durante um curto período, em 2017, com o afastamento de Aécio Neves (PSDB-MG), atingidos pelas gravações comprometedoras feitas pelo empresário Joesley Batista, da JBS. O próprio Aécio destituiu o correligionário. Na época, o mineiro defendia a continuidade do apoio tucano ao governo Temer, e o cearense, o desembarque.

Tasso é casado desde 1973 com Renata Queiroz Jereissati. O casal tem quatro filhos.

PEC Kamikaze

É defensor da responsabilidade fiscal, mas foi um dos senadores que votaram a favor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 01/2022, que cria e amplia benefícios sociais às vésperas das eleições de 2022, e institui estado de emergência até o final do ano para que as benesses escapem das vedações da legislação eleitoral.

Apelidada de “PEC Kamikaze”, pois gera um rombo de R$ 41,2 bilhões, a matéria foi aprovada no Senado em 30 de junho por todos os senadores presentes à sessão, inclusive da oposição, com exceção de José Serra (PSDB-SP).

A proposta patrocinada por Bolsonaro é uma das apostas do presidente para aumentar sua popularidade na busca pela reeleição. Tebet também votou a favor, assim como parlamentares do PT de Lula e do PDT de Ciro. A PEC ainda tem que passar no plenário da Câmara.

Mesmo com o voto a favor, Tasso criticou o projeto que, em sua opinião, fere a Lei de Responsabilidade Fiscal. Ele acrescentou, no entanto, que o texto é necessário dentro do cenário de miséria e fome vigente no Brasil. Tebet, Lula e Ciro seguiram a mesma linha, de criticar a proposição ao mesmo tempo em que seus partidos votaram a favor.

A Lei 9504/97 (Lei Eleitoral) proíbe a criação de benefícios em ano de eleições, exceto em casos de calamidade pública ou estado de emergência. Para burlar a proibição, a PEC reconhece em 2022 “estado de emergência decorrente da elevação extraordinária e imprevisível dos preços do petróleo, combustíveis e seus derivados e dos impactos sociais deles decorrentes”.

Ou seja, as benesses se limitam basicamente ao período eleitoral e caberá ao próximo governo resolver o problema do rombo.

No mesmo dia, Tasso participou de um evento virtual sobre os 28 anos do Plano Real. “Passei a vida inteira vivendo a desordem inflacionária e a falta de rigor fiscal”, declarou ele ao comentar que “com o Plano Real, finalmente pudemos ter uma moeda respeitada e acreditada”.

Bolsonaro não tem jeito

O senador é crítico de Bolsonaro, mas de 2019 até agora manteve 86% de “governismo”, segundo o Radar do Congresso do site Congresso em Foco. A média é parecida com a de Tebet, que tem 87%. Isso mostra o grau de alinhamento com o governo em diversas votações. A média do Senado é de 83%.

Em 31 de março de 2021, Tasso pôs em dúvida o equilíbrio mental de Bolsonaro ao justificar mudança de opinião em relação ao um eventual impeachment do presidente. “Bolsonaro não tem jeito. O problema dele é médico. É psiquiátrico, não é um problema político”, afirmou, ao admitir que um processo contra o chefe do Executivo havia se tornado uma alternativa plausível.

O senador foi um dos titulares da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que investigou a atuação do governo frente à pandemia.

Pouco tempo antes, em 11 de março de 2021, porém, ele avaliava o impeachment como uma saída ruim e defendia eventual responsabilização de Bolsonaro após o término do mandato. “Já vivi dois impeachments e vi que o país parou, dividiu-se mais ainda. É uma crise e isso não é adequado para o Brasil agora”, afirmou ao El País.

No processo de impedimento contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), no entanto, Tasso votou a favor, dizendo que ela não reunia mais “o mínimo de condições necessárias para governar o País”. “Não dispõe de credibilidade interna ou externa e não conta com sustentabilidade política”, declarou em 2016.

Na entrevista ao El País, em 2021, o senador contou que votou em branco no segundo turno das eleições presidenciais de 2018, disputado por Bolsonaro e o ex-prefeito de São Paulo, Fernand Haddad (PT). “Meu voto não foi muito republicano”, confessou. Ele admitiu “perplexidade” frente ao apoio dado a Bolsonaro por Doria, candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB na época.

Ainda ao El País, Tasso disse que gostaria que Lula se candidatasse em 2022. “Vou ser sincero. Eu gostaria até que o Lula concorresse. No momento que nós vivemos, precisamos de uma grande lição de democracia na próxima eleição. Defendo que todas as correntes ideológicas participem. Acho bom que o Lula concorra. Pessoalmente acho que vai prevalecer o equilíbrio”, declarou.

Tasso é um tucano histórico, mas nem sempre caminhou junto com seu partido. Isso ocorreu em 2002, por exemplo, quando ficou ao lado de Ciro na campanha para presidente, ao invés de apoiar o candidato do PSDB, José Serra (SP).

Em 2022, Tasso já deu uma “canja” para Ciro ao participar de uma live do pré-candidato do PDT em fevereiro. Ele manifestou falta de entusiasmo com a pré-candidatura de Doria à Presidência, na época ainda de pé.