Nome completo: | Tarcísio Gomes de Freitas |
Data de nascimento: | 19 de junho de 1975 |
Local de nascimento: | Rio de Janeiro (RJ) |
Formação: | Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), graduado em Engenharia Civil e mestre em Engenharia de Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) |
Ocupação: | Engenheiro, militar da reserva e político |
Principais cargos na vida pública: | Diretor-executivo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), entre 2011 e 2014, diretor-geral substituto do Dnit (2014-2015) e ministro da Infraestrutura (2019-2022) |
Governos de que participou: | Dilma Rousseff (2011-2016), Michel Temer (2016-2018) e Jair Bolsonaro (2019-2022) |
Eleição disputada: | 2022 (governo do estado de São Paulo) |
Quem é Tarcísio de Freitas
“Você será o meu candidato. Você tem a cara de São Paulo.” Com essa frase, o presidente Jair Bolsonaro convocou o então ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, a disputar pela primeira vez uma eleição, e praticamente não deu margem para que o subordinado recusasse o apelo. E não era qualquer eleição: “Tarcisão do Asfalto”, como ficou conhecido entre os apoiadores de Bolsonaro, estreou nas urnas postulando nada menos que o cargo mais importante do estado mais rico e populoso do Brasil – o de governador de São Paulo. Missão dada, missão cumprida. Tarcísio venceu a eleição e derrotou o adversário petista Fernando Haddad no segundo turno.
Até ser designado pelo presidente da República para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio de Freitas jamais imaginara disputar um cargo eletivo, muito menos em São Paulo. Nascido no Rio de Janeiro (RJ) em 19 de junho de 1975, filho de Amaury Vieira Freitas e Maria Alice Gomes Freitas, Tarcísio inicialmente não se mostrou entusiasmado com a ideia. Ponderou que dificilmente o eleitorado “paulista raiz” optaria por um carioca como governador do estado. Também ressaltou a hegemonia política de quase 30 anos do PSDB, sobretudo no interior, o que diminuía seu espaço de crescimento à direita.
Neófito em disputas eleitorais, Tarcísio não demoraria a perceber que sua leitura estava equivocada. Bolsonaro alegou que precisava de um palanque forte no maior colégio eleitoral do país e argumentou que a polarização nacional entre seu grupo político e o PT provavelmente alavancaria Tarcísio e esvaziaria a candidatura tucana.
Não deu outra: no primeiro turno, o ex-ministro da Infraestrutura recebeu mais de 9,8 milhões de votos (42,3%) e terminou em primeiro lugar, surpreendendo adversários e até mesmo aliados. Fernando Haddad (PT) foi o segundo mais votado, e o governador Rodrigo Garcia (PSDB) ficou em terceiro. A profecia de Bolsonaro havia se concretizado.
Formação militar e experiência no Haiti
Servidor de carreira vinculado à consultoria legislativa da Câmara dos Deputados, Tarcísio de Freitas seguiu uma trajetória acadêmica e profissional consistente, como um quadro técnico.
Em 1996, concluiu o bacharelado em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ). Seis anos depois, em 2002, formou-se engenheiro civil pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), no Rio de Janeiro.
Tarcísio ainda tem no currículo duas especializações (em Ciências Militares, pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército/ESAO, e Gerenciamento de Projetos, pela Fundação Getúlio Vargas/FGV) e um mestrado em Engenharia de Transportes, pelo IME.
Engenheiro do Exército de 2002 a 2008, Tarcísio foi chefe da Seção Técnica da Companhia de Engenharia do Brasil na missão de paz das Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, entre 2005 e 2006.
Em 2008, com a patente de capitão, deixou o serviço militar e entrou para o funcionalismo público federal. Na Controladoria-Geral da União (CGU), foi assessor da direção de auditoria na área de infraestrutura, como analista de finanças e controle, até 2011, quando assumiu a coordenação geral do setor.
Trajetória política
Hoje um dos mais fiéis aliados de Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas começou sua trajetória na administração pública federal no auge da era petista. Em agosto de 2011, no primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), foi indicado pelo general Jorge Fraxe para o cargo de diretor-executivo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Governo Dilma
Tarcísio assumiu o posto em um momento de turbulência, em meio a uma série de denúncias de corrupção no primeiro escalão do governo federal. Dilma demitiu ministros, cortou cargos e reformulou setores de diversas pastas, dando “carta branca” para os novos chefes montarem suas equipes.
O bom trabalho de Tarcísio na diretoria-executiva o levou ao cargo de diretor-geral substituto do órgão, entre setembro de 2014 e janeiro de 2015 – já na transição do primeiro para o segundo mandato de Dilma na Presidência da República –, quando deixou o Executivo e se tornou consultor legislativo na Câmara dos Deputados. Como consultor no Legislativo, atuou na área de Desenvolvimento Urbano, Trânsito e Transportes.
Governos Temer e Bolsonaro
Foi a partir do governo do ex-presidente Michel Temer (2016-2018), com o avanço de uma agenda mais liberal na economia e prioridade para reformas e privatizações, que Tarcísio Gomes de Freitas passou a exercer um papel de maior destaque no governo federal.
Em julho de 2016, foi nomeado secretário de coordenação do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), responsável por conduzir o processo de privatizações, concessões e desestatizações de ativos do governo. Ficou no cargo até o fim do governo, em dezembro de 2018.
Com a vitória de Bolsonaro nas eleições de 2018 e o prenúncio de uma política econômica que seguiria as linhas mestras adotadas no governo Temer, o nome de Tarcísio ganhou força. O novo presidente havia se comprometido, durante a campanha, a montar uma equipe de ministros técnicos, com conhecimento e experiências nas respectivas áreas em que fossem atuar.
Pouco depois da eleição de Bolsonaro, o próprio Tarcísio procurou a equipe de transição do governo para garantir que as ações desenvolvidas pelo PPI na gestão Temer fossem mantidas. Para o Ministério da Infraestrutura, cobiçado por diversas legendas, o nome indicado foi o de Tarcísio, que não era ligado a nenhum partido político. Ele ganhou a preferência graças a seus atributos técnicos, mas também porque alguns militares convidados acabaram recusando o posto. Em evento recente com empresários do agronegócio em São Paulo, Bolsonaro admitiu: “Tarcísio é uma pessoa fantástica e foi descoberto por nós por acaso”.
“Tarcisão do Asfalto”, “Thorcísio” e bolsonarismo “light”
A marca da gestão Tarcísio de Freitas à frente do Ministério da Infraestrutura foi a grande capacidade de realização, concluindo obras que estavam paradas há anos. Isso foi bem explorado politicamente pelo ministro e pelo governo federal. Até mesmo alguns adversários de Bolsonaro reconhecem em Tarcísio um gestor eficiente.
Sob seu comando, a pasta levou a cabo uma série de concessões à iniciativa privada. Foram realizados mais de 80 leilões que, segundo o governo, significaram mais de R$ 100 bilhões em investimentos em infraestrutura. Tarcísio também priorizou a duplicação de estradas e a modernização de ferrovias, portos e aeroportos pelo país.
Críticos do governo Bolsonaro, por outro lado, afirmam que a situação das rodovias brasileiras piorou durante a gestão Tarcísio. De acordo com dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT), que avaliou quase 110 mil quilômetros de rodovias pavimentadas, mais de 61% eram consideradas regulares, ruins ou péssimas no fim de 2021 – percentual superior aos 57% no fim de 2018, antes de Tarcísio assumir. Ainda segundo o relatório da CNT, 65,2% das rodovias administradas pelo poder público tinham condições insatisfatórias em 2018; em 2021, o índice era de 71,8%.
Alheio às críticas, Tarcísio caiu nas graças da militância bolsonarista e viralizou nas redes sociais, aparecendo sempre “batendo o martelo” em leilões. “Investimento chegando e martelo voando”, costumava dizer o então ministro. Em novembro de 2021, após o anúncio do arremate da área destinada à movimentação de combustíveis no Porto de Santos (SP), Tarcísio ganhou o apelido de “Thorcísio”, em alusão ao personagem Thor, que tem no martelo o símbolo de sua força.
Outro apelido carinhoso utilizado pelos apoiadores de Bolsonaro para se referir ao aliado é “Tarcisão do Asfalto”, simbolizando sua atuação à frente da pasta. A alcunha foi adotada pela própria campanha de Tarcísio ao governo de São Paulo, em 2022, para reforçar a boa imagem do candidato como ministro da Infraestrutura.
Apesar de ter ficado muito próximo de Bolsonaro – foi um dos ministros que mais participou das lives semanais do presidente nas redes sociais durante o governo –, Tarcísio sempre manteve uma linha mais moderada do que aquela adotada pelo chefe. Sempre reiterou que era um técnico, e não um político. Durante a pandemia de Covid-19, ao contrário de Bolsonaro, defendeu a imunização da população e declarou que havia se vacinado, assim como toda sua família.
Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo publicada em junho de 2022, Tarcísio fez questão de dizer que tem diferenças importantes em relação a Bolsonaro. “Somos pessoas diferentes, com perfis diferentes. Eu tenho uma cultura muito voltada para o resultado. Não mantive uma postura ideológica na condução do Ministério da Infraestrutura. Sempre tive uma postura muito pragmática”, afirmou. Ele disse ainda que o governo Bolsonaro “teve muita entrega, mas pecou na narrativa em algumas questões”.
Também ao Estadão, em outubro de 2022, já depois de ter vencido o primeiro turno da eleição para o governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas se comprometeu a preservar parte do legado das administrações do PSDB caso eleito. Segundo ele, seu eventual governo “não vai ter tecla reset” nem “cavalo de pau”. “Não vou ficar trocando nome de programa, eu quero resolver problemas. Vou manter o que é bom e acelerar o que eu acho que está andando devagar.”
A versão “light” do bolsonarismo pode ter sido decisiva para levar Tarcísio ao segundo turno da eleição estadual, com boa vantagem sobre Fernando Haddad. O militar da reserva, ex-técnico do Dnit que migrou para a política, ex-ministro do primeiro time do governo Bolsonaro, garante estar pronto para encarar o maior desafio de sua vida. Um desafio do tamanho de São Paulo.