Nome completo: | Rosângela Lula da Silva |
Data de nascimento: | 27 de agosto de 1966 |
Local de nascimento: | União da Vitória (PR) |
Formação: | Socióloga com MBA em Gestão Social e Sustentabilidade e especialização em História |
Ocupação: | Primeira-dama (desde 2023) |
Em teoria, primeiras-damas, no Brasil, são anfitriãs do Palácio da Alvorada. No máximo, costumam eleger causas específicas com as quais se identificam, mas nunca as promovem sob um holofote que faça sombra ao cônjuge. Ao menos é assim que a vida das esposas dos presidentes da República costumava ser desde sempre. Entretanto, como não existe um job description para a função, de tempos em tempos surgem personalidades que se destacam por fugir do comum.
Até então, a última a conquistar esse espaço havia sido a socióloga Ruth Cardoso (1930-2008), esposa de Fernando Henrique Cardoso (que governou o Brasil de 1995 a 2002), reconhecida pela atuação acadêmica e por promover relevantes discussões sobre políticas públicas.
Desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o nome de Janja tem sido quase onipresente na política e na sociedade brasileira, atraindo admiradores e haters com a mesma intensidade.
Comunicativa, a atual primeira-dama, militante desde os 17 anos, divide opiniões mesmo em seu círculo mais próximo. Por alguns, é considerada controladora e “espaçosa”; enquanto outros elogiam a sua dedicação a pautas humanitárias, em especial na defesa da igualdade racial e da equidade de gênero.
No livro Janja, a Militante que se Tornou Primeira-Dama, os autores Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo destacam sua participação decisiva na campanha presidencial de Lula em 2022 e observam que ela já ocupa um espaço bem maior do que o tradicionalmente reservado às primeiras-damas. “Dificilmente, haveria ‘Lula 3’ sem Janja, assim como ela não seria o que é hoje sem o petista”, dizem os autores.
Janja faz questão de deixar claro que não gosta de ser chamada de primeira-dama. Ela considera o título decorativo e de importância secundária. “Prefiro Janja, esposa do presidente”, costuma dizer a socióloga.
Quem é Janja da Silva?
Rosângela Lula da Silva é uma socióloga nascida em 27 de agosto de 1966, em União da Vitória, no interior do Paraná. Filha caçula de Terezinha da Silva e José Clovis da Silva, ela se mudou com a família para Curitiba (PR) antes de completar 1 ano de vida.
Janja começou a militância política em 1983, aos 17 anos, quando se filiou ao PT e atuou na campanha das “Diretas Já”, pela retomada das eleições diretas no país. Em 1991, Janja se graduou em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) — também fez um MBA em Gestão Social e Sustentabilidade e uma especialização em História.
Em meados dos anos 1990, Janja foi professora na Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR), cidade em que vivia com o então companheiro, Marco Aurélio Monteiro Pereira, professor de História. Após o término da relação, que durou dez anos, Janja retornou a Curitiba para trabalhar na Assembleia Legislativa do Paraná como assessora parlamentar do PT.
Em 2003, primeiro ano do primeiro mandato de Lula na Presidência da República, Janja foi contratada pela Itaipu Binacional para atuar como assistente de diretoria. Na empresa, ela também coordenou programas voltados ao desenvolvimento sustentável.
Em 2012, foi morar no Rio de Janeiro (RJ) para trabalhar na Eletrobras, em assessoria de comunicação e relações institucionais. Em 2016, retornou para Itaipu, na qual permaneceu até 2020, quando deixou a empresa por meio de um programa de demissão voluntária.
Relação com Lula
Janja e Lula se conheceram ainda na década de 1990, quando o petista percorria o Brasil nas chamadas “caravanas da cidadania”. A ação, que durou de 1993 a 1996, tinha o objetivo de conhecer as reivindicações da população mais pobre do país.
Embora se conhecessem, o namoro só começou décadas depois, quando Lula já era viúvo de sua segunda esposa, a ex-primeira dama Marisa Letícia. Segundo pessoas próximas, Lula e Janja aproximaram na inauguração do campo de futebol Dr. Sócrates Brasileiro, em dezembro de 2018, na cidade de Guararema, interior de São Paulo. Janja foi uma das mais de 1.500 pessoas convidadas para o evento, que também contou com a presença de políticos e artistas.
Durante a prisão de Lula, que ficou detido justamente em Curitiba após ser condenado por corrupção em processos relativos à Operação Lava Jato (depois as condenações viriam a ser anuladas pelo Judiciário), Janja ajudou na organização das vigílias e o visitava quase diariamente. O relacionamento só se tornou público em 2019, depois de uma publicação de Luiz Carlos Bresser Pereira, amigo do hoje presidente, nas redes sociais. No post, o ex-ministro da Fazenda dizia que “Lula estava apaixonado” e que “a primeira coisa que ele vai fazer quando sair da prisão é se casar” — o que, de fato, aconteceu. O matrimônio foi selado em maio de 2022, em São Paulo (SP), em uma grande festa com a presença de políticos, artistas e celebridades.
Na época, apenas as pessoas mais próximas sabiam que a namorada de Lula era Janja, que tinha um comportamento discreto em suas redes sociais. Os brasileiros só viriam a conhecê-la, efetivamente, em 2019, quando a socióloga estava ao lado de Lula no discurso que marcou a saída do líder petista da prisão.
Janja participou ativamente da campanha eleitoral de Lula em 2022, subindo nos palanques, discursando junto do companheiro e até cantando jingles históricos do PT. Expansiva e desinibida, foi colocada na propaganda oficial do partido veiculada na televisão. Além disso, mobilizou artistas e influenciadores digitais durante a campanha e atuou na transição de governo, no fim de 2022, integrando a equipe que organizou a cerimônia de posse.
Participação política e polêmicas
Mesmo antes da posse de Lula, Janja dava opiniões sobre a montagem dos ministérios e chegou a influenciar o marido em algumas decisões. Uma delas foi o veto ao deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ) para o Ministério do Turismo, em meio a acusações de agressão à ex-mulher, que teria ocorrido em 2008.
A escolha de Margareth Menezes para a pasta da Cultura também teve o dedo de Janja, sob o argumento de que a nova gestão de Lula deveria se preocupar mais com a diversidade. Além de suas competências na área, Margareth atenderia a requisitos importantes para chefiar um ministério, na visão de Janja — ser mulher e negra.
Frequentemente, a comunicação espontânea e pouco protocolar de Janja a torna alvo de duras críticas, mesmo por parte de aliados. A primeira polêmica do novo governo veio à tona logo após a mudança do casal para o Palácio da Alvorada.
Nos primeiros dias na nova morada, Janja deu uma entrevista, sem avisar os canais responsáveis pela comunicação do governo, dizendo que alguns móveis estavam faltando na residência oficial. O caso revoltou a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro e resultou em uma indenização por danos morais ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no valor de R$ 15 mil, pois os móveis estavam guardados, e não sumidos, como Janja deu a entender.
Desde então, não foram poucas as “saias justas” de Janja que testaram a habilidade das equipes de comunicação do governo federal. Pelo fato de não ter um cargo oficial, sua presença em eventos como representante do Brasil é frequentemente contestada — como ocorreu na Olimpíada de Paris, em 2024, e em reuniões do G20 (grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia e a União Africana). Como se não bastasse, adversários de Lula chegaram a criar o “Janjômetro”, uma página na internet que promete revelar os gastos de Janja em troca do cadastro de internautas.
Apoio a projetos inclusivos
A despeito de todas essas polêmicas, a defesa da equidade racial e de gênero está sempre no radar da socióloga. Em outubro de 2023, com o seu apoio, o Ministério das Mulheres lançou o projeto “Brasil sem Misoginia”. Na ocasião, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, afirmou que o governo buscava atuar na prevenção do feminicídio e da violência doméstica, sexual e on-line, além de combater desigualdades sociais e econômicas entre homens e mulheres.
Outro projeto, desta vez focado na equidade racial, foi lançado em novembro de 2024, também com a participação de Janja. O “Raízes Comex”, capitaneado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), com o apoio do Ministério da Igualdade Racial, prevê a capacitação de profissionais negros no comércio exterior. Além do programa, a pasta comandada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) apresentou um estudo inédito sobre raça e diversidade no setor.