Luis Caputo: quem é o ministro da Economia do governo Milei

Com passagem pelo mercado financeiro, o economista foi ministro das Finanças e presidente do banco central argentino no governo Macri

Luis Caputo
Nome completo:Luis Andrés Caputo
Data de nascimento:21 de abril de 1965
Local de nascimento:Buenos Aires, Argentina
Formação:Graduado em Economia pela Universidade de Buenos Aires
Atuação política:Ministro da Economia no governo Macri (janeiro de 2017 a junho de 2018), Presidente do Banco Central da Argentina (junho a setembro de 2018), Ministro da Economia do governo Milei (desde 10 de dezembro de 2023)

Em 10 de dezembro, Javier Milei assumiu a presidência da Argentina, em meio a uma das mais severas crises financeiras de sua história recente. O escolhido para liderar a pasta da Economia – possivelmente a mais desafiadora do atual governo – foi Luis Caputo, ex-ministro das Finanças e presidente do banco central no governo de Mauricio Macri.

Assim que assumiu o ministério, Caputo anunciou um pacote de ações que contempla corte de subsídios e forte desvalorização do peso. Quanto à dolarização e o fechamento do banco central (duas das principais bandeiras eleitorais de Milei), informou que, apesar de continuarem como objetivos do governo, não serão uma meta de curto prazo.

“O objetivo permanece o mesmo, que é chegar à dolarização. Mas temos que sair dessa catástrofe primeiro e, por isso, atingir o déficit zero”, disse o ministro ao canal LN+.

Caputo classificou a atual crise como a “pior herança da história”. Ao mesmo tempo, reiterou a confiança no “plano de estabilização ortodoxo clássico” que o novo governo está implementando para controlar a disparada da inflação, que registrou alta anual de 148,2% em novembro.

Uma de suas primeiras missões será renegociar a dívida de US$ 44 bilhões que a Argentina tem junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Caputo afirmou que o acordo está sendo reformulado, mas não deu detalhes sobre as mudanças desejadas pelo governo.

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Quem é Luis Caputo?

Nascido em Buenos Aires, Luis Andrés Caputo é um economista formado pela Universidade de Buenos Aires e foi professor de Economia e Finanças na pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica da Argentina.

Mas foi no mercado financeiro que efetivamente fez carreira e ficou conhecido. No JP Morgan, foi chefe de trading no banco de investimentos, de 1994 a 1998. Posteriormente, comandou o Deutsche Bank na Argentina e a gestora de fundos Axis.

A passagem para a vida pública ocorreu em dezembro de 2015, no início do governo Macri. Na ocasião, a nova equipe econômica havia sido dividida em Fazenda e Finanças, e Caputo assumiu como secretário de Finanças. Pouco tempo depois, a secretaria foi transformada em ministério, com o economista ainda à frente da pasta.

Luis Caputo é primo de Nicolás Caputo, empresário da construção civil argentina e bastante próximo a Mauricio Macri, cujo apoio a Milei no segundo turno das eleições foi considerado um dos fatores decisivos para a vitória do candidato ultraliberal.

Negociação com os “fundos abutres”

Caputo participou ativamente das negociações junto aos holdouts – os chamados “fundos abutres”, responsáveis pelo litígio da dívida argentina.

Nos primeiros meses do governo Macri, o então ministro das Finanças foi a Nova York negociar com fundos especulativos uma dívida original de US$ 2,94 bilhões que já estava em US$ 9,88 bilhões. Isso porque, em 2012, esses fundos haviam conseguido uma sentença que determinava o pagamento do principal da dívida em default desde 2001, acrescido de juros.

Empréstimo junto ao FMI, Leliqs e o agravamento da crise

No início do governo Macri, a Argentina também tinha sérios problemas de déficit fiscal (embora de forma menos acentuada do que hoje), e o peso se desvalorizava fortemente frente ao dólar. Como ministro das Finanças, Caputo foi um dos responsáveis pela negociação do empréstimo junto ao FMI, em 2018. Dos US$ 57 bilhões aprovados pelo Fundo para a Argentina, US$ 44 bilhões foram liberados exclusivamente para a renegociação da dívida. 

Ainda em 2018, Caputo deixou o ministério para assumir o banco central argentino. Nesse mesmo ano, como parte dos esforços para conter a alta dos preços, foi criada na Argentina uma polêmica modalidade de empréstimo de curto prazo: as Leliqs (Letras de Liquidez do Banco Central), disponíveis apenas para os bancos. O objetivo era evitar que o governo precisasse emitir dinheiro, o que, teoricamente, faria a inflação cair.

Com as Leliqs, o banco central receberia dinheiro dos bancos e não o utilizaria, devolvendo somente os juros. Na prática, o esperado era que, com menos dinheiro em circulação, o peso voltasse a se valorizar. Mas não foi o que aconteceu, pois as Leliqs passaram a ser utilizadas também como forma de financiamento do governo argentino, o que se tornou um problema para os cofres públicos.

Caputo acabou ficando à frente do banco central por apenas três meses. Com o agravamento da crise argentina, afastou-se da presidência do órgão, alegando questões pessoais. Segundo a imprensa local na época, divergências com o então ministro da Economia, Nicolás Dujovne, podem ter motivado a sua saída.

Durante o breve período em que Caputo conduziu o banco central argentino, a taxa de juros do país passou de 40% ao ano para 60% anuais.

Expectativas quanto a sua atuação

Logo após ser eleito, Javier Milei disse em coletiva à imprensa que o primeiro desafio de Luis Caputo será lidar com a “bomba das Leliqs”. Segundo o presidente argentino, há riscos de uma hiperinflação caso não seja solucionado o atual quadro de “preços muito baixos e retornos muito altos” desses títulos.

Ao que tudo indica, Caputo parece contar com a aprovação do mercado financeiro e do empresariado argentino como ministro da Economia. Inclusive, o FMI chegou a elogiar as “ações iniciais ousadas” do novo governo. 

Por outro lado, há também quem esteja cético quanto à efetividade das medidas que a Argentina se comprometeu em tomar daqui para frente. Em entrevista à CNN, um empresário brasileiro que atua no país demonstrou preocupação com a piora no cenário econômico, já antecipada por Milei.

“Caputo deve ter seis meses, no máximo, de apoio dos empresários e da sociedade se conseguir mostrar resultado. Ainda assim, é um tempo curtíssimo para a economia e muito longo para as pessoas passarem por mais sufoco. Se os preços realmente foram liberados, ninguém sabe dizer se os empresários argentinos terão consciência política para segurar o estouro da inflação”, disse à emissora.

Outro aspecto apontado por especialistas foi a ineficácia das ações que ele realizou no governo Macri, como a negociação do atual empréstimo junto ao FMI. Há quem se refira a Caputo como o “Messi das Finanças”, mas é preciso entender que o apelido remete ao seu tempo de mercado financeiro.