Nome completo: | Mohamed Irfaan Ali |
Data de nascimento: | 25 de abril de 1980 |
Local de nascimento: | Ilhas Essequibo-Demerara Ocidental, Guiana |
Formação: | Doutorado em Planejamento Urbano e Regional pelo University of the West Indies – Jamaica |
Cargos políticos anteriores à presidência: | Ministro de Moradias e de Águas, ministro do Turismo, Indústria e Comércio, presidente do Comitê de Contas Públicas, vice-presidente do Comitê Setorial de Serviços Econômicos do Parlamento da Guiana. |
Em 2 de março de 2020, Irfaan Ali foi eleito o décimo presidente da Guiana, cargo que só viria a ocupar seis meses depois, devido à contestação de sua vitória nas urnas que levou à recontagem dos votos.
Independente desde 1966, a ex-colônia inglesa já protagonizou diversas instabilidades políticas, inclusive envolvendo disputas de territórios. E, a partir de 2015, as tensões locais ganharam um novo componente: a descoberta de petróleo em águas profundas na região de Essequibo.
As grandes jazidas impulsionam a economia do pequeno país pobre, de pouco mais de 800 mil habitantes. Segundo dados do FMI (Fundo Monetário Internacional), em 2022 o PIB (Produto Interno Bruto) da Guiana cresceu 62,3%, totalizando US$ 15,3 bilhões, o maior crescimento real do mundo.
De tempos para cá, a região tem novamente ocupado as manchetes internacionais, pois a Venezuela voltou a reivindicar direitos sobre o petróleo encontrado em 2015. Enquanto isso, Irfaan Ali marca presença entre a população guianense, da qual costuma estar próximo, segundo ele, “em defesa da soberania”.
Quem é Irfaan Ali?
Mohamed Irfaan Ali é um político e urbanista, nascido em 25 de abril de 1980 em Leonora, vilarejo pertencente às ilhas do Essequibo-Demerara Ocidental, na costa leste da Guiana. De família muçulmana com ascendência indiana, seus dois pais foram educadores.
Ali possui doutorado em Planejamento Urbano e Regional pela University of the West Indies, na Jamaica, e foi parlamentar entre 2006 e 2015. Em 2009, foi nomeado ministro de Moradias e de Águas. Pouco tempo depois, assumiu simultaneamente a pasta do Turismo, Indústria e Comércio durante o governo do Partido Popular Progressista/Cívico (PPP/C), ao qual é filiado há mais de 20 anos.
Como ministro de Moradias e de Águas, Ali foi responsável pela implementação da maior campanha de doações de terras que a Guiana já teve. Na época, foram distribuídos massivamente lotes a populações de diferentes regiões e camadas sociais do país.
Em 2015, seu partido foi derrotado nas urnas, e ele então se tornou presidente do Comitê de Contas Públicas e vice-presidente do Comitê Setorial de Serviços Econômicos do Parlamento da Guiana. Nesses cargos, destacou-se como uma das principais autoridades sobre finanças e economia.
Antes de ser eleito presidente da república, Ali também chegou a coordenar o Banco de Desenvolvimento do Caribe.
Eleições conturbadas
A eleição que levou Irfaan Ali ao cargo máximo do Executivo Federal foi marcada por turbulências e suspeitas de fraude.
O PPP/C era o partido de oposição, e disputava contra a coalizão Unidade Nacional e Aliança para Mudança (ANPU-AFC), cujo candidato era o atual presidente do país, David Granger. O pleito foi conturbado e resultou em contestações por parte de ambos os partidos.
Na ocasião, o então presidente David Granger pressionou por uma recontagem dos votos, ante mudança no protocolo de apuração ocorrida em um dos distritos eleitorais. Por sua vez, o PPP apresentou recurso assim que a votação terminou, quando observadores internacionais afirmaram que os resultados no distrito eleitoral mais povoado tinham sido inflados a favor de Granger. Esgotados todos os recursos e refeita a apuração, foi confirmada a vitória de Ali, com uma diferença de pouco mais de 15 mil votos, que deu ao PPP/C 33 assentos na Assembleia Nacional, contra 31 do bloco governista.
Em seu programa de governo, cujo slogan é “One Guiana”, o novo presidente priorizou ações nos campos político, econômico e social. Entre as ações contempladas no projeto, estão programas de distribuição de renda, redução de impostos, aumento salarial para servidores públicos e professores, construção de casas populares e incentivos à mineração e agricultura. Além disso, para evitar novas crises eleitorais, o governo também se comprometeu com reformas eleitorais e constitucionais.
Tensão entre Venezuela e Essequibo
Embora tenha retornado com força aos holofotes há pouco tempo, a tensão na região é secular.
Em 1899, quando a Guiana ainda era colônia britânica, um laudo arbitral internacional reconheceu a região oeste do Rio Essequibo como parte da Guiana Inglesa. A região corresponde a cerca de dois terços do território do país, e é justamente essa área que a Venezuela reclama para si.
Os dois países assinaram o Acordo de Genebra com o Reino Unido em 1966, quatro anos antes da independência da Guiana. Mediante a contestação venezuelana do laudo de 1899, que determinava as duas fronteiras, foi prevista a possibilidade de se criar uma comissão para “buscar solução satisfatória” para o impasse, algo que nunca ocorreu.
Com a descoberta de petróleo em Essequibo, o impasse voltou à tona com força. Em 2018, o assunto foi parar na Corte Internacional de Justiça (CIJ), quando a Guiana solicitou à autoridade a validação da decisão arbitral de 1899. Por sua vez, a Venezuela apresentou à CIJ objeção formal ao pleito da Guiana, reiterando sua discordância. Ainda não existe previsão sobre a decisão final da corte.
O salto que o PIB da Guiana deu a partir da descoberta de petróleo rendeu-lhe o apelido de “Dubai da América do Sul”. Em outubro de 2023, as jazidas de petróleo e gás somavam cerca de 11 bilhões de barris, o que coloca o país no 17° lugar do ranking mundial de reservas comprovadas.
Atualmente, a Guiana produz cerca de 380 mil barris por dia, e projeta chegar a 1,2 milhões de barris por dia em 2027.