Nome completo: | Henrique Bredda |
Local de nascimento: | Sumaré, interior de São Paulo |
Ocupação: | sócio e gestor da Alaska Asset Management |
Patrimônio sob gestão da Alaska | R$ 14 bilhões |
Quem é Henrique Bredda
Engenheiro naval formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Bredda mergulhou no mundo financeiro ainda durante a faculdade.
Aos 39 anos, é um dos principais gestores de fundos do país, quando o assunto é investimento em ações. Sob responsabilidade da Alaska Asset, gestora que ajudou a criar em 2015, estão R$ 14 bilhões de reais.
Bredda é o que se pode chamar de self made man. Sem herança (financeira, pelo menos) de família, começou investindo dinheiro dos outros. Primeiro de três filhos de um casal de agricultores de Sumaré, no interior de São Paulo, ele viveu até oito anos em um sítio onde o pai plantava tomate e batata.
Na casa de quatro cômodos (contando sala, cozinha e banheiro), a família toda dormia no mesmo quarto. A vida era modesta, mas estava longe da miséria, e o mais importante: os pais eram diligentes com a educação dos filhos.
“Lembro que ainda era criança quando ouvi a palavra ‘Unicamp’ pela primeira vez. Isso porque meu pai estudou até o ensino médio e minha mãe foi tirada da escola na oitava série pelo meu avô”, conta Bredda, referindo-se à Universidade Estadual de Campinas, que era pronunciada pelos pais como objetivo que os filhos deveriam perseguir.
Pois o primogênito passou não só no vestibular da Unicamp, mas também entrou no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e na USP. Detalhe: sem frequentar cursinho e tendo estudado boa parte do ensino básico em escolas municipais e estaduais.
Os sonhos do garoto de Sumaré sempre foram arrojados. Primeiro, queria ser piloto de corrida. Na verdade, queria mesmo ser um novo Ayrton Senna, mas desistiu ao concluir que se tratava de um esporte muito caro até para começar.
Depois, ficou vidrado em astronomia, mas percebeu que seria quase impossível se tornar um astronauta no Brasil, “e não queria acabar dentro de um laboratório de universidade, dependendo de dinheiro de governo para trabalhar e sobreviver”.
Decidiu cursar engenharia, porque acreditava que o curso lhe abriria as portas do mercado financeiro. Pelo menos, era isso que tinha lido em uma reportagem, em 1996, que mostrava que as grandes feras das finanças eram da área de exatas – e a maioria, engenheiro formados pela Poli, incluindo banqueiros, como os Setúbal, do Itaú.
“Até ali, eu não entendia nada de mercado financeiro. Apenas idealizava a área, que, para mim, era sinônimo de banco”, afirma.
Tomates, batatas e ações
Hoje, olhando em retrospectiva, diz que, anos mais tarde, entendeu que tinha contato com fundamentos do mercado desde a infância, observando o trabalho do pai na agricultura.
“No fundo, tudo é variação de preço, e eu era acostumado a ver o preço do tomate subir e descer o tempo todo por causa de algum fator. Sabia do risco da seca, da chuva em excesso, enfim, tudo é variação de preço”.
A entrada no sonhado mercado financeiro aconteceu no início do terceiro ano da faculdade, em uma consultoria pequena, onde ficava planilhando o balanço de empresas.
Em menos de um ano, tornou-se estagiário no Unibanco, na área de crédito corporativo, onde começou a aprendeu a ler balanço para valer.
Logo percebeu que seria importante um intercâmbio no exterior para melhorar o inglês. As melhores vagas de trainee ficavam com os colegas de faculdade que já tinham morado no exterior.
Com R$ 20 mil reais emprestados pelo pai, passou seis meses em Londres, estudando e trabalhando como garçom. Na volta, conseguiu emprego como analista de ações na Spinnaker, gestora inglesa especializada em mercados emergentes.
Foi o primeiro emprego em que Bredda passou a atribuir valor às empresas, de fato, e a operar ações. Isso foi em 2005. No final do ano, com o salário, pagou os R$ 20 mil ao pai. Nada mal para quem só terminaria a faculdade no seguinte.
A Spinnaker, porém, não era focada em ações. Seu forte era investimento em dívida. O passo seguinte foi a FVF Participações, o family office de Tom Valle (Antônio Carlos Freitas Valle), que havia sido sócio e tesoureiro do Garantia. A FVF cuidava do patrimônio da família e era focada em investimento em ações.
Seu primeiro dia de trabalho foi em 12 de setembro, uma sexta-feira. Na segunda, dia 15, o Lehman Brothers, o quarto maior banco dos Estados Unidos, pediu concordata e desencadeou a crise financeira global de 2008.
A experiência foi rica, mas foram oito meses vendo o mundo desabar. Fora isso, Bredda queria trabalhar em um fundo de capital aberto, onde pudesse conquistar recursos de novos cotistas e crescer.
Foi aí que surgiu a Ashmore, gestora britânica, que estava iniciando operação no Brasil e estava montando um fundo de ações. Um ex-chefe da Ashmore o convidou para trabalhar como analista de ações.
Degrau a degrau a carreira estava andando, mas estava longe das idealizações. Em pouco tempo, Bredda descobriu que a grife estrangeira não contava tanto para atrair o investidor brasileiro e que o grosso do capital administrado por uma asset estrangeira é administrado pela matriz. Sobrava pouco para o escritório brasileiro.
Sem caminho fácil
Em 2010, Bredda deixou a Ashmore e abriu a Skipper com outros sócios, entre eles, a Ângela Freitas, filha mais velha do fundador da Universidade Anhembi-Morumbi, que cuidava da área financeira da universidade.
A Skipper começou cuidando basicamente de investimentos da família de Ângela. Ela era a sócia capitalista que ancoraria a Skipper e o futuro parecia brilhante.
Mas os anos seguintes não foram fáceis para a Skipper nem para Bredda. Os desafios aumentaram para além da análise das empresas e das ações.
Formar um time com profissionais não só qualificados, mas que estejam alinhados com a filosofia do gestor principal não é tarefa simples. Sem contar a carga administrativa, que transforma a vida de toda pequena empresa um inferno em Terra.
“A coisa mais difícil do capitalismo é ganhar dinheiro. Não existe caminho fácil”, diz Bredda.
Havia, ainda, a necessidade de ganhar a confiança dos sócios. Bredda é o que se pode chamar de fundamentalista. Defende investimentos de longo prazo em ações escolhidas somente após uma análise profunda da empresa. Acredita que só após essa imersão é possível chegar ao valor do papel e, então, concluir se a ação está barata ou cara.
Segundo ele, é preciso lembrar que nem todo mundo tem sangue frio para optar pelo caminho de garimpar ações baratas e esperar até que o mercado chegue à mesma conclusão, comece a comprar até que o papel se valorize – e, aí, claro, vender e começar tudo de novo.
O Black, fundo criado em 1º de janeiro de 2012, já com sob os conceitos defendidos por Bredda, foi bem no ano de partida, com 38% de rendimento. Em 2013, perdeu 9% e, em 2014 caiu mais 15%.
Até aqui, tudo normal para quem investe com horizonte de longo prazo e coloca na conta a turbulência de uma eleição presidencial, o início das revelações de corrupção generalizada na Petrobras, com a Operação Lava Jato, sem contar a morte trágica de um dos candidatos à presidência com chance de vitória (o ex-governador Eduardo Campos, de Pernambuco, que faleceu em um acidente aéreo).
Mas, para quem está no começando uma empresa, a situação pesa.
O nascimento da Alaska
Após uma tentativa frustrada de fusão com outra gestora, a VentureStar, onde o irmão mais novo de Bredda trabalhava, veio a salvação. Ângela apresentou a solução.
Sugeriu uma conversa com Luiz Alves Paes de Barros, um dos brasileiros mais experientes no mercado de ações. Aos 72 anos e com um patrimônio pessoal estimado em mais de R$ 5 bilhões, ele fez fortuna em 50 anos de investimentos nas bolsas brasileira e americana.
Economista formado pela USP, foi sócio da Hedging-Griffo nos anos 1980, junto com Luiz Stuhlberger, um dos maiores gestores do país na atualidade.
Na época, Alves estava buscando uma equipe para abrir uma gestora. Três meses depois do primeiro encontro, no início de 2015, nascia a Alaska, acrônimo com as iniciais dos principais sócios: A (Ângela), L (Luiz Alves), SK (Skipper) e A (Asset).
Além da referência aos sócios, o nome Alaska também foi escolhido por remeter à região gelada e inóspita no Polo Norte, mas também exuberante em belezas naturais.
A ideia, segundo Bredda, era mostrar que “nossos fundos são para quem aguenta dor”. “Trabalhar com o Luiz me deu paz de espírito. A gente tem visões muito parecidas. Para mim, ele é o Buffett brasileiro e o grande mentor da Alaska”, afirma Bredda, referindo-se ao gestor e bilionário americano Warren Buffett.
O fundo Black, que foi junto para a Alaska, amargou mais um ano no vermelho, fechando 2015 com perda de 22%. A virada aconteceu no ano seguinte, quando rendeu 130%, três vezes mais que o Ibovespa.
“Foi uma combinação de acertos. O dólar caiu, e estávamos vendidos. Os juros caíram, e estávamos vendidos e apostando na queda. Na Bolsa, tínhamos uma carteira de ações que subiram forte, como Magazine Luiza, Rumo, Randon, Marcopolo, Aliansce Sonae”, resume Bredda.
A grande tacada
A virada de 2016 não teve uma razão única, mas o melhor investimento da Alaska atende pelo nome Magazine Luiza. A empresa tinha chamado a atenção de Bredda no ano anterior, por causa de um mal-entendido que lhe fez passar vergonha diante de Luiz Alves, o sócio bilionário com quem trabalhava havia poucos meses.
Luiz Alves havia mandado uma mensagem truncada, dizendo algo como “Magazine Luiza, queda, 40%”. Bredda entendeu que a ação estava caindo 40% — e o papel realmente vinha derretendo –, e que, portanto, deveria estudar a empresa para ver se a ação não estava barata e representava uma oportunidade de compra.
Mais do que depressa, Bredda marcou uma reunião com o diretor financeiro da empresa. Em seguida, conversando com Luiz Alves, descobriu que a mensagem, na verdade, queria dizer que o faturamento do Magalu estava caindo 40%.
Envergonhado, Bredda explicou que iria à reunião mesmo assim, para não ficar chato com os executivos da empresa. Mas Luiz Alves quis ir junto. Lá, perceberam que o negócio não era a bagunça que imaginavam inicialmente.
Entenderam que o setor, especialmente de eletroeletrônicos, estava sendo massacrado pela crise e sofria a ressaca das vendas de televisão de 2014, por causa da Copa do Mundo. Ambos também se surpreenderam com a qualidade das pessoas com quem conversaram. Mas voltaram para casa e continuaram tocando a vida.
Tempos depois, prestaram atenção em uma notícia que o mercado não deu muita bola. A Magalu fechou uma parceria com o BNP Paribas Cardif, braço de seguros da instituição financeira francesa, que lhe rendeu 330 milhões de reais de caixa limpinho, em troca da venda de garantia estendida de seus produtos por dez anos.
A varejista já tinha uma parceria com a Cardif havia anos, mas, a partir dali, passaria a vender outros tipos seguros. A entrada de capital de giro na empresa era um ponto que melhorava muito a situação da empresa, na opinião de Bredda e Luiz Alves. Fora isso, eles haviam percebido que a varejista vinha tocando projetos interessantes, como o de comércio eletrônico.
Era hora de comprar. E compraram. No início de 2016, quando a gestora começou a comprar o papel, a ação era considerada um mico, e oscilava abaixo de 30 centavos.
Perguntado sobre quanto o Black ganhou com Magalu, Bredda não dá uma cifra. Diz que seria uma conta complicadíssima, mas explica que, dos 130% de rendimento registrado pelo Black em 2016, a Magalu respondeu por 30 pontos.
“Quando começamos a investir, a empresa valia R$ 400 milhões. Continuamos comprando até ela cair para R$ 180 milhões, ou seja, a ação caiu mais de 50% até chegarmos na posição máxima na companhia. Depois disso, a ação não parou de subir e hoje a empresa vale cerca de R$ 150 bilhões em Bolsa.”
O fundo começou a vender as ações da Magalu em 2017, mas a empresa continuou sendo protagonista na carteira nos anos seguintes.
2016 foi um marco para a Alaska e para Bredda. “Até ali, eu não tinha nada”. Ou melhor, tinha carro e um apartamento, comprados com o salário dele e da esposa, com quem está casado há 20 anos e tem três filhas.
Os três anos seguintes também foram de ganhos para o Black: 74% (2017), 30% (2018) e 36% (2019). A título de curiosidade, o fundo foi batizado de “Black” por três motivos: 1º) remete a produto premium, como cartões de crédito pretos 2º) lembra os remédios tarja-preta, que são controlados e vendidos somente com receita médica 3º) por causa do álbum Black, do Metallica, lançado em 1991, o preferido da banda predileta de Bredda.
Os holofotes do mercado se voltaram para o Black e também para Bredda, que se tornou um dos investidores mais populares das redes sociais. Atualmente, tem 353 mil seguidores no Instagram e mais de 184 mil no Twitter.
O patrimônio da Alaska saiu de pouco menos de R$ 1 bilhão, no final de 2015, para cerca de R$ 14 bilhões atuais. Desse total, cerca de R$ 6 bilhões são de investidores estrangeiros, R$ 4 bilhões são dos próprios sócios da Alaska e os outros R$ 4 bilhões, de investidores individuais.
A rentabilidade do fundo, desde a abertura, está em cerca de 227% (em 9 de dezembro de 2020), contra 113% do CDI e 99% do Ibovespa. Entre janeiro de 2016, o pior momento do fundo, a janeiro deste ano, o melhor, o Black rendeu 840%.
“Poucos aguentam, poucos merecem”
Paciência e resistência a dor estão entre as características mais importantes de um investidor, segundo Bredda. Pois este ano, ele está tendo de exercitar as duas virtudes ao assistir o desempenho do Black, que chegou a cair 70% em dois meses, entre janeiro e março, e, segundo o próprio Bredda, deve fechar o ano na casa dos 50% negativos.
A sangria se deu, principalmente, pela escalada do dólar, que não estava no horizonte do gestor. Em 2015, o Black se desfez de ações estrangeiras e investe exclusivamente em empresas brasileiras.
Para proteger o portfólio, mantém posições em câmbio e juros. “Vamos ter de pagar essas perdas, é verdade, e, na nossa cabeça, vamos conseguir nos próximos meses”, afirmou ao InfoMoney.
Atualmente, Bredda mantém como tuíte fixado uma longa sequência de mensagens escrita em julho a seus seguidores. O objetivo declarado foi advertir os iniciantes do risco de investir no mercado de ações.
As mensagens, porém, também são um desabafo diante das críticas sofridas em razão das perdas acumuladas em 2020. Entre os principais trechos, que incluem bons conceitos e algum sarcasmo, o gestor do Black Bredda afirmou:
“Ganhar dinheiro via nossos fundos de ações é e continuará sendo extremamente difícil, doloroso e muito provavelmente você não aguentará ou não conseguirá suportar as dores do meio do caminho, necessárias para conseguir o ganho”.
“Livros não te ensinam tudo sobre paciência, disciplina, resistência a dor. Não adianta as pessoas te falarem como é. Somente sentindo na própria pele para entender o que é paciência, disciplina e resistência a dor. Ganhar dinheiro sem dor, disciplina, paciência e insistência não acontece”.
“Poucos aguentam, poucos merecem. Ainda dá tempo de você desistir e se poupar de frustrações. Não ‘aplique’ em nossos fundos. Já perdemos 50% em 3 anos seguidos de queda. Já perdemos 28% num único dia. Já perdemos as contas de quantas vezes já caímos 4% ou 5% num único dia. Dezenas.”
“E tudo isso tem grandes chances de se repetir novamente. Nós, aqui da Alaska, sabemos apanhar, sabemos como funciona. Montamos os fundos para nós mesmos, para nossas famílias, nossos pais e filhos. Deixaremos aberto enquanto for possível.”
Para saber mais
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- Fora da Curva 2: Mais investidores incríveis revelam seus segredos – e você pode aprender com eles (Florian Bartunek, Giuliana Napolitano e Pierre Moreau)
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