Geraldo Alckmin, ex-tucano e adversário do PT por décadas, vira vice de Lula

Veja os principais fatos de sua trajetória

Geraldo Alckmin
São Paulo – O governador Geraldo Alckmin fala sobre perspectivas e investimentos para 2016 na Associação Comercial de São Paulo (ACSP). (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Nome completo:Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho
Data de nascimento:07 de novembro de 1952
Local de nascimento:Pindamonhangaba, SP
Formação:Medicina
Profissão: Político
Partido:PSB, após 33 anos no PSDB
Cargo de destaque:Quatro vezes governador de São Paulo, vice-governador, deputado federal, deputado estadual, prefeito de Pindamonhangaba e vereador
FamíliaCasado, três filhos (um falecido em 2015) e quatro netos

Geraldo Alckmin é um médico e político brasileiro. Ele é pré-candidato a vice-presidente da República na chapa liderada pelo ex-presidente Luiz Inácio da Silva (PT) para as eleições de 2022. Quatro vezes governador do estado de São Paulo, é a pessoa que ocupou o cargo por mais tempo.

Antes, foi vice-governador, deputado federal, deputado estadual, prefeito de Pindamonhangaba, no interior paulista, e vereador da mesma cidade. Um dos fundadores do PSDB, integrou o partido por 33 anos, até dezembro de 2021.

Apesar do enorme sucesso em eleições para o governo estadual, não teve a mesma sorte em disputas para outros cargos executivos. Candidatou-se a prefeito de São Paulo em 2000 e 2008. Nas duas oportunidades ficou em terceiro lugar e não chegou ao segundo turno.

Tentou a presidência da República também por duas vezes, em 2006 e 2018. Na primeira, foi para o segundo turno, mas perdeu para Lula, então presidente e candidato à reeleição. Na última, terminou em quarto lugar. Jair Bolsonaro (PSL, hoje no PL) enfrentou Fernando Haddad (PT) na segunda rodada e saiu vencedor.

Numa manobra impensável há pouco mais de um ano, Alckmin começou a negociar no segundo semestre de 2021 a possibilidade de candidatar-se a vice na chapa de Lula. Durante a maior parte dos últimos trinta anos, PT e PSDB estiveram em lados opostos do xadrez político nacional, assim como o ex-governador e o ex-presidente.

Quem é Geraldo Alckmin

Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho nasceu em Pindamonhangaba, região do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, em 7 de novembro de 1952. Ele é filho do veterinário Geraldo José Rodrigues Alckmin e da professora Myriam Penteado Rodrigues Alckmin, e tem duas irmãs mais velhas, Maria Isabel e Maria Aparecida.

A mãe morreu quando o filho caçula tinha 9 anos. Alckmin foi criado pelo pai, com ajuda das irmãs e da babá, numa fazenda experimental do governo em Pinda, como a cidade é conhecida popularmente. Geraldo sênior era responsável pela propriedade.

Recebeu a educação católica do pai, devoto de São Francisco. “Meu pai falava: ‘Não vou deixar dinheiro para vocês, mas uma formação religiosa eu vou deixar’”, disse o ex-governador à revista Piauí em 2015.

A religiosidade da família veio da avó paterna, Ida Ravache. O tio do ex-governador, José Geraldo Rodrigues Alckmin, que foi ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), era da Opus Dei, instituição conservadora da Igreja Católica.

O jovem Geraldo entrou na Faculdade de Medicina da Universidade de Taubaté (Unitau), no Vale do Paraíba, em 1971. Logo entrou também na política.

Trajetória política

Em 1972, foi eleito o vereador mais jovem de sua cidade natal pelo MDB, partido de oposição durante o regime militar, e presidiu a Câmara Municipal em 1973 e 1974.

Em 1976, Alckmin se elegeu prefeito de Pindamonhangaba com apenas 67 votos de vantagem. Tomou posse em 1977, mesmo ano em que terminou a faculdade. Fez pós-graduação em Anestesiologia no Hospital do Servidor Público de São Paulo.

Chegou a ser chefe do Departamento de Anestesiologia da Santa Casa de Pinda. Durante os estudos e início da carreira política, ele ainda deu aulas na Fundação Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras e no Instituto Santa Tereza, ambos em Lorena, outro município do Vale do Paraíba.

Com a anistia e o fim do bipartidarismo imposto pela ditadura, em 1979 Alckmin entrou para o PMDB, sucessor do MDB. Hoje o partido voltou a adotar a sigla original. O mandato de quatro anos na prefeitura foi ampliado para seis em função de legislação aprovada pelo Congresso Nacional.

Em 1982, foi eleito deputado estadual, mesmo ano em que André Franco Montoro ganhou a disputa para o governo de São Paulo pelo PMDB. Em 1986, Alckmin elegeu-se deputado federal constituinte.

De acordo com informações do CPDOC da Fundação Getulio Vargas (FGV), na Assembleia Nacional Constituinte, Alckmin foi contrário à pena de morte, limitação do direito de propriedade privada, estabilidade no emprego, jornada semanal de 40 horas, estatização do sistema financeiro, limitação dos juros reais em 12% ao ano e ao mandato de cinco anos para o então presidente José Sarney (MDB).

Foi a favor do rompimento de relações diplomáticas com países que praticassem politicas de discriminação racial, da unicidade sindical e do voto a partir dos 16 anos. Votou contra a manutenção do presidencialismo, tema que voltaria ser discutido em plebiscito de 1993.

Em 1998, Alckmin entrou para o PSDB, do qual foi um dos fundadores. O novo partido foi lançado por egressos do PMDB da época, como Montoro, FHC, Mario Covas e José Serra. Na Câmara, o futuro governador foi relator do projeto de regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS), criado pela nova Constituição, e autor do projeto de lei do Código de Defesa do Consumidor (CDC).

Reeleito deputado em 1990, no ano seguinte ele se tornou presidente do PSDB de São Paulo. Em 1992, votou a favor do impeachment do então presidente Fenando Collor de Mello (na época no PRN, hoje no PTB).

Vice de Covas

Formou chapa com Mário Covas e elegeu-se vice-governador de SP em 1994, com mandato a partir de 1995. Defendia a reforma administrativa, o enxugamento da máquina, corte de despesas, privatizações e PPPs. Nesse sentido, foi indicado presidente dos conselhos diretores dos programas estaduais de Desestatização e de Parcerias com a Iniciativa Privada.

Assumiu o governo do estado de julho a outubro de 1988, quando Covas se licenciou para a campanha de reeleição. Com a chapa reeleita, voltou a ocupar a cadeira do titular em janeiro de 1999, pois o governador havia passado por uma cirurgia para extrair um tumor da bexiga.

Com apoio de Covas, Alckmin candidatou-se à Prefeitura de São Paulo nas eleições de outubro de 2000, vencida por Marta Suplicy, então no PT. Poucos meses depois, assumiu definitivamente o governo do estado com a morte de Covas, em 6 de março de 2001, após longa luta contra o câncer.

Logo no início de seu voo solo, Alckmin protagonizou um dos episódios mais inusitados de sua carreira política, quando Fernando Dutra Pinto, que havia sequestrado a filha de Silvio Santos, Patrícia Abravanel, invadiu a casa do apresentador dois dias após libertá-la e fez o dono do SBT de refém. O então governador foi pessoalmente negociar a libertação do empresário e a rendição do criminoso, o que ocorreu. Dutra Pinto morreu na cadeia quatro meses depois.

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Voo solo

Em 2002, Geraldinho, como era chamado pelos colegas de partido na época, foi reeleito governador de SP, vencendo o petista José Genoino no primeiro turno. Na reta final da campanha daquele ano, sua popularidade estava em alta e Serra, então candidato do PSDB à Presidência, colou parte de sua agenda na dele na tentativa de melhorar suas chances na corrida contra Lula. Mas Lula venceu, e nas eleições seguintes enfrentaria o agora aliado.

A contragosto da cúpula tucana, em 2006 Alckmin lançou sua candidatura à Presidência. Enquanto FHC, Serra, então prefeito de São Paulo, e Aécio Neves, governador de Minas à época, discutiam quem seria candidato à mesa do excelente e caríssimo restaurante Massimo, na capital paulista, o ex-prefeito de Pinda ganhava apoio de outras alas do PSDB para viabilizar sua intenções. O restaurante não existe mais.

O pleito ocorreu sob a sombra do mensalão, escândalo de compra de votos de parlamentares que abalou o primeiro mandato de Lula. Mas o bom desempenho da economia brasileira no período contribuiu para a vitória do petista. Alckmin acabou tendo no segundo turno menos votos do que no primeiro, algo inédito.

Em 2008, mais uma vez o ex-governador passou na frente das pretensões de outras lideranças tucanas. Lançou-se candidato a prefeito de São Paulo enquanto Serra, que deixara o cargo para concorrer ao governo do estado, apoiava seu antigo vice, Gilberto Kassab (então no DEM, hoje no PSD). Sem apoio integral do partido, sequer chegou ao segundo turno. Disputada por Kassab e Marta, a fase final foi vencida pelo primeiro.

Sem cargo eletivo, Alckmin assumiu em 2009 a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, na gestão Serra.

O retorno de Geraldo Alckmin

Em 2010, ele voltou ao cargo e se elegeu novamente governador, desta vez no primeiro turno. Mercadante, hoje coordenador do programa de governo da chapa Lula-Alckmin, ficou em segundo lugar.

Entre os desafios enfrentados pelo político no novo mandato estiveram as manifestações de junho de 2013, iniciadas em protesto contra o aumento das tarifas de transportes públicos. Assim como Haddad, prefeito da capital na época, Alckmin cancelou e segurou o reajuste temporariamente.

Muito mais grave, a crise hídrica colocou em risco o abastecimento de água em São Paulo em 2014, quando o Sistema Cantareira atingiu seu nível mais baixo. Isso não impediu que Alckmin fosse reeleito. Depois de captadas as cotas do “volume morto”, ele venceu mais uma vez no primeiro turno.

Nas suas várias passagens pelo governo paulista, Alckmin viu crescer a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), mas o policiamento foi reforçado e os índices de criminalidade caíram.

Não só em suas gestões, mas nos mais de 26 anos de comando tucano no estado, houve grande ênfase em rodovias e no transporte sobre trilhos. Ocorreram grandes investimentos na construção do Rodoanel, expansão do metrô e da malha da Companhias Paulista de Transportes Metropolitanos (CPTM).

A rede metroviária, porém, ainda está aquém das necessidades da capital e de  sua região metropolitana, e ocorreram diversos atrasos na entrega de obras ao longo dos anos. O Rodoanel também não foi totalmente concluído até hoje. Nos últimos anos, ocorreram denúncias de formação de um “cartel dos trens” e de desvios nas obras do anel viário de São Paulo.

Em 2018, quando Alckmin tentou a Presidência pela segunda vez, o PSDB teve seu pior resultado em eleições presidenciais. No segundo turno, ele optou pela neutralidade, não apoiando Bolsonaro, nem Haddad.

Geraldo Alckmin e sua família

Boa praça, contador de “causos” e piadista de salão, Alckmin é prudente e didático, às vezes repetitivo, em suas declarações. “Amassar barro” e “arregaçar as mangas” são alguns de seus bordões para se referir ao trabalho.

Ele é também calculista, como mostram os diferentes episódios em que articulou para fazer valer sua vontade dentro do PSDB; e pragmático, como revela sua aliança com Lula.

É torcedor do Santos Futebol Clube, grande tomador de cafezinhos e frequentador de padarias.

Casou em 1979 com Maria Lúcia Guimarães Ribeiro, a Lu Alckmin. Eles tiveram três filhos: Sophia, Geraldo e Thomaz. Em 2015, Thomaz, o caçula, morreu num acidente de helicóptero em Carapicuíba, na Grande São Paulo. O ex-governador tem quatro netos, duas meninas e dois meninos.

Nas eleições de 2018, Alckmin declarou um patrimônio de R$ 1,38 milhão, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Saída do PSDB

Os desentendimentos internos do tucanato que levaram à saída de Alckmin, porém, começaram antes, no aquecimento para as eleições de 2018. O então prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB) tentou se viabilizar como candidato do partido à Presidência, à revelia de Alckmin, governador à época e seu padrinho político.

Doria não conseguiu levar a estratégia adiante e se lançou para o governo estadual, colocando-se mais uma vez no caminho de Alckmin, que apoiava a candidatura de Marcio França (PSB), vice-governador na ocasião.

Alckmin teve menos de 5% dos votos válidos para presidente em 2018, ao passo que Doria foi para o segundo turno contra França e elegeu-se governador. Mesmo antes do primeiro turno, Doria flertava com o bolsonarismo, apesar de o PSDB ter candidatura própria, e no segundo turno adotou o slogan “BolsoDoria”, vinculando seu nome a Bolsonaro. Alckmin manteve-se neutro na segunda parte da disputa presidencial.

Numa reunião da Executiva Nacional do PSDB realizada após o primeiro turno, Alckmin fez duras críticas ao então correligionário, insinuando traição. “Traidor eu não sou”, disse, voltando-se para Doria. Na época, ele era presidente nacional do partido e o tom chamou a atenção, dado seu estilo tranquilo.

Sem cargo e com o aumento do poder de Doria dentro do partido, no primeiro semestre de 2021 Alckmin divulgou que deixaria o PSDB. Ele de fato se desfiliou do partido em 15 de dezembro de 2021, mas não sem antes manifestar simpatia ao ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, nas prévias realizadas pela legenda para definir seu pré-candidato a presidente em 2022, vencidas por Doria.

A disputa interna deixou marcas profundas na sigla e Doria não conseguiu consolidar seu nome nem no próprio tucanato, nem nas negociações com outros partidos que buscavam um nome de consenso para a chamada “terceira via”, uma alternativa a Lula e Bolsonaro. Acabou desistindo da pré-candidatura em 23 de maio de 2022.

Aliança entre Geraldo Alckmin e Lula

Geraldo Alckmin vice de Lula

Do outro lado, Lula procurava ampliar seu leque de alianças para além da esquerda, uma tentativa de repetir o que fez em 2002, quando formou chapa com o empresário mineiro José Alencar, fundador da Coteminas e então senador, para vencer o pleito.

O ex-presidente buscava — e ainda busca — criar pontes com um eleitorado mais conservador, de regiões onde não é tão popular, com o empresariado e amenizar a imagem de “radical” que ainda tem em alguns segmentos da sociedade. O objetivo: montar uma ampla coalizão de forças democráticas para fazer frente ao conservadorismo bolsonarista.

Alckmin tem sólida formação religiosa, é popular no conservador interior paulista e defensor de privatizações, concessões e parcerias público-privadas (PPPs). 

Ao deixar o PSDB, Alckmin foi cortejado por partidos como o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, Solidariedade, do deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, e PSB, de seu ex-vice Marcio França. Optou pelo último e se filiou em 23 de março de 2022.

Antes mesmo da confirmação de sua pré-candidatura, Alckmin começou a falar como vice da chapa de Lula. “Alguns podem estranhar. Eu disputei com o presidente Lula a eleição em 2006 e fomos para o segundo turno, mas nunca colocamos em risco a questão democrática, nunca. O debate era de outro nível, nunca se questionou a democracia”, declarou.

Os antigos adversários passaram a rasgar elogios um ao outro. “[Lula] é hoje o que melhor reflete, interpreta, o sentimento de esperança do povo brasileiro. Aliás, ele representa a própria democracia, porque ele é fruto da democracia. Não chegaria lá, do berço humilde, se não fosse o processo democrático”, afirmou Alckmin na mesma ocasião.

Em 13 de abril de 2022, o diretório nacional do PT aprovou a coligação com o PSB e a indicação do ex-governador como vice na chapa de Lula, apesar da resistência de integrantes da esquerda petista.

“Lula é um prato que cai bem com chuchu”, disse Alckmin em ato de lançamento da pré-candidatura de ambos, em 07 de maio, em referência ao seu próprio apelido. O petista respondeu que este será “o prato predileto de todo o ano de 2022 e se tornará o prato da moda no Palácio do Planalto a partir das eleições”. Além de PT e PSB, a coligação reúne PCdoB, PSOL, Solidariedade, PV e Rede Sustentabilidade.

O ex-governador participou do evento por videoconferência, pois estava com Covid-19. Em junho, foi a vez de Lula ficar em isolamento por causa da doença. Ambos não tiveram sintomas graves.

Desde então, os dois têm participado de atos de pré-campanha juntos e separadamente. Mas apesar do clima de lua de mel, alguns apoiadores ainda torcem o nariz para a aliança. Em meados de junho, Lula viu seu companheiro de chapa ser vaiado em Natal, no Rio Grande do Norte.

No dia seguinte, em Maceió, Alagoas, o petista saiu em defesa do aliado e disse ser necessário “juntar os divergentes para vencer os antagônicos”. No mesmo giro pelo Nordeste, em Aracaju, Sergipe, Alckmin deu nome aos bois. “O Bozo tirou o Brasil do mapa e o colocou no mapa da fome”, afirmou, referindo-se a Bolsonaro. A coligação recebeu o nome de “Vamos Juntos Pelo Brasil”.

Lula e Alckmin estão bastante afinados. Em 15 de maio, assinaram nota conjunta lamentando as mortes do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, assassinados enquanto viajavam de barco pelo Rio Itaquaí, no Vale do Javari, Amazonas. Pediram “rigorosa investigação do crime”.

“O mundo sabe que este crime está diretamente relacionado ao desmonte das políticas públicas de proteção aos povos indígenas. Está diretamente relacionado também ao incentivo à violência por parte do atual governo do país”, diz a nota.

Antigos rivais

Nem sempre foi assim. Afinal, os dois estiveram em lados opostos da política nacional nas últimas décadas. Recentemente, o petista disse que Alckmin foi contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.

Não é exatamente o que aconteceu. Então governador, Alckmin não apoiou de pronto a hipótese de afastamento da presidente e chegou a criticar a defesa do impeachment feita pelos líderes das bancadas do PSDB no Congresso, em 2015.

Em março de 2016, porém, passou a dizer que era preciso “virar a página” e concordou em “número, gênero e grau” com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) que, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, havia declarado apoio ao processo contra Dilma.

“Assistimos a economia derreter e vemos um quadro político de extrema gravidade que precisa ser abreviado”, declarou ele em abril de 2016. “O impeachment consolida o processo democrático e abre perspectivas para o país”, acrescentou em agosto.

Em dezembro de 2017, ao assumir a presidência nacional do PSDB e de olho nas eleições de 2018, declarou sobre a intenção de Lula concorrer no mesmo pleito: “Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder, ou seja, ele quer voltar à cena do crime”. O petista foi preso por ordem do então juiz federal Sergio Moro e impedido de disputar.

Alckmin tentou surfar a onda conservadora em 2018, atraiu o Centrão para sua coligação e a então senadora Ana Amélia (à época no PP, hoje no PSD), do Rio Grande do Sul, foi a candidata a vice. Ruralista e antipetista, a gaúcha era aposta de atração de parte do eleitorado que rumava para Bolsonaro. Não deu certo.

Em 2019, porém, as condenações contra Lula na Operação Lava Jato foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e ele voltou ao jogo político. O governo de direita de Bolsonaro perdeu popularidade com a gestão da pandemia, piora da gestão ambiental, fraco desempenho econômico, piora da inflação, aumento da pobreza e a retórica do presidente contra instituições democráticas.

O antipetismo esfriou e Alckmin contemporizou. “Nenhuma divergência do passado, nenhuma diferença do presente, nem as disputas de ontem nem as eventuais discordâncias de hoje ou de amanhã, nada servirá de razão para que eu deixe de apoiar e defender com toda a minha convicção a volta de Lula a Presidência do Brasil”, declarou ele, no ato de lançamento da chapa para 2022.

Novo rumo

O ex-governador tem incluído em sua agenda encontros com movimentos sociais tradicionalmente ligados à esquerda. Em junho de 2022, no Rio Grande do Sul, ele próprio avisou ao companheiro de chapa da inauguração de uma fábrica de laticínios do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) em Andradina, no interior de São Paulo.

“Associativismo e cooperativismo, onde um mais um é mais do que dois”, declarou Alckmin. “Aliás, presidente, o MST vai estar inaugurando uma grande fábrica de laticínios em Andradina. Cooperativa. Esse é o grande caminho”, acrescentou. 

No mesmo mês, Alckmin se reuniu com representantes de duas entidades do movimento LGBTQIA+, a Aliança LGBTI+ e diretores da Parada LGBTQIAP+, popularmente conhecida como Parada Gay, em São Paulo. “Discutimos a importância e a urgência da construção de legislações que protejam os cidadãos deste grupo vulnerável, garantindo progressos sociais e igualdade de direitos”, informou o político via Instagram.

Lula e Alckmin apresentaram a última versão das diretrizes do programa de governo da chapa, e foram incluídas sugestões dos sete partidos da coligação. A coordenação ficou a cargo do ex-ministro Aloizio Mercadante (PT).

Entre as propostas estão a “reconstrução” do país depois do “desmonte” promovido por Bolsonaro, “colocar o povo no orçamento” com base no desenvolvimento sustentável, adoção de política de preços pela Petrobras que desestimule  a inflação, “combate implacável ao desmatamento ilegal”, recomposição do papel indutor do estado, respeito às instituições democráticas e humanização do governo, medidas para atenuar os efeitos da pandemia, reforma tributária, revogação dos “marcos regressivos” das leis do trabalho, revogação do teto de gastos e criação de um novo regime fiscal, entre outras.

“Não se faz um programa de governo democrático em cima de motociata e jet-ski, mas é ouvindo a população e trabalhando”, afirmou Alckmin na ocasião, referindo-se a práticas de Bolsonaro. “Este documento foi construído por muitos e muitas, e continuará sendo discutido de forma democrática”, observou.

Apesar do clima de união, ainda há arestas a aparar nos acertos regionais da coligação. O PT tem o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como pré-candidato ao governo do estado, enquanto o ex-governador Marcio França é pré-candidato pelo PSB.

O PT espera que França desista do páreo, apoie Haddad e saia para o Senado, mas por enquanto Alckmin está ao lado de seu ex-vice. “Aqui em São Paulo, o nosso líder tem nome e sobrenome: Márcio França. Estamos juntos viu, Márcio. É Márcio aqui e Lula lá”, afirmou o ex-governador em evento em Osasco, na Grande São Paulo.

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