Florian Bartunek: conheça a trajetória e a filosofia de investimento de um dos gestores mais badalados do mercado

Florian Bartunek tem mais de 30 anos de experiência no ramo. Começou como analista no Pactual, depois montou uma empresa para administrar capital dos ex-sócios do banco garantia: Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.

Florian Bartunek
Florian Bartunek, da Constellation
Nome completo:Florian Bartunek
Data de nascimento:22 de abril de 1969
Local de nascimento:Áustria
Nacionalidade:Brasileira
Formação:Administração de empresas
Profissão: Gestor de fundos de ações
Empresa:Constellation, gestora com quase R$ 19 bilhões em ativos sob gestão

Florian Bartunek é um gestor de fundos de ações brasileiro. Ele é fundador, sócio e Chief Investment Officer (CIO, diretor de investimentos) da Constellation Asset Management, uma gestora de fundos sediada em São Paulo. Bartunek tem mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais, segmento em que começou a trabalhar quando ainda estava na faculdade, e é um dos profissionais mais badalados do ramo.

Nos anos 1990, Florian Bartunek geriu fundos de grande sucesso no banco Pactual e um portfólio de ações para o investidor norte-americano de origem húngara George Soros. Posteriormente, em 1998, ele fundou a Utor Investimentos ao lado do bilionário Jorge Paulo Lemann, com o objetivo de administrar os investimentos dos ex-donos do banco Garantia: Marcel Telles, Beto Sicupira e o próprio Lemann, hoje sócios na 3G Capital.

A 3G e seus fundadores ilustres são controladores da cervejaria multinacional AB InBev, que inclui a brasileira Ambev, a rede de lanchonetes Burger King e a marca de alimentos Heinz, entre outras. A fundação da Utor (“lucro”, em latim) ocorreu após a venda do Garantia para o Credit Suisse, quando os ex-proprietários buscavam novas oportunidades de investimentos.

Em 2002, a Utor virou Constellation e passou a aceitar clientes externos. Lemann ainda é sócio da gestora. Outro sócio é o fundo norte-americano Lone Pine Capital. A empresa tem entre R$ 18 bilhões e R$ 19 bilhões em ativos sob gestão, disse Bartunek em entrevista recente ao programa Mundos & Fundos, da Expert, plataforma de conteúdo da XP.

Os fundos da Constellation seguem a filosofia de investimentos de Florian Bartunek que, por sua vez, é fortemente influenciada pelas estratégias do magnata norte-americano Warren Buffett, da Berkshire Hathaway (BERK34). O gestor brasileiro resume sua doutrina em cinco princípios, que ele costuma citar em entrevistas e estão no livro Fora da Curva (ed. Portfolio Penguin, 2016), organizado por ele, o advogado Pierre Moreau e a jornalista Giuliana Napolitano:

1 – Bartunek recomenda investir em: empresas que tenham vantagens competitivas claras, que representem “barreiras” à entrada de competidores no mercado; companhias líderes em suas áreas de atuação por muitos anos; negócios com marcas fortes, que tenham condições de sobreviver aos altos e baixos da economia, e cujo alcance iniba a concorrência.

“A entrada [no setor] fica difícil para a concorrência”, afirmou o gestor no Mundos e Fundos. Como exemplo, ele costuma citar a Ambev (ABEV3).

O executivo reconhece que, do ponto de vista do consumidor, a eliminação da concorrência é ruim, pois há menos opções de produtos, serviços e preços; mas companhias com perfil de liderança se beneficiam desta dinâmica, e também seus investidores.

2 – Florian Bartunek sugere também um estudo profundo da empresa, de seus balanços e seus executivos. Para ele, o investidor só deve comprar ações de companhias bem administradas, com gestão financeira sólida e dirigidas por pessoas confiáveis. Isso envolve checar o histórico profissional dos diretores em busca de eventuais falhas.

O gestor gosta de negócios que tenham controladores definidos. “Empresas que têm ‘dono’ tendem a performar melhor”, afirma. A lógica é que proprietários acompanham mais de perto o dia a dia da empresa e o trabalho da administração, cobram e são mais propensos a arriscar ou inovar em determinados momentos. A comparação é com companhias que têm controle diluído.

3 – O executivo orienta a procura por empresas que tenham perspectivas de crescimento, mercados em expansão, receitas previsíveis e que não demandem capital em demasia.

4 – A estratégia de Bartunek é fundamentada no longo prazo. Em sua avaliação, boas empresas crescem com o tempo e suas ações se valorizam, apesar de eventuais oscilações. Nesse sentido, ele recomenda analisar a qualidade do negócio e não apenas o preço do papel na hora de investir.

5 – Para ele, não vale à pena tentar prever períodos de crise, mas escolher ações de empresas que tenham condições de resistir bem a momentos de incerteza. Embora a análise macroeconômica seja importante num país como o Brasil, sempre sujeito a turbulências, Florian Bartunek destaca como essencial o estudo da companhia e de seus negócios.

“Foco na análise fundamentalista e no longo prazo. O maior risco é vender num momento de pânico, por isso é importante conhecer bem a empresa”, diz. “Quem conhece bem está menos sujeito ao desespero”. Ele conta que leva de seis meses a um ano para decidir pelo investimento em uma companhia. “O importante não é prever o tempo, mas construir a Arca de Noé”, diz ele em Fora da Curva, parafraseando Buffett.

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Quem é Florian Bartunek

Florian Bartunek nasceu na Áustria em 22 de abriu de 1969, mas veio menino para o Brasil. Ele cursou Administração de Empresas na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e, em 1989, começou a trabalhar como estagiário na área de Marketing do antigo banco Nacional.

Em 1990, ano em que se formou, conseguiu um estágio como analista de investimentos no banco Pactual (hoje BTG Pactual), depois de responder a um anúncio afixado na PUC. A instituição financeira sediada no Rio era pouco conhecida na época. Os principais sócios eram o banqueiro Luiz Cesar Fernandes, o gestor André Jakurski, Renato Bronfman e o economista Paulo Guedes, hoje ministro da Economia.

Bartunek conta que o trabalho na época era bem diferente do que é hoje. Era comum acumular funções. Ele, por exemplo, no início trabalhava como analista e operador, coisa que atualmente não ocorre mais. Ele virou chefe do departamento de análise aos 22 anos e, posteriormente, passou a gerir recursos de fundos de pensão.

George Soros foi um de seus clientes no Pactual – Bartunek chegou a gerir um fundo de ações feito sob medida para o magnata. O gestor também cuidou dos fundos Andrômeda, o mais bem avaliado fundo de ações do Brasil por três anos, e o Infinity, considerado o melhor fundo offshore de ações do país por dois anos.

O executivo relata que o mercado na época era outro. Havia bem menos empresas listadas na Bolsa. As ações de estatais eram as mais negociadas. Ele conta que a antiga Telebras respondia por 80% do Ibovespa.

Quem chegou a acompanhar o pregão viva voz da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) na década de 1990 deve lembrar que os operadores ficavam aglomerados em três ou quatro grupos no salão, negociando um número igual de ações: Telebras, Petrobras e mais uma ou outra. Isso acontecia antes das privatizações da Vale, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e das empresas de telefonia.

Segundo Bartunek, o cenário macroeconômico era mais importante para os investidores do que o desempenho das empresas. Assim, era difícil traçar um panorama de longo prazo para as companhias. Na primeira metade da década de 1990, o Brasil ainda vivia sob uma inflação descontrolada, moeda super desvalorizada e dívida externa nas alturas.

Mesmo com a introdução do Plano Real, em 1994, que trouxe estabilidade monetária, a economia brasileira continuou a sofrer com choques externos – e eles foram muitos no final daquela década e no início da seguinte.

“Ganhávamos dinheiro no curto prazo, operando diferenças de preço”, diz Bartunek. “Sobrevivia quem não acreditava no país, era cínico e cético”, acrescenta. Ele se tornou sócio do Pactual em 1994 e ficou no banco até 1998.

O Pactual e o Garantia eram concorrentes no final dos anos 1990. Em 1998, Bartunek decidiu procurar empego no rival. Quando conseguiu marcar uma reunião com Lemann, os sócios tinham acabado de vender o banco. Acertou, então, tornar-se o gestor de uma nova empreitada, a Utor.

Bartunek passou então a trabalhar ao lado de Jorge Paulo Lemann. “São os chefes que fazem diferença na sua carreira”, afirma. O fundo surfou as várias crises da época. “Em 1998, com a crise da Rússia, as empresas ficaram baratas”, lembra.

Bartunek relata que começou a investir como faz hoje ao ler livro O Jeito de Warren Buffet de Investir, de Robert Hagstrom (ed. Benvirá). Em sua avaliação, não dava para aplicar o método no Brasil dos anos 1990, mas hoje é perfeitamente possível.

Em 2002, a Utor virou Constellation. “Não era o melhor momento para iniciar uma gestora de fundos de ações. O pensamento predominante era: o [ex-presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva] vai ganhar a eleição [de 2002], confiscar todo o dinheiro e o Brasil vai para o vinagre”, diz. O “pensamento” era o mesmo de 1989 e que ajudou a eleger Fernando Collor de Mello, o presidente que sequestrou a poupança dos brasileiros logo ao assumir.

Lula ganhou, depois se reelegeu e não confiscou nenhum valor. “O lado positivo é que, passadas estas dúvidas, pegamos uma fase muito rica e interessante de estabilidade da economia brasileira, que coincidiu com a evolução do mercado de capitais. Houve centenas de ofertas de ações e a Bolsa teve uma valorização impressionante”, afirma Bartunek.

Ele relata como sua rotina de trabalho mudou ao longo do tempo. “Se você olhar minha agenda, passo boa parte do dia em compromissos fora da gestora, nas companhias, falando com empresários e executivos. Acompanho o desempenho da Bolsa por alto – uma rotina bem diferente da que tinha no Pactual”, diz. “O objetivo é ganhar dinheiro no longo prazo”, acrescenta.

O carro chefe da Constellation é o fundo Constellation Institucional FIC FIA. De 2012, ano em que foi criado, até 2021, o fundo acumulou valorização de 154,27%. No mesmo período, o Ibovespa, índice de referência, teve variação positiva de 81,81%.

Como Florian Bartunek lida com crises

O executivo explica que olha para empresas que têm gestão financeira conservadora em momentos de crise, conseguem reduzir seu endividamento, controlar custos e consolidar sua liderança no setor, se possível. “Quem tem recursos deve aproveitar a crise para comprar concorrentes, ou reduzir preços e aniquilar concorrentes mais fracos”, afirma.

Bartunek cita o setor de educação como exemplo de atividade que pode resistir a turbulências macroeconômicas. Tirar os filhos da escola é uma das últimas coisas que os pais vão fazer em caso de dificuldades e certamente eles não vão fazer isso quando uma crise em outro país provocar fuga de capitais da Bolsa brasileira.

Para o gestor, o investidor deve escolher empresas com “história própria” e que se sustentem independentemente das condições macroeconômicas do país. Em sua avaliação, enquadram-se nesses critérios companhias como a fabricante de cosméticos Natura (NTCO3), a rede de drogarias RaiaDrogasil (RADL3) e a locadora de veículos Localiza (RENT3). “Elas vão bem independentemente da economia”, afirma.

Bartunek recomenda atenção também à adoção de práticas ESG (sigla em inglês para “responsabilidade ambiental, social e de governança”) pela companhia. “Governança é excludente”, afirma. Em sua opinião, não é possível “fazer bons negócios com más pessoas”.

O investidor deve observar ainda se a empresa coloca o cliente no centro de suas preocupações, o que ajuda a evitar a perda de consumidores para concorrentes. Ele lembra que os grandes bancos sentiram isso na pele recentemente, com o rápido crescimento de plataformas financeiras online. “Com a tecnologia, caiu muito a ‘barreira de entrada’ dos bancos”, afirma.

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Carreira além da bolsa

Paralelamente à administração da gestora, Bartunek fez uma série de cursos sobre investimentos, negócios e liderança nas universidades de Harvard e Columbia, nos Estados Unidos, e na Singularity University, instituição com foco em tecnologia. Ele foi também professor de Value Investing do IBMEC-SP, atual Insper.

“Value investment” é um conceito que, grosso modo, consiste no investimento em empresas com perspectivas de bons resultados ao longo do tempo e cujas ações estejam momentaneamente baratas. Ou seja, ações com potencial de grande valorização no longo prazo. Buffett é a grande referência nesse tipo de estratégia.

Bartunek é conselheiro do Instituto ProA, ONG de educação profissional; das fundações Lemann e Estudar, ambas voltadas à educação; da B3; da Laspau Harvard, organização que promove o ensino superior nas Américas; além de outras instituições. O gestor se dedica bastante à promoção da educação.

Ele é figura constante em entrevistas, seminários e outros eventos, nos quais gosta de falar de suas experiências pessoais, filosofia de investimentos, conjuntura e outros temas que possam auxiliar investidores “amadores” em suas decisões. O executivo tem uma filha adolescente, Carolina, que segue os passos do pai e fala sobre investimentos na internet.

Depois de Fora da Curva, Bartunek participou da organização dos livros de Fora da Curva 2 (2020), também com Pierre Moreau e Giuliana Napolitano, e Fora da Curva 3 (2021), com Moreau e a jornalista Ariane Abdallah.

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