Nome completo: | David Gary Neeleman |
Ocupação: | Empresário |
Local de nascimento: | São Paulo, SP |
Data de nascimento: | 16 de outubro de 1959 |
Fortuna: | R$ 7,9 bilhões* |
Quem é David Neeleman?
David Neeleman nasceu no Brasil, mas não por acaso. Ele é filho de Gary Neeleman, um americano membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, também conhecida como a Igreja dos Mórmons, que veio para o Brasil como missionário e se apaixonou pelo país.
Aos 5 anos de idade, David se mudou com a família de volta para os Estados Unidos, mas acabou seguindo os passos do pai: veio em missão religiosa para o Brasil, se encantou com as possibilidades do país e decidiu que voltaria para cá no futuro.
Mas demorou alguns anos para ele criar um negócio no Brasil. Antes disso, David fundou duas companhias aéreas nos Estados Unidos, a JetBlue e a Morris Air, e outra no Canadá, a WestJet.
Neeleman chegaria ao Brasil com a ideia de repetir o sucesso nos outros países em 2008, com a fundação da Azul, uma empresa que voaria com aviões menores, ligando cidades com pouca (ou nenhuma) rota aérea.
Com o sucesso da companhia, a empresa abriu seu capital em 2017 na Bolsa de Valores do Brasil e na Bolsa de Nova York: Neeleman se tornou bilionário. Na ocasião, ele vendeu apenas 3,53% de suas ações e ainda seguiu como maior acionista individual.
Em 2020, pouco antes da pandemia de coronavírus fechar os aeroportos pelo mundo, Neeleman fez uma nova empreitada: a companhia aérea Breeze Airways, que solicitou certificação ao Departamento de Transportes dos Estados Unidos e à Administração Federal de Aviação para operar linhas aéreas.
Com a nova companhia, quinta empresa de Neeleman no setor da aviação, a intenção era oferecer conexões diretas nos Estados Unidos entre lugares que atualmente não possuem esse tipo de serviço, repetindo a receita da Azul no Brasil, e se tornar a “companhia de linhas aéreas mais legal do mundo”.
A disseminação do Sars-COV-2, no entanto, fez com que David decidisse adiar o início das operações comerciais para o ano seguinte. Agora, a previsão é que a empresa decole em maio de 2021.
Família e formação
Nascido em Salt Lake City, nos Estados Unidos, Gary Neeleman, pai de David, é membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, também conhecida como Igreja dos Mórmons, e decidiu fazer levar sua religião para outros países como missionário.
Aos 19 anos, ele preencheu os papéis, mas não podia escolher para onde iria. E foi com surpresa que descobriu que seria enviado para o Brasil. Conhecia muito pouco do país, mas decidiu embarcar mesmo sem falar uma palavra em português (e nunca ter comido arroz e feijão).
Depois de acabada a missão, apaixonado pelo país, Gary voltou para os Estados Unidos com a ideia fixa de retornar ao Brasil. Casou-se com Rose, sua namorada da escola, e voltou com ela para São Paulo, trabalhando como correspondente da agência de notícias United Press International entre 1958 a 1965.
Nesse período, participou de importantes coberturas jornalísticas – como a inauguração de Brasília e o Golpe de 1964 – e acabou virando amigo de Juscelino Kubitschek.
Também foi no Brasil, em São Paulo, que nasceu seu segundo filho, David (o primogênito havia nascido em uma temporada nos Estados Unidos, antes de Gary fixar residência em São Paulo).
Mais dois irmãos de David nasceram no Brasil, mas a família decidiu retornar para os Estados Unidos, preocupada com a situação política no Brasil.
Aos cinco anos, David esqueceu seu português fluente e sem sotaque. Ele até retomaria a língua alguns anos depois, mas nunca mais conseguiu se livrar do jeito de falar a sua língua materna.
Criado em Salt Lake City, David seguiu os passos do pai. Aos 19 anos, também decidiu viajar o mundo em missão religiosa. Por coincidência (ou fé, como já disse em entrevistas), acabou enviado ao Brasil. Foi para o Rio de Janeiro e teve uma vida diferente daquela – cheia de privilégios – que conhecia por aqui. Viajou pelo Espírito Santo e alguns estados do Nordeste e ficou decepcionado com a falta de oportunidade para a maioria das pessoas.
Ele trabalhou como missionário no Brasil entre 1978 e 1980, até retornar para os Estados Unidos e retomar seus estudos na Universidade de Utah. Embora nunca tenha sido um aluno exemplar, devido ao um déficit de atenção, David percebeu que quando se interessava por algum assunto específico tinha capacidade de focar e estudar. Conseguia notas razoáveis, mas não queria seguir uma carreira corporativa: queria empreender.
E ele começou a empreender ainda na universidade, vendendo pacotes de viagem para o Havaí. Acabou indo trabalhar na Morris Travel, uma agência de viagens. O negócio começou a decolar quando ele e os sócios passaram a fretar aviões. Nascia assim a Morris Air, sua primeira empresa aérea.
Primeiro voo
Em 1992, quando começou sua primeira companhia aérea, a Morris Air, Neeleman decidiu resolver um problema que o incomodava: a dependência do bilhete para voar.
Quando um passageiro perdia a passagem, era como se tivesse perdido dinheiro. Ele queria implementar um sistema parecido com o que já era utilizado por hotéis que faziam reservas com apenas um número de confirmação. E conseguiu. Hoje, esse sistema é usado por muitas empresas aéreas do mundo – inclusive suas concorrentes.
O sucesso do novo sistema e dos resultados da companhia chamaram a atenção da Southwest, que comprou a Morris Air por US$ 129 milhões em 1993. Na negociação, Neeleman ganhou ações da Southwest e um cargo de executivo. Mas ele não durou muito tempo na estrutura hierarquizada da gigante.
Ao sair da Southwest, com US$ 25 milhões no bolso, Neeleman assinou um acordo de não-competição para não trabalhar (nem criar) uma nova companhia aérea nos Estados Unidos. Mas o acordo não mencionava outros países.
Então, Neeleman atravessou a fronteira para o Canadá. No país vizinho, criou a WestJet Airlines, uma das primeiras low costs, empresas aéreas que oferecem preços mais baixos nas passagens e condições mais modestas de viagem.
“The sky is blue”
Neeleman aguardou no Canadá a passagem dos cinco anos previstos no acordo de não-competição. Quando o prazo acabou, voltou para os Estados Unidos com um plano de negócio preparado. Em 1999, criou a JetBlue.
Apesar de ser low cost, a companhia queria oferecer uma melhor experiência aos passageiros e contava com o entretenimento como um de seus diferenciais. A ideia veio do próprio Neeleman que, com déficit de atenção, se entediava durante os voos. Sua solução foi colocar televisores em todos os assentos, algo que só acontecia em voos internacionais.
O céu era de brigadeiro para a companhia até o dia 11 de setembro de 2001, quando Neeleman viu, da janela do seu escritório, as duas torres do World Trade Center desabarem depois de um atentado terrorista.
O espaço aéreo americano fechou e a missão da companhia foi cuidar por quatro dias das centenas de passageiros que precisaram desembarcar em paradas não planejadas, até que as empresas aéreas pudessem decolar novamente.
Com as crescentes restrições aos voos e o receio dos americanos de voltarem aos céus, a companhia passou por dificuldades – como todas as outras empresas do setor – mas logo se recuperou.
Cinco anos depois, outra crise chegaria. Às vésperas do Dia dos Namorados nos EUA, uma série de passagens precisaram ser canceladas por causa do mau tempo inesperado. Com política contrária ao cancelamento de voos, a JetBlue demorou para perceber que não seria possível viajar naquelas condições e manteve os voos agendados.
Enquanto isso, muitos passageiros precisaram ficar horas dentro dos aviões aguardando a possibilidade de decolar – enquanto outros aguardavam nos aeroportos sem qualquer tipo de informação.
Quando a situação começou a sair de controle, Neeleman, que estava fora da operação, mas era o rosto mais conhecido da empresa, foi à público pedir desculpas e procurar formas de compensar os clientes. Mais de 1.700 voos da empresa acabaram cancelados e o incidente custou alguns milhões de dólares para a companhia. Custou também a permanência de Neeleman no comando da JetBlue.
Três meses depois do incidente, Neeleman foi forçado a sair da direção do conselho da companhia – embora tenha continuado como acionista.
Listen to “#38 – Azul: o empreendedor serial de companhias aéreas” on Spreaker.De volta ao Brasil
No ano seguinte ao fiasco do Dia dos Namorados, David Neeleman estava de volta ao Brasil com a ideia de recriar por aqui o mesmo sucesso que conseguiu nos EUA com a JetBlue.
Em março de 2008, Neeleman anunciou seu plano de criar uma companhia aérea para cidades do interior do Brasil, usando aviões de porte médio. Ele enxergava uma grande oportunidade na imensidão territorial do país e na ausência de rotas interligando cidades de médio. O empresário lançou uma grande campanha para batizar a companhia – embora Samba tenha recebido mais votos, escolheu o nome Azul.
Com o currículo recheado de sucessos, foi fácil conseguir dinheiro com investidores. Porém, Neeleman tinha aprendido uma lição com a JetBlue: era importante ter investidores, mas também era essencial controlar a empresa.
Mas havia espaço para outros erros. E um dos maiores foi receber o dinheiro dos investidores e transformar tudo em real. Com a crise de 2008, o câmbio e o preço do petróleo dispararam. Confiante na equipe que trouxe para o Brasil (e a que formou aqui), Neeleman conseguiu dar a volta por cima.
Como tinha um bom relacionamento com a Embraer desde a época da JetBlue, Neeleman decidiu investir nos aviões fabricados no Brasil para a sua nova companhia. De médio porte, os aviões gastariam menos combustível e poderiam pousar em aeroportos menores, barateando os custos da companhia. O plano funcionou.
Repetindo sua própria estratégia de sempre oferecer “algo a mais”, Neeleman colocou televisores em todas as poltronas e passou a oferecer internet nos voos.
Adepto do estilo “servidor” de liderança, Neeleman diz que os líderes precisam ajudar os funcionários a tomarem as melhores decisões para os clientes, mesmo que seja “correr com um cliente atrasado para o finger (o local de embarque) em vez de ficar checando dados”. Sempre que está à bordo de um avião de suas companhias, Neeleman pega o microfone para se apresentar aos passageiros e dizer que está à disposição para ouvir os clientes.
Em 2017, consolidando seu espaço nos hangares e no céu, a Azul abriu seu capital no Brasil e na Bolsa de Nova York, movimentando R$ 2 bilhões nos IPOs.
Atualmente, a companhia atende mais de 100 cidades brasileiras em uma malha de cerca de 250 rotas. Como companhia aérea única em 70% das suas rotas, a Azul é líder em 73 cidades brasileiras. Em 2019, transportou 26 milhões de passageiros e faturou mais de R$ 11 bilhões em 2019.
Com a chegada de 2020 e a pandemia do coronavírus, a companhia enfrentou grandes desafios para se manter voando. No começo de dezembro registrou um aumento de mais de 17% na demanda por passageiros – embora o dado represente uma queda de cerca de 30% em relação à demanda do mesmo mês no ano anterior, indicando que a companhia pode, enfim, estar levantando voo novamente.
Apesar de Neeleman não estar no comando direto da companhia, seu nome voltou às manchetes em abril, quando se desfez de 80% de suas ações preferenciais da Azul para pagar um empréstimo pessoal.
Outros ares
Além de criar a Azul e a JetBlue, Neeleman também entrou em um consórcio para comprar uma participação na aérea portuguesa TAP, em 2015.
Neeleman e o empresário Humberto Pedrosa detinham 45% das ações da companhia. Mas com a pandemia de coronavírus e seu impacto na indústria da aviação mundial, o consórcio teve sua participação comprada pelo governo português, que precisou fazer uma injeção de capital na companhia. Neeleman deixou o cargo no Conselho de Administração que havia ocupado desde 2015.
O empresário também se lançou em uma nova empreitada em 2020: a criação da Breeze Airways, que levaria para os Estados Unidos a mesma receita de sucesso da Azul no Brasil, oferecendo conexões diretas entre cidades americanas de médio porte.
Mas a disseminação do Sars-COV-2 fez com que David decidisse atrasar o início de suas operações comerciais para o ano seguinte. Agora, a previsão é que a empresa levante seu primeiro voo em maio de 2021.
Família
Casado com Vicki e pai de 10 filhos – cinco deles morando no Brasil – Neeleman não se mudou definitivamente para cá, mas está sempre no país e faz questão de reunir a família em uma viagem pelo menos uma vez ao ano.
Uma das filhas é empreendedora, outro filho tem gosto por aviação. Mas, ao menos por enquanto, nenhum deles começou a levantar os mesmos voos do pai.
Para saber mais
Livro
- Precious Memories (Gary e Rose Neeleman)
- O jeito mórmon de fazer negócios (Jeff Benedict)
Podcast