André Lara Resende: a voz dissonante da teoria econômica

Quem é André Lara Resende?

André Lara Resende é economista formado pela PUC (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), com mestrado pela FGV (Fundação Getulio Vargas), ambas do Rio de Janeiro, sua cidade natal. 

Possui ainda o título de Ph.D. em Economia pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos. Foi professor da PUC-Rio no início dos anos 1980, período em que, paralelamente, começou a ocupar cargos de destaque no meio corporativo. 

Tal época marca ainda a publicação do famoso artigo acadêmico intitulado “Larida”, uma junção do seu sobrenome com o do amigo Persio Arida, também economista. O foco era encontrar caminhos para neutralizar a inflação e Resende sugeriu uma troca do padrão monetário, ao passo que a proposta de Arida consistia, basicamente, em sincronizar forçadamente todos os contratos. Duramente criticado na época, o “Plano Larida” tornou-se na década seguinte um dos pilares do Plano Real. 

Resende integrou a diretoria do Banco Central (BC) em meados dos anos 1980, durante o governo José Sarney, período em que participou da elaboração do Plano Cruzado, ao lado de Arida (diretor da Área Bancária do BC) e dos ministros do Planejamento, João Sayad, e da Fazenda, Dilson Funaro, entre outros. A iniciativa de estabilização econômica teve um bom começo, mas acabou fracassando em seu principal objetivo, o de combater a inflação. 

Resende deixou o BC e ficou cerca de seis anos afastado da vida pública até que, em 1993, durante o governo Itamar Franco, foi negociador-chefe da dívida externa. Dois anos depois, com a eleição de Fernando Henrique Cardoso (FHC), tornou-se assessor especial da Presidência e integrou a equipe econômica que implementou o Plano Real. 

Em abril de 1998, assumiu a presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), função que exerceu por apenas sete meses. 

Ao deixar o comando da instituição de fomento, seguiu sua carreira na iniciativa privada, integrando conselhos consultivos e de administração de grandes empresas, além de ocupar cargos executivos.

Em 2018, após anos dedicados ao universo acadêmico, foi um dos assessores do plano econômico da então candidata à Presidência da República Marina Silva (Rede). 

Ele volta à cena política agora, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o Palácio do Planalto. No início de novembro, aceitou compor o grupo técnico econômico da equipe de transição de governo.

Resende tem cinco livros publicados, sendo que os dois primeiros, “Os Limites do Possível” (2013) e “Devagar e Simples” (2015), ganharam o Prêmio Jabuti na categoria Economia, Administração e Negócios. 

Em outra publicação, “Consenso e Contrassenso” (2020), reúne ensaios que criticam a visão dominante da teoria econômica – o que inclui a obsessão pelo controle fiscal e as leis clássicas usadas para prever ou explicar as relações entre moeda, inflação, juros e crescimento.

Entre outras questões, Resende prega o fim do teto de gastos e o investimento público como forma de impulsionar o crescimento do país. Apoia ainda uma agenda econômica com foco no social, que inclua principalmente educação e tecnologia.  

Sua obra mais recente é “Camisa de Força Ideológica”, lançado em meados deste ano, no qual discute o quanto a teoria convencional limita o poder financeiro do Estado.

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Herança literária e sólida trajetória acadêmica e corporativa

André Pinheiro de Lara Resende nasceu no Rio de Janeiro, em 24 de abril de 1951. Ele é o mais velho dos quatro filhos do casal Otto Lara Resende e Helena Pinheiro de Lara Resende. Segundo o arquivo do IMS (Instituto Moreira Salles), sua mãe se formou em serviço social e exerceu a profissão durante algum tempo. 

Ilustre jornalista e escritor, seu pai atuou em diversos veículos de comunicação, foi diretor do Jornal do Brasil e da Rede Globo de Televisão, e tinha no círculo de amizades nomes como Nelson Rodrigues, Fernando Sabino, Hélio Pellegrino e Paulo Mendes Campos. Com esses três últimos, formou um grupo batizado de “cavaleiros de um íntimo apocalipse”. Seu avô paterno, Antônio de Lara Resende, foi gramático e memorialista. 

Além da forte herança literária, Resende tem na família referências políticas. Seu avô materno, Israel Pinheiro, foi revolucionário de 1930 e deputado federal Constituinte por Minas Gerais, de 1946 a 1951. Manteve-se no cargo legislativo até 1956 e foi governador de Minas, de 1966 a 1971. Um dos seus tios, Israel Pinheiro Filho, também exerceu diversos mandatos como deputado federal por Minas.

Sua paixão, no entanto, é a Economia. Após o bacharelado e mestrado pela PUC e FGV do Rio, respectivamente, Resende conquistou o doutorado pelo MIT (EUA), em 1979. No retorno ao Brasil, lecionou no Departamento de Economia da PUC-Rio até 1988. 

Durante a década de 1980, paralelamente às atividades docentes e nos períodos em que não esteve no governo, ocupou cargos importantes no meio empresarial e financeiro. Tornou-se, por exemplo, sócio e diretor administrativo do Banco Garantia; diretor externo da Companhia Ferro Brasileiro e das Lojas Americanas; e diretor executivo da Brasil Warrant Administração de Bens e Empresas, holding do grupo Moreira Salles. 

Já no início dos anos 1990, foi diretor do Unibanco e depois sócio-diretor e um dos fundadores do Banco Matrix – que viria a ser, em 1995, a instituição financeira de maior rentabilidade do país, segundo informação da biografia de Resende nos arquivos da FGV. No mesmo ano, o banco seria acusado de obter informações privilegiadas sobre mudanças na política cambial. 

Outra denúncia viria a ocorrer no fim de 1998, obrigando Resende a deixar a presidência do BNDES. A acusação de ter privilegiado o grupo Opportunity no leilão de privatização da Telebrás derrubou também o então ministro da Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros. O processo seguiu diversas etapas e, mais de dez anos depois, a Justiça Federal confirmou a inocência dos réus por insuficiência de provas.

Em sua trajetória corporativa, Resende foi ainda membro do conselho consultivo das Faculdades Ibmec, do conselho de administração da Gerdau e do conselho consultivo internacional do Itaú Unibanco antes de ser tornar sócio-diretor da Lanx Capital Investimentos.

Sua vida acadêmica no exterior inclui, como destaques, o posto de pesquisador visitante da St. Antony’s College, da Universidade de Oxford (Inglaterra), e o de professor da Universidade Columbia (EUA).  

Em 2006, recebeu o prêmio de “Economista do Ano” pela Ordem dos Economistas do Brasil.

Assim como o amigo Persio Arida, e outros economistas renomados, Resende é um dos personagens do filme “Real – O Plano por Trás da História”, dirigido por Rodrigo Bittencourt e que se propõe a reconstituir os bastidores da criação do Plano Real. Na época em que foi lançado, meados de 2017, Resende disse ao jornal Valor Econômico que havia ignorado a película. “Eu não veria o filme de jeito nenhum”, afirmou. 

Apaixonado por ficção, ciclismo, aviação, hipismo e carros de velocidade, especialmente Porsches, Resende tem quatro filhos – três com a fotógrafa Cláudia Jaguaribe e um com Beatriz Rondon da Rocha Azevedo. 

Em um ensaio escrito para revista piauí, em janeiro de 2013, ele admite a fama de pessimista. “Nunca me importei com isso, considero quase um elogio”, afirma. “Refuto com mais indignação a acusação contrária, de um amigo fraterno, segundo a qual faço uso permanente de um par de óculos cor-de-rosa que não me deixariam ver a sombria realidade como ela é.”

No mesmo texto reflexivo, diz que talvez não possamos prescindir de algumas ilusões, sendo uma delas, com certeza, a esperança. Mas encerra com um alerta: “Quando a esperança se torna arrogante, traímos a esperança.”

Saiba mais

Biografia de André Lara Resende no FGV CPDOC – https://www18.fgv.br//cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/resende-andre-lara

Biografia de André Lara Resende no Cebri – https://www.cebri.org/br/especialista/789/andre-lara-resende