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(Bloomberg) — Os robôs estão com tudo no momento. Os CEOs sabem disso, o Vale do Silício sabe disso e até mesmo os robôs sabem disso (ou quase). Os investidores, naturalmente, querem ganhar dinheiro com o oba-oba. Mas a ânsia de comprar tudo o que ostenta a palavra “robô” criou disparidades de preços com jeito de bolha — a exemplo de quando um aspirador de pó rende o mesmo ágio que androides de última geração.
Outra história que serve de alerta é a da fabricante de robôs alemã Kuka e do fundo negociado em bolsa (ETF) que não deixa de comprar suas ações.
O fundo em questão é o Global X Robotics & Artificial Intelligence ETF, ou BOTZ, uma cesta de ações compilada pela Indxx. O fundo tem US$ 975,6 milhões em ativos líquidos e apresenta 56 por cento de retorno no ano até o momento, superando S&P 500 e Nasdaq. Os 10 principais ativos do fundo subiram em 2017, mas aquele que realmente compensou foi a Kuka — avançou incríveis 170 por cento.
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O intrigante é que a Kuka não é uma ação normal. O controle da empresa foi assumido no ano passado pela chinesa Midea, dona de 94,6 por cento da fabricante de robôs industriais, segundo dados da Bloomberg. Como o fundo soberano de investimentos da Noruega detém outros 2 por cento, não sobra muito da Kuka para ser negociado no mercado. Ainda mais curiosa é a velocidade com que a minúscula fatia da Kuka em ações de livre flutuação subiu. Avançou 50 por cento nas últimas três semanas.
O BOTZ pode ter parte da culpa. Fundo passivo, o BOTZ é, em si, uma espécie de robô que cumpre cegamente suas próprias regras de investimento. Isso o torna ao mesmo tempo barato e atraente. O robô reequilibra seus ativos uma vez por ano e sua missão é simplesmente acompanhar um índice. Ele não tenta ter desempenho acima da média, nem reage aos altos e baixos do mercado. Como anuncia em seu prospecto, o fundo é feito para segurar as ações até que o índice determine o contrário. Só segue ordens, como uma máquina.
E parece que a máquina simplesmente não consegue parar de comprar.
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Dados da Bloomberg mostram que, no fim de 2016, quando a Midea estava finalizando a aquisição de 37,6 milhões de ações da Kuka, o BOTZ detinha 1.425 ações. Mas desde então a participação do BOTZ disparou para 284.576 ações, ou 0,7 por cento, subindo a cada trimestre. É o único grande comprador no mercado. Em comunicado de 23 de outubro, o fundo informa que comprou 15.300 ações da Kuka. Naquele dia, o volume negociado na Kuka foi de 17.672 ações.
O BOTZ, agora, é um mercado em si.
Se o BOTZ fosse um gerente de fundos ativo, poderia haver um bom motivo para tudo isso: talvez a Midea tente algum dia absorver as participações minoritárias? Talvez as oportunidades de crescimento no setor de robótica sejam tão grandes que comprar o equivalente a 87 por cento do volume diário de uma ação valerá a pena no fim? Mesmo assim, um cliente do BOTZ poderia se perguntar por que o custo médio estimado por ação do fundo para uma minúscula participação na Kuka foi 25 por cento superior ao preço pago pela Midea por uma participação controladora.
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Mas, na qualidade de ETF, o BOTZ pode simplesmente estar cumprindo cegamente a função para a qual foi criado. Se o fundo reequilibrar os ativos, deixar de comprar ou começar a vender, o resultado pode ser doloroso.
Vale notar que nem todos os ETFs se comportariam dessa forma. A provedora de índices ROBO Global, usada por um ETF robótico rival, diz ter retirado a Kuka de seu índice de automação em 2016 quando a Midea assumiu o controle da empresa, segundo metodologia própria.
Talvez o toque humano não seja tão ruim assim, afinal.
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Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.