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Mesmo diante do forte rali registrado na Bolsa em junho, a equipe de análise da XP acredita que há espaço para valorização, diante de perspectivas melhores para o crescimento econômico, recuo da inflação e taxas de juros menores à frente. Não à toa, a casa alterou a visão de neutra para positiva em renda variável Brasil no segundo semestre.
Em apresentação feita a jornalistas nesta quarta-feira (5) sobre o relatório que trata das sugestões de alocações nos próximos meses, a XP ressaltou que o cenário mais positivo à frente não foi precificado totalmente pelo mercado acionário local. Entre os fatores citados pela casa para impulsionar a Bolsa estão a possibilidade de entrada de capital estrangeiro de forma mais forte, além do retorno dos investidores institucionais.
No acumulado do ano, o estrategista-chefe e head do research da XP, Fernando Ferreira, lembrou que a entrada de capital estrangeiro é positiva em cerca de R$ 20,8 bilhões, mas ponderou que o fluxo tem sido bastante “errático”, com destaque para alguns meses como janeiro e junho.
Outro detalhe mencionado pelo estrategista-chefe da casa é que os investidores institucionais locais e os próprios investidores pessoa física estão com alocações baixas no mercado acionário até agora. A XP admite que o sentimento mais negativo em relação à tomada de risco e os saques em fundos de investimentos têm dificultado essa volta ao risco.
Apesar dos avanços do Ibovespa ao longo deste ano, Ferreira pondera que o valuation (preço) da Bolsa segue descontado. Nos cálculos da casa, o principal índice da Bolsa brasileira é negociado a um preço sobre lucro projetado de 8,2 vezes e o valor justo do Ibovespa é de 130 mil pontos para o fim de 2023.
De olho em um cenário mais construtivo para Brasil, a XP também selecionou algumas das ações que mais podem ser beneficiadas. Entre os setores com foco no consumidor, nomes como Grupo Mateus (GMAT3), Vulcabras (VULC3) e Cury (CURY3) estão entre as preferências.
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Já em termos de qualidade, os destaques estão em Itaú Unibanco (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3). A equipe de análise também recomendou uma exposição ao setor de commodities por meio de ações como Prio (PRIO3), Petrobras (PETR4) e Irani Papel e Embalagem (RANI3).
Por outro lado, a casa diz que reduziu o peso de Vale (VALE3), devido a uma visão mais “cautelosa” em relação aos preços de minério de ferro em baixa, de olho na recuperação dos setores imobiliário e de infraestrutura na China.
A XP acredita que o Banco Central será capaz de iniciar o ciclo de flexibilização monetária a partir de agosto, com um corte de 0,25 ponto percentual, seguido por reduções de 0,50 ponto até encerrar o ano em 12%. Já para o fim de 2024, a projeção está em 10,50%.
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De acordo com Caio Megale, Rodolfo Margato, Alexandre Maluf e Tiago Sbardelotto, alguns fatores devem impulsionar esse cenário: queda nos preços ao produtor em diversos países, retração no mercado de crédito interno e alta nos índices de inadimplência, taxa de câmbio mais forte, recuo nas expectativas de inflação e manutenção da meta de inflação em 3% e alteração para o sistema de meta contínua.
Apesar da melhora nas projeções para a Selic deste ano e do próximo, o economista-chefe da casa, Caio Megale, disse que a corretora tem sido cautelosa ao estimar quando a taxa básica de juros poderá chegar a um dígito.
Segundo ele, há dois fatores que precisam ser monitorados: resistência da inflação e o fato de que o grosso do que recuou está ligado mais a grupos mais voláteis, como alimentos. Outro ponto de atenção está na parte fiscal.
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Embora o arcabouço fiscal esteja em fase de tramitação no Congresso e limite cenários de gastos desordenados, Megale afirmou que o projeto mostrou que a política fiscal do governo seguirá expansionista.
Bolsas americanas
Ao contrário do otimismo com a renda variável brasileira, a XP se mostrou mais cautelosa com a economia americana e disse que os mercados nos Estados Unidos estão “escalando o muro de preocupações”.
A casa pondera que o país parece ter conseguido postergar a recessão da economia americana, mas que ela deve vir em meados de 2024. A corretora lembrou que o mercado imobiliário passa por grandes desafios e que a produção industrial está contraindo, juntamente com as estimativas de lucro das empresas.
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“Fica difícil imaginar que a maior economia do mundo conseguirá escapar de uma recessão – mesmo que branda e não tão duradoura – antes de retomar o caminho do crescimento”, destacaram os especialistas da XP.
Para os profissionais, a forte alta dos índices americanos está ligada a uns pontos específicos, como a presença de companhias mais ligadas à inteligência artificial, incertezas quanto ao fim do ciclo de alta de juros, além da resiliência da atividade econômica americana e a reabertura da China.
Considerando uma projeção de preço sobre lucro para os próximos meses do S&P 500 e do Nasdaq, a XP calcula que os múltiplos dos índices estariam em 19,1 vezes e 26,9 vezes, respectivamente.
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Na visão da equipe, o rali das bolsas visto na primeira metade de 2023 só reforça a visão de que é preciso ter uma exposição à renda variável global como forma de diversificação de portfólio – ainda que com posições menores quando as perspectivas são um pouco mais “negativas”.
Um dos motivos para o menor otimismo com as ações americanas é que há uma chance de que haja uma correção das Bolsas dos Estados Unidos, a partir do momento em que houver piora na apresentação dos resultados ou dos guidances das empresas, segundo o estrategista global da XP, Paulo Gitz.
“A assimetria de risco e retorno ficou bem ruim depois dessa performance dos últimos seis meses. Conforme as expectativas forem sendo revisadas, vemos uma chance cada vez maior de ter uma correção”, destacou Gitz.