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A XP Asset, gestora de recursos da XP Inc. (XPBR31), está lançando em parceria com a Life Capital Partners (LCP) um fundo para captar R$ 800 milhões e investir nos direitos comerciais e de transmissão do Campeonato Brasileiro a partir de 2025.
A iniciativa inédita quer surfar em um movimento global de profissionalização do esporte e de crescimento de receitas de eventos esportivos nos últimos anos, principalmente com direitos de transmissão e de publicidade. A mudança envolve não só o futebol, como a Copa do Mundo e os campeonatos europeus transmitidos para cada vez mais pessoas, mas também a Fórmula 1 e outros esportes que têm conseguido se beneficiar desse amadurecimento do mercado. Fenômeno que, no Brasil, abre muitas avenidas de negócios.
Os cotistas que investirem no fundo Sports Media Futebol Brasileiro Advisory terão direito a uma participação nas receitas de publicidade de 26 clubes como Botafogo, Coritiba, Cruzeiro, Internacional, Fluminense, Fortaleza e Vasco, que fazem parte da Liga Forte de Futebol (LFF) e do Grupo União. Outros clubes, como Corinthians, Flamengo, Grêmio, Palmeiras, São Paulo e Santos, fazem parte de um outro grupo, a Libra.
A LFF e o Grupo União assinaram um acordo de quase R$ 2,8 bilhões para vender 20% dos direitos de transmissão e de publicidade dos 26 clubes no Campeonato Brasileiro, pelos próximos 50 anos, para um grupo de investidores (dos quais os cotistas do fundo passarão a fazer parte). A Libra fez um acordo similar com outros investidores.
Segundo Bruno Castro, CEO da XP Asset, o fundo vai democratizar o acesso aos investimentos em futebol, hoje restritos a grandes investidores, e “criar um ciclo virtuoso para o nosso esporte nacional”. A tese de investimento do fundo leva em conta a perspectiva de aumento da arrecadação com os direitos de transmissão e publicidade do Brasileirão, em grande medida por causa da negociação em bloco dos clubes, organizados em ligas independentes. E também leva em conta uma maior profissionalização dos clubes e do futebol brasileiro; a capitalização dos clubes, “que tira a pressão de curto prazo e permite negociar melhor com as emissoras”; a fragmentação de direitos de transmissão; e a venda dos direitos no exterior.
Os R$ 800 milhões que a XP quer captar servirão para pagar parte dos R$ 2,8 bilhões acordados com a LFF e o Grupo União. Em troca, os cotistas terão uma participação entre 5% e 6% nas receitas geradas pela venda dos direitos do Brasileirão a partir de 2025, além de outras frentes de receita comercial como naming rights, patrocínios e publicidade.
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O Sports Media Futebol Brasileiro Advisory será fechado, com prazo de duração de 10 anos (prorrogáveis por mais 2 anos), e voltado para investidores qualificados por uma exigência regulatória. A aplicação mínima será de R$ 10 mil, com taxa de administração de 2% ao ano e de performance de 20% sobre o que exceder o benchmark IPCA+7%. As aplicações no fundo devem começar na próxima semana e vão até o fim do mês.
O CEO da XP Asset diz que o fundo terá distribuição de dividendos a partir de 2025 e que eles serão “pelo menos anuais”, mas com o objetivo de tornar a distribuição semestral. Ao final do prazo de existência do fundo (10 ou 12 anos), a ideia é vender a participação que os cotistas têm na receita desses 26 clubes e distribuir o valor aos cotistas.
Castro vê como possíveis cenários para o desinvestimento do fundo, após o prazo de 10 a 12 anos, uma venda da participação para um player estratégico — ou um outro fundo — e até uma listagem na bolsa, através de um IPO (oferta pública). Sobre os possíveis riscos do investimento, o CEO da asset diz que “o grande risco do fundo é a venda e comercialização das transmissões e da publicidade não conseguirem uma valorização do Campeonato Brasileiro”, com as partes envolvidas não conseguindo “extrair mais valor” do produto.
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Para Carlos Gamboa, sócio da LCP, esse mercado vai amadurecer ainda mais nos próximos anos e deve se expandir para outras modalidades. “É só o começo de uma nova era nos investimentos em esporte”, afirma Gamboa em nota. “Nós estamos muito empolgados em ajudar os clubes e a liga brasileira a crescerem”.
Futebol como negócio
Castro, da XP Asset, dá como exemplo de um possível aumento nas receitas do Brasileirão, o que a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) fez com os direitos de transmissão das suas copas, a Libertadores e a Sul-Americana. Ela vendeu pacotes separados para televisão aberta, TV a cabo, serviços de streaming e transmissão pela internet, como já fazem outras entidades e ligas pelo mundo.
Ele também destaca o fato de pouco mais de 1% da receita total do Campeonato Brasileiro vir atualmente da venda de direitos de transmissão em outros países. “Algumas das maiores ligas de futebol do mundo vêm sendo potencializadas por esse modelo de negócio, e o futebol brasileiro terá a oportunidade de atingir todo o seu potencial de geração de receita e visibilidade”.
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No Brasil, a Lei das SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol), que permite a transformação dos clubes em empresas, abriu espaço para uma maior profissionalização do esporte e um salto nos negócios — em particular os relacionados aos direitos de transmissão. Com base na nova legislação, investidores compraram recentemente clubes como Bahia, Botafogo, Coritiba, Cruzeiro e Vasco.
Os atuais contratos de transmissão do Brasileiro foram negociados individualmente pelos clubes e acabam em 2024. Agora, os clubes estão formando blocos para negociar esses direitos a partir de 2025 e também estão tentando organizar por conta própria, através de uma liga, o campeonato — que hoje é gerido pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol). O intuito é que a gestão independente do torneio impulsione a negociação dos direitos de transmissão, como já ocorreu em ligas como a espanhola (LaLiga) e a francesa (Ligue1).