Volatilidade desafia até os algoritmos: para onde os fundos quantitativos estão olhando na hora de investir?

Carteiras, que operam com base em complexas fórmulas matemáticas, superam outros multimercados, mas perdem para o CDI no ano

Ana Paula Ribeiro

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O que acontece quando a alocação de um fundo fica “nas mãos” (se é que se pode dizer assim) de um conjunto de fórmulas matemáticas?

Os fundos quantitativos, baseados em algoritmos complexos, tentam tomar decisões após identificar determinados padrões de ganhos ou perdas dos ativos. Em um cenário com tantas incertezas, locais e externas, o que essas carteiras estão enxergando de diferente em relação aos gestores “humanos”?

Normalmente, os fundos quantitativos apresentam desempenho melhor em momentos de volatilidade exagerada, já que os algoritmos procuram capturar movimentos que não são perceptíveis por uma análise tradicional, por exemplo.

Este ano, no entanto, está desafiando até mesmo os robôs. Entre janeiro e março, os fundos multimercados do tipo “trading” – categoria em que muitos fundos quantitativos são enquadrados – apresentaram ganhos de 2,57%, na média, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

É mais do que outros tipos de multimercados conseguiram. Os da categoria “macro”, por exemplo, tiveram ganho de 1,51%, enquanto os multimercados do tipo “livre” somaram rentabilidade de 1,14% e os de “investimento no exterior”, de 0,27%. As três categorias são as mais representativas entre os fundos multimercados.

Porém, o desempenho ficou abaixo dos 3,25% da taxa do CDI, indicador de referência para muitos fundos multimercados, no mesmo período.

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Uma das gestoras de fundos quantitativos mais antigas, também conhecidos como sistemáticos, é a Kadima Asset Management. No acumulado do primeiro trimestre, o multimercado Kadima II FIC registrou um ganho de 2,20%.

Esse rendimento foi alcançado, principalmente, por ganhos nos mercados de dólar e títulos públicos corrigidos pela inflação, as NTN-Bs (ou, como são chamadas no Tesouro Direto, os Tesouro IPCA+).

Trata-se de um fundo que opera em diferentes mercados, e há algoritmos para analisar cada um deles. Segundo a gestora, um modelo que apresentou performance positiva foi olhar as tendências de longo prazo no mercado de juros futuros.

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Mas os números – ou, no caso, os algoritmos – também erram, e o Kadima II FIC registrou perdas nos modelos de tendências de curto prazo que operavam juros e dólar, assim como a operações com ações na Bolsa brasileira.

“Acreditamos no potencial da estratégia do fundo, composta por uma combinação de modelos matemáticos e estatísticos. Nossa área de pesquisa vem empenhando-se em desenvolver novos modelos e melhorias que contribuem para termos confiança na capacidade do fundo de gerar bons resultados no longo prazo”, explicou a Kadima em carta aos cotistas.

O Kadima II foi criado em 2008 e, desde que foi lançado, têm ganhos acumulados de 317,9% – ante 277,9% do CDI.

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Outra gestora especializada em fundos quantitativos é a Giant Steps. As duas carteiras principais da casa são o Zarathustra e Darius. No ano, o primeiro tem um retorno negativo de 1,52% e, no trimestre, de 0,13%.

Segundo carta da gestora aos cotistas, o que contribuiu de forma negativa foram as posições tomadas em juros no exterior (apostando na queda das taxas) e compradas em ações (na expectativa de alta dos ativos). Já os ganhos, que não foram suficientes para compensar as perdas, vieram das posições dos algoritmos que apontaram a possibilidade de ganho em dólar contra o real e commodities.

Já para este mês, a posição é ter ganhos com juros e ações no exterior. “O fundo começa abril com posições aplicadas em juros no Brasil e neutras no offshore [exterior]. Em equities, o fundo segue comprado na maior parte das bolsas estrangeiras e vendido na Bolsa brasileira”, diz o documento. Além disso, o fundo segue vendido em dólar contra real (apostando na queda da moeda americana), comprado em commodities energéticas e vendido nas demais.