Verde vê queda do dólar como técnica e diz que fiscal pode voltar a pressionar câmbio

Gestora aponta que mercado deve voltar a exigir prêmios maiores com avanço da agenda fiscal; fundo rendeu 1,64% em janeiro

Paulo Barros

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A gestora Verde Asset atribuiu a recente valorização do real frente ao dólar a fatores técnicos do mercado, sem grandes mudanças nos fundamentos econômicos. Em sua carta de janeiro, divulgada na noite de segunda-feira (10), a casa destaca que o câmbio e os juros locais começaram o ano pressionados por um posicionamento extremamente pessimista dos investidores, o que gerou um movimento de descompressão quando não surgiram novas notícias negativas.

“O mercado fechou o ano passado com posicionamento bastante pessimista no câmbio e nos juros, ao mesmo tempo que o Banco Central vendeu uma quantidade substancial de dólares. Sem notícias incrementalmente negativas, vimos até aqui uma descompressão deste posicionamento, que permitiu que os preços melhorassem”, escreveu a casa chefiada pelo renomado gestor Luís Stuhlberger.

Apesar do alívio pontual, a Verde espera que a discussão sobre a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda reacenda preocupações fiscais, o que pode levar a uma demanda maior por prêmios de risco nos ativos brasileiros.

Diante desse cenário, a gestora continua com posições reduzidas na bolsa local e voltou a aumentar sua exposição global. No mercado de juros, mantém uma posição aplicada (que se beneficia da queda) em juro real e inclinação na parte longa da curva nominal.

Trump e incertezas globais

A Verde também destacou o impacto do governo de Donald Trump nos mercados internacionais. Segundo a gestora, a volatilidade observada nas últimas semanas reflete a tentativa dos investidores de entender quais medidas da nova administração terão efeito prático e quais são apenas ruído político.

“Como é comum em trocas de liderança política, os mercados buscam recalibrar suas estimativas sobre como os governos decidem, a quais estímulos reagem, e quais são os limites – reais ou imaginários – que seu raio de ação tem”, apontou a gestora. “No caso do novo governo americano, um dos grandes desafios – já experimentados no seu mandato anterior – é a separação entre o que é ruído e o que é sinal”, completou.

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A gestora chama atenção para a surpresa com a menor intensidade de medidas protecionistas contra a China até o momento, em contraste com as tarifas anunciadas contra outros parceiros comerciais. Frente a esse ambiente incerto, a Verde decidiu zerar suas posições em moedas ao longo de janeiro.

Resultados do fundo

No mês, o fundo Verde teve um retorno de 1,64%, superando o CDI, que avançou 1,01% no período. Os ganhos vieram principalmente das posições em inflação nos EUA, juros no Brasil e operações de trading. Por outro lado, a gestora registrou perdas com a exposição ao Renminbi chinês e com a posição vendida em bolsa brasileira.

Além das movimentações mencionadas, a Verde mantém alocações em criptoativos, uma pequena posição comprada em petróleo e exposição a crédito high yield tanto local quanto global.

Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas