Verde, IP, Vinland e XP explicam por que é hora de investir nas ações das “big techs” nos EUA

Verde dobra aposta em ações globais de tecnologia em junho, enquanto IP Capital tem no Facebook maior posição da carteira

Lucas Bombana

(Getty Images)
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SÃO PAULO – Após o protagonismo durante o período mais agudo da pandemia, que abarcou boa parte do ano passado, as ações das grandes empresas globais de tecnologia têm atravessado uma nova fase em 2021.

A preocupação na cabeça de parte dos investidores quanto ao risco de alta da inflação e dos juros na maior economia global tem contribuído para que o índice da bolsa americana Nasdaq, que reúne as principais empresas de tecnologia do mercado, não esteja conseguindo repetir o desempenho destacado frente aos pares como em 2020, embora siga no campo positivo.

Em 2021, até junho, o benchmark do setor de tecnologia sobe 12,5%, contra os ganhos de 14,4% do S&P 500 no período. Apesar da alta, em 2020, a valorização do Nasdaq havia sido de 43,6%, ante os ganhos de 16,3% do par de maior abrangência.

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Há, contudo, aqueles que enxergaram no momento uma oportunidade, com as ações de “tech” já tendo experimentado alguma recuperação mais recentemente – em junho, o índice da Nasdaq subiu 5,5%, enquanto o S&P 500 avançou 2,2%.

O gestor da Adam Capital, Márcio Appel, chegou a declarar recentemente ter dificuldades de entender a razão para as ações das big techs estarem sendo negociadas a preços “inexplicavelmente baratos”.

“O risco de inflação existe, e acompanhamos de perto, mas é bastante improvável que o aumento dos juros venha a eliminar toda a geração de valor que essas companhias vão ter no futuro”, defende Leonardo Otero, gestor do fundo Arbor Global Equities, focado em ações de tecnologia dos Estados Unidos.

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Nova rotação

Quem também viu no desempenho recente um bom momento para adicionar mais compras ao carrinho digital foi a Verde Asset.

No início de junho, diz João Julião, gestor da estratégia de ações globais, a gestora iniciou um movimento que elevou de pouco menos de 20% para cerca de 40% a exposição ao setor de tecnologia dentro do livro de renda variável internacional nos fundos da casa.

Nomes que já vinham sendo acompanhados e que passaram a ser negociados com preços considerados mais atraentes por conta da volatilidade foram adicionados à carteira global, que já tinha Google e Facebook entre as principais apostas.

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As empresas PayPal, de meios de pagamento, e ServiceNow, de computação na nuvem, cita Julião, foram papéis que passaram a compor os portfólios dos fundos da Verde nas últimas semanas.

Empresas e setores de caráter mais cíclico, por outro lado, perderam espaço, caso das ações do JP Morgan, e de segmentos como de companhias aéreas e industriais.

“As pessoas que tiveram sua primeira experiência online, ainda que talvez não na mesma intensidade do ano passado, devem seguir usando cada vez mais o digital”, afirma o gestor, acrescentando que, na Verde, o fato de a alta dos juros nos Estados Unidos começar a despontar no horizonte foi vista com bons olhos.

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A avaliação dos gestores é que, ao indicar que está pronto para atuar assim que julgar necessário, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reduziu o risco de ter de lá na frente agir de maneira mais firme para conter uma eventual inflação mais persistente, explica Julião.

“A volatilidade gerou oportunidades”, afirma o gestor da Verde, que considera o valuation das ações no setor em níveis “justificáveis”, frente às perspectivas de crescimento no longo prazo.

Separar o joio do trigo

Na gestora de viés global IP Capital Partners, o otimismo, que segue intacto em relação às big techs mesmo com a alta dos juros no radar, se reflete no fato de a rede social Facebook ser a maior posição no portfólio dos fundos.

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“Hoje o investidor está pagando muito pouco pelo futuro de uma companhia que cresce bem acima da média do mercado”, afirma Gabriel Raoni Ribeiro, co-gestor da IP.

Parte dessa atratividade, reconhece, se deve às inúmeras polêmicas em que volta e meia a empresa de Mark Zuckerberg aparece envolvida, o que não tira em nada, na visão dos gestores da IP, o valor do negócio.

“Nosso trabalho é separar o joio do trigo, e a verdade é que tem muito mais ruído do que fundamento, o que justifica termos um investimento importante na empresa”, diz o co-gestor da IP, que salienta que a alta dos juros nos Estados Unidos não trará consequências na mesma magnitude para todas as empresas do ramo. “O setor de tecnologia tem de tudo, é muito heterogêneo.”

A rede social e o mais famoso buscador da internet são hoje, junto com a Netflix, as representantes das FAANMG (Facebook, Apple, Amazon, Netflix, Microsoft e Google) na carteira da IP, que não vê na volta a uma normalidade pré-pandêmica um ponto de grande preocupação, por uma eventual redução dos hábitos digitais.

“É preciso separar o que é ganho estrutural do que é ganho conjuntural, e a pandemia foi uma aceleradora da digitalização, é algo irreversível, que parece muito mais um ganho estrutural”, afirma Ribeiro.

O movimento de aumento dos hábitos digitai se reflete no comportamento do valor de mercado dessas companhias na bolsa americana nos últimos anos. Info_tech.jpg (1200×1355)

O gestor da IP acrescenta que, embora não considere, de modo geral, as empresas de tecnologia caras, reconhece que existem alguns “bolsões de exageros”. Inclusive de nomes que despertam o interesse, mas com preços considerados muito altos. Entre eles, Ribeiro cita Roblox e Shopify, que sobem cerca de 30% em 2021 na Nasdaq.

Hora da segurança

Márcio Prado, analista sênior da Vinland Capital, lembra ainda que, apesar de o mercado já estar aparentemente um pouco menos receoso quanto ao impacto da alta dos juros no setor, com a redução da volatilidade na curva americana, a gestora ainda tem optado por uma abordagem mais cautelosa neste momento, dando preferência a nomes que julga de maior qualidade e já com uma geração de caixa robusta, como Google, Apple e Microsoft.

Além de serem empresas em um estágio mais avançado no desenvolvimento de seus modelos de negócios, o analista da Vinland assinala que suas ações estão sendo negociadas em níveis “infinitamente” menores, se comparados com outros papéis de segmentos correlatos como segurança digital, transição energética e fintechs.

Enquanto as maiores e mais conhecidas empresas de tecnologia têm suas ações sendo negociadas em torno de 20 a 30 vezes sob o múltiplo preço/lucro, há nas bolsas americanas casos de papéis que estão sendo negociados a cerca de cem vezes o valor, assinala o analista da Vinland.

Na mesma linha, Thiago Favery, head de investimentos da XP Advisory US, baseado em Miami, defende que, ao analisar as empresas globais de tecnologia, é importante fazer uma distinção entre dois grandes grupos.

Em um grupo, estão aquelas que já geram receita e ainda com perspectivas de crescimento bastante positivas para o longo prazo. Nesse caso, as principais big techs americanas são as maiores expoentes.

No outro grupo, estão aquelas empresas que têm a maior parte de um lucro bastante promissor ainda a se materializar nos próximos anos, com base em negócios que prometem se tornar referência em seus ramos de atuação.

São as companhias que formam esse segundo grupo, assinala Favery, as que mais devem sofrer em um ambiente de maior volatilidade por conta das discussões sobre o aperto monetário nos Estados Unidos – a fabricante de carros elétricos Tesla e a empresa de computação na nuvem Snowflake estão entre os exemplos mais conhecidos do investidor.

“São companhias que chamamos de tecnologia conceitual, negociadas a quase cem vezes a receita, e que vão sofrer em um ambiente de juros mais altos porque ainda não geram caixa, sendo que seu valor está quase todo lá na frente”, afirma o gestor da XP Advisory US, que também tem preferido uma dose maior de conservadorismo neste momento, privilegiando posições de segurança nas big techs.

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