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Vendidos em volatilidade: a estratégia bilionária de traders para se proteger de “marasmo” nos EUA

Solução atrai ganhos em momento de calmaria, mas especialistas alertam para "riscos ocultos"

Bloomberg

(Getty Images)
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Um tipo de negociação que já foi popular nos Estados Unidos, mas havia perdido espaço, volta a dar as caras em Wall Street: operar vendido em volatilidade.

Bilhões de dólares estão sendo despejados em ETFs de venda de opções como nunca antes. Com o rali das bolsas americanas este ano desafiando os alertas de recessão e o aperto monetário agressivo do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), os investidores vêm investindo em estratégias defensivas que oferecem ganhos ao longo do caminho.

O movimento criou um segmento um tanto “exótico” dos fundos índice que alcança US$ 57 bilhões em ativos.

Entre as estratégias mais populares estão comprar ações e vender derivativos, com a esperança de obter melhor resultado se o índice S&P 500 for negociado “de lado” ou cair. Ao fazer isso, os investidores apostam contra as oscilações nos preços das bolsas.

A demanda é tão alta que fundos como o JPMorgan Equity Premium Income ETF (JEPI) e o Global X Nasdaq 100 Covered Call ETF (QYLD) continuam captando, apesar dos retornos abaixo da média.

O movimento forte em derivativos é uma das razões pelas quais o índice de volatilidade da Cboe permaneceu baixo este ano. No entanto, para os veteranos do mercado de ações, essa enxurrada de vendas de opções faz lembrar momentos delicados, como quando investidores apostaram erradamente de que o mercado ficaria calmo, o que acabou forçando corretoras de Wall Street a mexer em posições rapidamente.

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O Morgan Stanley estima que a onda de venda de opções quebrou recorde em abril e em junho. Não há nenhum evento cataclísmico de volatilidade à vista, e defensores da estratégia argumentam que esses fundos ajudam a fornecer liquidez. Por outro lado, para alguns profissionais, o fenômeno é um exemplo dos perigos escondidos no mundo do trade de volatilidade.

“Se você está vendido em volatilidade e ela aumenta rapidamente, seus desdobramentos podem contribuir para uma espécie de short squeeze”, disse David Reidy, fundador da gestora de fortuna First Growth Capital. “Vimos isso acontecer e seus impactos na estrutura do mercado em fevereiro de 2018. E posições vendidas em volatilidade cresceram também em março de 2020”.

Como funciona

A estratégia tem vários nomes no mercado: buy write, covers calls e put write são alguns deles. Independentemente de como são chamados, os ETFs que empregam a estratégia de venda de opções viram seus ativos saltarem mais de 60% este ano, de acordo com dados compilados pela Global X ETFs. Além disso, segundo dados compilados pela Bloomberg, no ano passado houve pelo menos 12 lançamentos de fundos que compram ações e, simultaneamente, vendem opções de compra (call) dos mesmos papéis.

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É uma espécie do trade vendido em volatilidade que, historicamente, entregou ganhos aos investidores, mas que também pode gerar grandes perdas. Embora o índice de volatilidade VIX tenha subido ultimamente, ainda está sendo negociado abaixo de sua média de longo prazo, caminhando para o ano mais calmo desde 2019.

Mesmo no mercado atual, em que os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de três meses excedem 5% ao ano, o benefício de operar vendido em vol é significativo. O ETF QYLD, por exemplo, ganhou em junho um prêmio igual a 2,4% deo valor de seus ativos, ou um retorno anual bem acima de 20%.

O fluxo de receita ajudou a compensar as perdas do mercado de ações durante o período de baixa da bolsa em 2022, quando títulos longos ou opções de venda totalmente pessimistas não funcionaram como proteção contra quedas contra quedas da bolsa americana. Ao mesmo tempo, o ETF JEPI superou o S&P 500 em quase 15 pontos percentuais, e o QYLD ficou à frente do Nasdaq 100 em 13 pontos percentuais.

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O desempenho da estratégia não está tão bom neste ano, em parte devido à retomada das bolsas. No entanto, o interesse dos investidores não dá sinais de trégua. O JEPI atraiu US$ 11 bilhões em novos aportes desde janeiro, enquanto as entradas do QYLD chegam a US$ 1 bilhão, apesar dos retornos abaixo do mercado.

A demanda reflete a convicção do investidor de que as ações ficarão presas em uma faixa de incerteza econômica, um ambiente que é um bom presságio para opções vendidas como meio de lucrar, de acordo com Rohan Reddy, head de pesquisa da Global X. Ele avalia que qualquer risco desses ETFs é modesto, dado o tamanho do mercado de ações dos EUA. Ainda assim, não descarta a perspectiva de repercussões negativas se a estratégia continuar em alta.

“Não acho que o crescimento e a popularidade das estratégias de compra e venda sejam algo com o qual devamos nos preocupar hoje, não irá afetar a volatilidade do mercado de maneira substancial”, disse. “Claro, se essas estratégias crescerem significativamente, talvez possamos ter mais efeito [negativo]”.

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Estratégia perigosa?

O “risco oculto” da estratégia é este: operar vendido em volatilidade deixou os revendedores de opções — que estão do outro lado do balcão — em uma posição em que precisam ir contra a tendência de mercado. Isso significa que eles compram quando as ações caem, e vendem quando sobem, a fim de manter uma posição neutra no mercado.

O problema, de acordo com a mesa de operações do Morgan Stanley liderada por Christopher Metli, é que uma venda de ações poderia bater de frente com os traders de opções dessas posições — forçando-os a forçar uma turbulência devido à elevada sensibilidade à volatilidade implícita.

Quando as oscilações de preço esperadas aumentam, as mudanças correspondentes no prêmio das opções aumentam. Isso normalmente leva os revendedores a proteger sua exposição por meio de futuros de índices ou ações. Devido às complexas interconexões entre derivativos e o mercado de ações, todo esse movimento pode amplificar a volatilidade. Pelas estimativas do Morgan Stanley, essa exposição recentemente ficou perto do nível mais alto desde a explosão de volatilidade de 2018.

“As estratégias de operar vendido em vol cresceram em termos de ativos e em termos de amplitude, com grande parte desse novo crescimento vindo de ETFs de venda de opções”, escreveu a equipe do Morgan Stanley em nota este mês. “Se houver um choque, é provável que as exposições a índices amplos saiam mais rapidamente, levando a um movimento correlato de baixa”.

Para Joseph Ferrara, estrategista de investimentos da Gateway Investment Advisers, que iniciou seu primeiro fundo de compra e venda na década de 1970, o cenário de volatilidade de hoje é diferente do episódio de aumento repentino de volatilidade visto em 2018. Naquela época, uma série de notas negociadas em bolsa projetadas para se mover inversamente ao VIX entrou em colapso quando o medidor de volatilidade disparou.

Em vez de fazer uma aposta direta de que o mercados seguirá tranquilo, os ETFs mais populares hoje são normalmente destinados a amortecer perdas quando os mercados afundam — e vêm com alavancagem limitada.

“As empresas que explodiram ou tiveram muita dificuldade em lidar com a volatilidade foram empresas alavancadas”, disse Ferrara. “Todos nós passamos pelo [colapso do] Bear Stearns e do Lehman Brothers. Mas acho que temos agora mais algumas redes de segurança”.

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