Vale faz maior corte de dividendos do mundo e tira Brasil do topo de ranking global

Proventos globais batem recorde; Janus Henderson projeta que dividendos cheguem a US$ 1,64 trilhão em 2023

Katherine Rivas

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A concentração de proventos na Bolsa brasileira ficou nítida no primeiro trimestre de 2023. A Vale (VALE3) realizou o maior corte de dividendos do mundo nesse período, de US$ 1,8 bilhão em comparação com o primeiro trimestre de 2022, e também saiu do ranking das vinte melhores pagadoras do mundo – onde chegou a ocupar o nono e o 15º lugares no passado.

Os dados são da 38ª edição do Índice Global de Dividendos da gestora Janus Henderson, publicado em primeira mão pelo InfoMoney.

O relatório analisa trimestralmente as 1.200 maiores empresas do mundo por capitalização de mercado, que representam 90% dos dividendos distribuídos globalmente. A gestora britânica tem cerca de US$ 311 bilhões em ativos sob gestão.

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A Petrobras (PETR4), que foi a segunda maior pagadora de dividendos do mundo em 2022, não entrou no ranking global no primeiro trimestre porque não realizou novos pagamentos de dividendos de janeiro a março. A segunda parcela dos R$ 3,35 anunciados em novembro do ano passado, que foi paga no dia 19 de janeiro, já tinha sido contabilizada pela Janus Henderson no quarto trimestre de 2022.

Contudo, a gestora acredita que a petrolífera deve voltar a aparecer no ranking no segundo trimestre, apesar das mudanças na remuneração dos acionistas, por conta dos dividendos pagos em maio e os que virão em junho.

O impacto das outrora boas pagadoras levou os dividendos brasileiros a ter uma queda de 12,2% no primeiro trimestre, totalizando US$ 3,4 bilhões. No mesmo período de 2022, os proventos locais somaram US$ 3,9 bilhões.

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A Vale distribuiu US$ 1,8 bilhão entre janeiro e março deste ano. Também integraram o ranking o Banco do Brasil (US$ 700 milhões pagos aos acionistas), o Bradesco (US$ 600 milhões), a Weg (US$ 300 milhões) e B3 (US$ 100 milhões).

Em termos subjacentes (desconsiderando os efeitos de dividendos extraordinários, da taxa de câmbio e de outros fatores técnicos), as empresas brasileiras apresentaram um tombo de 27,5% nas distribuições.

Os dividendos brasileiros foram na contramão de todo o mundo. Segundo a Janus Henderson, os dividendos globais aumentaram 12% alcançando um recorde de US$ 326,7 bilhões, impulsionados pelo volume de dividendos extraordinários, o maior em nove anos.

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“A história dos dividendos do Brasil no primeiro trimestre foi de fraqueza e contrastou com o desempenho positivo no resto do mundo”, afirmou Ben Lofthouse, chefe de renda variável global da Janus Henderson.

Segundo Lofthouse, isso comprova a concentração de grandes empresas brasileiras pagadoras de dividendos em setores sensíveis a commodities. Ele reforça que os investidores precisam estar cientes desta concentração e considerar a diversificação geográfica dos investimentos para gerar retornos positivos com um portfólio sustentável e duradouro.

No mundo, contudo, foram os bancos, produtores de petróleo e fabricantes de veículos que acabaram impulsionando o crescimento dos dividendos globais no primeiro trimestre. A nível global, 95% das empresas aumentaram os dividendos ou os mantiveram estáveis.

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As 10 empresas que mais pagaram dividendos no mundo no 1º trimestre de 2023

  1. Moller – Maersk
  2. BHP Group (BHPG34)
  3. Novartis (N1VS34)
  4. Roche Holding
  5. Volkswagen
  6. Microsoft (MSFT34)
  7. Exxon Mobil (EXXO34)
  8. Siemens
  9. Apple (AAPL34)
  10. Commonwealth Bank of Australia

Subtotal: US$ 62,2 bilhões

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Empresas brasileiras no Índice Global de Dividendos

Empresa  Posição no ranking global Valor pago no 1º TRI23
Vale (VALE3) 35º US$ 1,8 bilhão
Banco do Brasil (BBAS3) 114º US$ 700 milhões
Banco Bradesco (BBDC4) 136º US$ 600 milhões
Weg (WEGE3) 233º US$ 300 milhões
B3 (B3SA3) 433° US$ 100 milhões

Fonte: Janus Henderson

Dias difíceis para as mineradoras

Os dividendos menores não foram uma exclusividade da Vale. O setor de mineração como um todo desacelerou quando o assunto é lucros e remuneração dos acionistas.

Segundo a gestora, o efeito foi global e o setor de mineração foi o mais fraco no mundo, reduzindo os pagamentos de dividendos em um quinto. As mineradoras viveram seu auge em 2021, quando puxaram os dividendos globais, mas segundo a Janus Henderson, desde meados de 2022 elas vêm sendo afetadas pela queda no preço das commodities.

Nos mercados emergentes, por exemplo, os dividendos foram 5,3% menores em bases subjacentes por conta dos cortes de dividendos em mineradoras do Brasil, México e Índia.

A mineradora Grupo México diminuiu os pagamentos em US$ 400 milhões no trimestre. A dependência da América Latina em relação ao setor de mineração ficou tão evidente que nenhuma empresa da região conseguiu aparecer na lista de 20 maiores pagadoras do mundo.

Na Austrália, que também apresenta concentração em mineradoras e bancos, houve cortes nos dividendos da BHP, que chegou a ser a maior pagadora de dividendos do mundo em 2022, além da sua rival Fortescue Metals e da Rio Tinto.

O forte crescimento dos dividendos de outras empresas australianas, além do banco CBA, não foram suficientes para compensar a queda das mineradoras, reduzindo os proventos australianos em 6,6% no trimestre, somando US$ 18,7 bilhões.

Lofthouse destaca que, no restante de 2023, “os dividendos das mineradoras serão o maior obstáculo para o crescimento global dos proventos”. Os mais afetados serão a Austrália, os mercados emergentes e o Reino Unido. “Mas os pagamentos dos setores bancários e petrolíferos continuarão gerando resultados”, diz.

Quem salvou o trimestre?

Apesar das mineradoras, alguns destaques contribuíram para que houvesse um recorde global de dividendos no primeiro trimestre, somando de US$ 326,7 bilhões.

Na Índia, por exemplo, a empresa de software Tata Consultancy pagou um provento extraordinário elevado, que, somado aos depósitos da Oil & Natural Gas Corporation, impulsionou o crescimento nominal de 22,7% das distribuições dos mercados emergentes.

Houve dividendos extraordinários também em outras regiões. A nível global, eles totalizaram US$ 28,8 bilhões, o segundo maior nível da história, depois do primeiro trimestre de 2014.

Ford e Volkswagen foram responsáveis por quase um terço dos dividendos extraordinários no mundo. Na Europa, a Volkswagen pagou US$ 6,3 bilhões, utilizando os recursos do IPO da Porsche feito no final do ano passado. Foi o oitavo maior dividendo extraordinário desde 2009.

O setor de veículos foi considerado o mais forte no primeiro trimestre, por conta do crescimento de dividendos regulares e extraordinários. Mesmo com restrições de produção, os fabricantes de automóveis elevaram os preços e focaram em produtos com margens elevadas, o que ajudou no fluxo de caixa. A perspectiva é positiva para o segundo trimestre.

O setor de bancos teve a maior contribuição nos dividendos globais no primeiro trimestre, por conta do peso das empresas no índice e dos resultados saudáveis, devido à ampliação das margens de juros.

A maior pagadora de dividendos do mundo foi a Moller Maersk, grupo de transporte marítimo dinamarquês, que distribuiu US$ 11,7 bilhões. Pouco mais da metade foram dividendos extraordinários. A companhia foi beneficiada por lucros recordes no frete global que ocorreram até o primeiro semestre de 2022.

Mas a companhia alertou que os lucros devem diminuir nos próximos meses.

A Janus Henderson está otimista e projeta um crescimento de 5,2% nos dividendos em 2023 totalizando US$ 1,64 trilhão. A nível subjacente a alta devera ser de 5%.

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.