Vale e Petrobras perderão a majestade na B3 com petróleo e minério ameaçados?

Especialistas admitem preocupação com o longo prazo e projetam futuro menos rentável para as gigantes brasileiras

Leonardo Guimarães

Logotipo da Petrobras em refinaria de Cubatão, em 24/02/2015 (Foto: Paulo Whitaker/Reuters)
Logotipo da Petrobras em refinaria de Cubatão, em 24/02/2015 (Foto: Paulo Whitaker/Reuters)

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O brasileiro que investe em ações já se acostumou com Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3, PETR4) determinando a movimentação do Ibovespa. Afinal, juntas, as empresas têm 22,75% de participação no índice de referência. Apesar de reveses envolvendo a economia chinesa e a política, elas ainda são grandes geradoras de caixa. Mas isto ainda será verdade em dez anos? 

Alguns fatores geopolíticos e tecnológicos colocam em xeque o minério de ferro e o petróleo no longo prazo, os principais produtos das gigantes da B3. A avaliação é de que todos previam a menor demanda pelas commodities no futuro, mas enxergavam esse futuro mais distante. 

Para gestores, as commodities perderão valor antes do que o mercado projetava. Nos combustíveis, o mundo acompanha diversos investimentos para mudar a matriz energética das economias, com energia nuclear (que usa urânio como combustível) e carros elétricos avançando e ameaçando a perspectiva para o petróleo. Já a má notícia para as mineradoras é que “a maior compradora de minério do mundo (China) decidiu que agora o legal é fazer carro elétrico, que não consomem aço como arranha-céus de 50 andares”, diz Ruy Alves, gestor de macro global da Kinea. 

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Rentabilidade ameaçada

Flavio Conde, analista da Levante, afirma que a tendência é de queda nos preços do petróleo e minério de ferro ao longo dos próximos anos e a estimativa para os balanços das empresas “não é de crescimento, é de manutenção dos resultados, no melhor cenário”. 

Ele explica que a oferta das commodities não é problema, já que as mineradoras e petrolíferas estão cada vez mais eficientes, e que a justificativa para a expectativa de queda nos preços está na demanda. “O novo normal para o petróleo será uma demanda mais baixa”, diz. Nesta terça-feira (10), a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) cortou a previsão de crescimento da demanda em 2024 e 2025, o que fez o petróleo WTI cair 4,31%

No minério de ferro, há ainda uma dependência maior da China, que poderia ser resolvida se a Índia investisse mais na construção civil, mas o país “não tem gente querendo puxar as camadas inferiores para cima”. 

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Outro agravante para a matéria-prima do aço é que o petróleo é o “pai das commodities” – como apelida Conde – e todas as outras produções dependem de combustível fóssil. Logo, se o petróleo ficar mais barato, siderúrgicas na China passam a pagar menos no minério porque a produção estará mais barata. 

Hegemonia vai acabar? 

Mesmo com projeções baixistas para as commodities no longo prazo, Hayson Silva, analista da Nova Futura Investimentos, projeta que o único setor que pode ameaçar as duas gigantes é o financeiro, que tem nomes de peso como Itaú (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3) e Bradesco (BBDC4): “pode ser que as empresas da área aumentem o peso no Ibovespa enquanto Vale e Petro reduzam participação gradualmente”. 

Porém, por enquanto, os analistas não enxergam o fim da dominância das duas gigantes no Ibovespa. “O mercado precifica o que consegue enxergar agora”, diz Conde, argumentando que essas perspectivas de longo prazo ainda não estão no preço das ações. 

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Até quando ter na carteira?

Ainda que as mudanças na economia global ganharam velocidade, os especialistas defendem o investimento nas gigantes da B3 no curto prazo, argumentando que elas ainda entregam bons dividendos e podem se adaptar aos carros elétricos, usinas nucleares e menos prédios sendo construídos. 

“Quem investe nessas ações não pensa na valorização, ninguém acha que a PETR4 vai subir para R$ 50, ou que VALE3 voltará aos R$ 80; quem está comprado pensa nos dividendos robustos e liquidez”, diz Conde. 

Régis Chinchila, head de research da Terra Investimentos, destaca o investimento da Petrobras em energia renovável e diversificação de portfólio da Vale (que também vende níquel, cobre, manganês e ferroliga) para afirmar que “as empresas ainda podem oferecer valor, mesmo em um cenário econômico global desafiador”. 

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Ao investidor preocupado com o longo prazo, Silva recomenda monitorar a distribuição de dividendos: “quando perceber que a demanda está impactando os resultados e não estão repassando lucros, é o momento de reduzir posição”, mas o analista reforça que “por enquanto estão bem”.