Vale a pena alugar cripto? Veja como rentabilizar o “dinheiro parado” em ativos digitais

Como funciona, quanto rende e quais são os riscos envolvidos para quem deseja ganhos adicionais com criptos que não serão vendidas no curto prazo

Paulo Barros

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Alugar ações para outros investidores é uma das maneiras conhecidas de obter renda enquanto não chega a hora ideal de se desfazer de um determinado papel na Bolsa. Recentemente, a alternativa também passou a estar disponível no mundo das criptomoedas, classe de ativos que vem mostrando crescimento no número de investidores que visam ganhos de longo prazo.

Segundo dados da casa de análise Glassnode, a quantidade de Bitcoin (BTC) armazenada em carteiras de investidores de longo prazo alcançou recorde em agosto, o equivalente a US$ 415,7 bilhões, ou 75% da oferta da criptomoeda.

Diante do quadro, o aluguel de moeda digital surge como opção para faturar mesmo sem vender. Mas, como funciona a chamada custódia remunerada em cripto?

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A solução é uma mistura de gestão ativa com uso da complexa tecnologia das finanças descentralizadas (DeFi). Veja, a seguir, quais são as diferenças para o modelo tradicional, como funciona a estratégia, os potenciais de ganho e os riscos envolvidos.

Qual a diferença entre aluguel de cripto e de ações?

A custódia remunerada com criptoativos parte da mesma ideia central da variante tradicional, com ações: emprestar ativos para terceiros em troca de uma taxa pelo aluguel.

“Em todas essas práticas, os detentores dos ativos têm a oportunidade de gerar uma renda passiva por meio do empréstimo temporário de suas posições. Essas atividades são impulsionadas por uma busca compartilhada por rentabilidade e otimização de recursos”, explica Victoria Schulz, head do Transfero Prime, braço de alta renda da Transfero, empresa fundada por brasileiros na Suíça.

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Há, no entanto, diferenças fundamentais, detalha a executiva. Uma delas começa com o tipo de ativo. No primeiro caso, se dá com moedas digitais e tokens, enquanto o aluguel de ações se refere à cessão temporária de participações em empresas listadas em bolsas.

Há ainda uma disparidade regulatória, já que, ao contrário do mercado acionário, as criptos ainda são largamente não reguladas — embora não sejam proibidas.

Outra distinção importante se dá pela estratégia. Em cripto, prestadores lançam mão de serviços de staking e pools de liquidez em mercados descentralizados, que operam ininterruptamente. Já o aluguel de ações acontece em bolsas tradicionais, com horários específicos.

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Por fim, o objetivo da custódia remunerada também costuma mudar: com ações, em geral as estratégias são de hedge e arbitragem; enquanto nos criptoativos, o trabalho passa por prover liquidez ou contribuir para a segurança de uma determinada rede blockchain, obtendo recompensas por isso.

Como funciona a custódia remunerada em cripto

Empresas que oferecem custódia remunerada têm um modelo de negócio fácil de entender: aplicam os recursos de clientes em troca de uma rentabilidade, e ficam com parte dos ganhos pelo trabalho de intermediação.

Em cripto, a intermediação envolve o uso de serviços de finanças descentralizadas que estão abertos para todos, mas que costumam entregar bons retornos apenas para quem tem conhecimento profundo sobre o tema.

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“Os investimentos em DeFi têm se tornado comuns no mercado cripto, embora sejam, em grande parte, acessados por um público mais experiente devido à complexidade envolvida”, explica a executiva da Transfero.

No staking, criptos são “travadas” em softwares para alimentar um trabalho de verificação de dados trafegados em uma blockchain, contribuindo para a segurança da plataforma. Em troca, o dono dos ativos recebe recompensas, em geral, no próprio token — em uma analogia com o mundo das ações, seriam como dividendos, mas pagos de forma contínua (sem calendário trimestral ou semestral, por exemplo).

Nos pools de liquidez, as criptos são depositadas para, como o nome diz, dar liquidez para negociações. Em outra analogia com a Bolsa, seria como os formadores de mercado (market makers), porém operando de forma autônoma via programas de computador. Quem deposita nesses pools também recebe recompensas.

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Quanto rende?

Em julho, as criptos que mais pagaram “dividendos” provenientes de staking retornaram uma taxa média de 6,77% no mês. A mais rentável do período, a Decimal (DEL), rendeu 9%.

Já a estratégia de pools de liquidez rende ganhos que podem variar bastante, pois são influenciados por fatores dinâmicos e podem mudar ao longo do tempo. Formadores de mercado individuais afirmam, por exemplo, que conseguem até dois dígitos por mês (veja mais detalhes na reportagem abaixo).

Numa combinação dessas duas estratégias, o serviço Custódia Remunerada da Transfero, por exemplo, acumulou no primeiro semestre de 2023 um histórico de rendimento de 11% em Cosmos (ATOM), 3,2% em Solana (SOL), 1,7% em Ethereum (ETH), 1,5% em BNB Chain (BNB) e 1% em Cardano (ADA).

Outro caso de custódia remunerada disponível no Brasil envolve a rentabilidade exclusivamente sobre o depósito de stablecoins, que são criptomoedas indexadas ao dólar. A Bitso, por exemplo, oferece 2% ao ano de retorno em stablecoins.

Quais são os riscos envolvidos?

Segundo a consultoria PwC, investidores precisam observar, junto ao custodiante, riscos de:

Além disso, há os riscos inerentes às aplicações realizadas pelo custodiante como meio de rentabilizar o patrimônio. Eles passam pela chamada “perda impermanente” (impermanent loss), ligada ao balanceamento delicado de pools de liquidez; além de perigos de ataque hacker ao protocolo onde as criptos estão investidas, e incertezas regulatórias.

Segundo a Transfero, uma das formas de mitigar esses riscos é considerar protocolos consolidados com alto valor já investido por outros usuários no mundo, mas que ainda oferecem rentabilidade interessante, além de soluções que passaram por auditoria.

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Paulo Barros

Editor de Investimentos