Unipar, Minerva, Sanepar e mais 17 small caps consideradas promessas de bons dividendos

Alguma empresas menores e menos conhecidas surpreendem na hora de distribuir proventos. Analistas e gestores apontam boas opções na Bolsa

Alexandre Rocha

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Quem investe em ações com foco na renda gerada pelos dividendos geralmente olha para empresas grandes, consolidadas, com amplo fluxo de caixa e baixa necessidade de capital para expansão. São as chamadas blue chips, companhias cujas ações estão entre as mais negociadas na Bolsa. Na outra mão, o investidor que compra small caps normalmente está interessado no potencial de valorização. São empresas com espaço para crescer, que costumam reinvestir os lucros e geralmente têm menor valor de mercado.

Distribuição de dividendos e necessidade de crescimento, porém, não são necessariamente excludentes. Existem small caps que pagam bons níveis de proventos em função de acontecimentos específicos, como a venda de um ativo; ou conseguem aliar distribuição de dividendos com reinvestimento; ou já estão consolidadas em seus ramos de atuação, apesar de serem menores.

O desafio é encontrar empresas que façam isso regularmente e que ofereçam um dividend yield – taxa de retorno da ação apenas com a distribuição de dividendos – atraente.

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“Uma empresa que consegue pagar mais de 8% ao ano de dividend yield, por exemplo, é um espetáculo”, disse Luiz Fernando Araújo, CEO da gestora Finacap. Ele acrescenta que as ações de companhias que distribuem bons proventos tendem a valorizar, o que dá ao investidor retornos em duas frentes.

Atualmente, as ações de certas blue chips se destacam, porque estão relativamente baratas e prometem dividendos polpudos. Mas é possível diversificar.

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“Mesmo com empresas menores é possível montar uma carteira de dividendos”, disse Werner Roger, diretor de Investimentos da gestora Trígono Capital. Um dos fundos da casa, o Delphos Income, por exemplo, é focado em dividendos e em small caps – e rendeu 49,65% em 2021.

Das 20 ações que mais pagaram dividendos no ano passado, segundo Roger, apenas três registraram desvalorização. “O mercado aprecia quem paga dividendos”, observou. “Se o preço da ação cair, o investidor pelo menos tem a renda dos dividendos. Nossa orientação para pessoas físicas é buscar empresas sólidas, sem risco de crédito, e sair do trade de curto prazo”.

O InfoMoney consultou analistas e gestores para saber quais small caps são boas pagadoras de dividendos. Muitas vezes, elas estão fora do radar. Entre as opções, os especialistas escolheram companhias com valor de mercado abaixo de R$ 10 bilhões ou integrantes do Índice Small Cap da B3 (SMLL). Confira:

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Foco nas elétricas mesmo entre as small caps

Hugo Baião Baeta, analista da AF Investimentos, diz que as small caps replicam a lógica das blue chips no que diz respeito aos setores que tradicionalmente distribuem proventos. Costumam pagar dividendos de forma recorrente empresas de energia elétrica, telecomunicações, saneamento, bancos e seguradoras, por exemplo.

Nesse sentido, ele cita a Alupar (ALUP11), de transmissão de energia. “Eles fizeram muitos investimentos em linhas, mas agora isso acabou. Já pagaram dividendos no passado e devem distribuir mais daqui para frente,” declarou Baeta.

O analista ressalta que o setor é “perene”, ou seja, tem demanda constante, e a empresa consegue corrigir seus preços de acordo cm a inflação. “Ela consegue distribuir dividendos com segurança porque o fluxo de caixa tem previsibilidade”.

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Roger, da Trígono, cita ainda a Celesc (CLSC4), companhia de distribuição de energia de Santa Catarina. “A ação da Celesc está muito descontada, com um P/L muito baixo”, observou. O indicador P/L é calculado dividindo o preço – ou a cotação da ação – pelo lucro por ação da empresa.

Na mesma linha, Roger diz que a Sanepar (SAPR11), companhia de saneamento do Paraná, pagou dividendos nos últimos anos e deve continuar a pagar.

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Agronegócio promete crescer e distribuir bons proventos

No agronegócio, que promete bons retornos em 2022, Roger cita a indústria de silos Kepler Weber (KEPL3) e a produtora de commodities Brasilagro (AGRO3). Em entrevista recente ao InfoMoney, o diretor de Relação com Investidores da Brasilagro, Gustavo Lopez, afirmou que a companhia pode atingir resultados históricos no ano fiscal corrente e pagar “belos dividendos”.

Ainda neste segmento, Pedro Serra, gerente de Research da Ativa Investimentos, chama a atenção para a Minerva (BEEF3), que em 2021 ficou entre as dez maiores pagadoras de proventos da B3. “Os frigoríficos têm gerado muito caixa”, observou Serra. A perspectiva é de que em 2022 a companhia registre um dividend yield de 8,5%.

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Em 2018, houve um surto de peste suína africana na China que atingiu cerca de 50% do rebanho, o que fez aumentar o consumo de carne bovina no país. Serra acredita que tal tendência deve continuar, o que beneficia os exportadores brasileiros.

O presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari, disse recentemente ao InfoMoney que o consumo per capta de carne bovina na China é de quatro quilos por ano, ao passo que no Brasil é de 24 quilos. Portanto, há enorme espaço para ampliação das vendas à nação asiática.

Serra aposta também na Camil (CAML3). Conhecida pelo arroz e feijão, a companhia tem em seu portfólio outros produtos com marcas famosas, como Açúcar União, Atum Coqueiro, Café Seleto e outras. Ele avalia que a empresa pode atingir um dividend yield de 9% em 2022.

“É uma combinação bem gerida de marcas”, afirmou. “Ao mesmo tempo que tem um mercado maduro com a marca Camil, a empresa faz uma série de aquisições, o que é condizente com seu endividamento, e está meio fora do radar em termos de dividendos”, acrescentou. Ele acredita que Minerva e Camil são boas opções de diversificação para além dos segmentos tradicionalmente pagadores de dividendos.

Dos bancos ao consumo e à indústria

Em um relatório divulgado em janeiro, a XP listou empresas com potencial de pagar bons dividendos em 2022. Considerando as small caps, Leonardo Fialho, gerente de relacionamento da Inove Investimentos, destaca empresas como Qualicorp (QUAL3), do setor de saúde, a indústria de cerâmicas de revestimento Portobello (PTBL3), a incorporadora Lavvi (LAVV3) e a fábrica de calçados Grendene (GRND3). A última figurou entre as melhores pagadoras de 2021.

“São small caps que podem entregar bem este ano”, comentou Fialho. Ele diz que é importante ter esse tipo de ação na carteira, dado o potencial de crescimento geralmente maior do que as grandes, mas não restringir o portfólio apenas a elas.

Outra ação que Roger considera positiva em termos de dividendos é a da indústria química Unipar (UNIP6). “Historicamente, a Unipar sempre paga, tem caixa e liquidez”, afirmou. Em 2021, a Unipar figurou entre as dez empresas listadas na Bolsa que mais pagaram dividendos.

Ele avalia que a São Martinho (SMTO3), do setor sucroalcooleiro, e a Tronox/Cristal (CRPG5), de pigmentos, são companhias também com boas perspectivas de distribuição, pois têm geração de caixa significativa e não precisam de muitos recursos para investir.

A metalúrgica Tupy (TUPY3) é mais uma boa pedida, na avaliação de Roger. A metalúrgica produz peças para a indústria de veículos, como blocos de motor e cabeçotes. “A empresa pode pagar excelentes dividendos daqui para frente. Cabe no fluxo de caixa e pode ter um dividend yield de 7% a 10%”, opinou.

A mineradora e metalúrgica Ferbasa (FESA4) é outra aposta da Trígono que já deu excelentes resultados e, segundo Roger, deve dar ainda mais. No ano passado, o dividend yield da ação foi baixo (1,72%), mas de acordo com o executivo isso ocorreu porque a empresa distribuiu recursos na forma de juros sobre capital próprio.

“O ano de 2022 deve ser excelente como foi 2021. A Ferbasa tem uma caixa forte e a Fundação José Carvalho vive de dividendos , então a companhia deve continuar a pagar”, declarou Roger. A fundação que leva o nome do criador da empresa é a acionista controladora. A Trígono tem participação de 12,2% nas ações preferencias. O executivo ressalta que a Ferbasa é a companhia que acumulou maior valorização na Bolsa nos últimos 25 anos, seguida da Unipar.

As necessidades de acionistas majoritários são um fator para a distribuição regular de dividendos em small caps, mesmo havendo investimentos a fazer. “A empresa pode decidir distribuir 50% dos lucros para remunerar os acionistas, com um dividend yield bacana, e ao mesmo tempo investir bem”, observou Baeta. Ou seja, pagar proventos não quer dizer obrigatoriamente que a companhia ficará sem dinheiro para investir e que irá parar de crescer.

Foram citadas por mais de um profissional como companhias capazes de distribuir bons proventos o banco Banrisul (BRSR6) e a fabricante de implementos rodoviários Randon (RAPT4).

Construtoras pagam dividendos? E mineradoras de ouro?

Max Bohm, responsável pela área de small caps da plataforma para investidores TC, destaca duas empresas que costumam pagar dividendos acima da média, sob o ponto de vista de dividend yield.

Segundo ele, a construtora Cury (CURY3) tem obrigação estatutária de pagar 70% de seu lucro anual em dividendos. Em 2021, o dividend yield ficou acima de 8%. A empresa constrói principalmente imóveis populares, destinados a programas como o Casa Verde e Amarela (antigo Minha Casa Minha Vida).

Como os recursos do programa vêm do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), os juros do financiamento são fixos e não acompanham o aumento da Selic. Nesse sentido, o avanço da taxa básica de juros não deve inibir os consumidores da Cury, e a empresa tem conseguido aumentar o preço médio de seus imóveis, acompanhando a inflação.

“Ela deve continuar a pagar um dividend yield acima da média da Bolsa”, declarou Bohm.

Na seara das commodities, Bohm destaca a Aura (AURA33), mineradora de ouro brasileira, mas listada em bolsa no Canadá. Os brasileiros podem investir nela por meio de BDRs, recibos das ações da empresa negociados na B3. “Ela não precisa de um grande capital para crescer. Sua geração de caixa dá conta dos projetos que tem até 2024”, disse.

Ele acrescenta que as ações da Aura subiram pouco, apesar de um alto nível de dividendos em 2021, e que em 2022 a companhia deve continuar a pagar um dividend yield na casa de dois dígitos.

Além do ouro, 25% da receita da empresa vem do cobre. Cotadas em dólar, as commodities estão com preços altos de forma geral.

Alexandre Rocha

Jornalista colaborador do InfoMoney