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Caros(as) leitores(as),
Tivemos nesta semana mais uma “super quarta”, dia de decisão de política monetária por aqui e nos Estados Unidos. Extremamente importante para o mercado de juros ao redor do mundo, as decisões deixam os olhos de todo o mercado fixados nas telas e abrem as discussões sobre “quando os juros vão voltar a cair”.
A alta de 25 pontos base nos Fed funds (taxa de juros básica da economia americana) e o “manteu” por aqui com a Selic em 13,75% ao ano, já eram amplamente esperados. Mais uma vez, o discurso durante a coletiva pós-reunião do FOMC – Comitê de Política Monetária do FED, banco central dos Estados Unidos – e a ata do Copom (Comitê de Política Monetária do BC brasileiro) eram as estrelas dessa última quarta-feira.
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Podemos tirar algumas conclusões de tudo que foi falado, mas uma delas é mais clara para mim: as taxas de juros devem permanecer mais altas por mais tempo. Tanto aqui no Brasil, quanto nos EUA, e para ser sincero, talvez ao redor do mundo como um todo.
O processo para que a inflação venha a ceder passa a ser (assumidamente) mais árduo já que as expectativas de longo prazo para esse indicador estão desancoradas. É como se o remédio tivesse sido aplicado e agora precisássemos esperar o organismo assimilar para que a dose faça efeito.
Ah, e como nenhum banqueiro central é bobo (sei que muitos discordam dessa frase), as portas para mais altas foram deixadas abertas. Tudo vai depender dos dados de atividade que serão apresentados daqui para frente.
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Mas e as quedas de juros? Quando vão acontecer?
Bom, primeiramente deixe-me explicar brevemente os motivos dessa discussão ser tão relevante. Vou focar no nosso país, combinado?
O Brasil foi uma das primeiras geografias a começar o processo de alta de juros, iniciando o caminho da retirada dos estímulos monetários propostos ao longo da pandemia e do “Corona Crash”. Saímos do menor patamar de Selic já visto – de 2% – para a taxa que temos hoje, de 13,75% ao ano.
Assistimos pela última vez juros desse nível até o governo Dilma, assim que o Temer assumiu, o ambiente inverteu o cenário de juros altos. Para quem lembra, foi a partir dali que começamos a enxergar o aprofundamento financeiro no Brasil.
Sempre fomos conhecidos como “o país do rentismo” por conta dos juros altos. Aplicações financeiras bancárias simples entregavam retornos anuais de dois dígitos, o CDI (medida de juros para ativos financeiros) conseguiu superar o retorno do Ibovespa (principal índice de bolsa no Brasil) ao longo do tempo.
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Ou seja, você não tinha muito estímulo para sofisticar a sua carteira, diversificar em mercados e ativos diferentes, muito menos em geografias. Porém, com esse processo importante de queda de juros que o Brasil viveu, começou a doer no bolso do rentista assistir seus retornos deteriorarem de forma considerável.
As plataformas de investimento abertas, que antes eram pouco conhecidas, passaram a ganhar muita tração. Novos correntistas “chegando de caminhão” todos os dias, recordes de captação sendo anotados dia após dia – que saudade dessa época.
Durou pouco…
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A Selic em dois dígitos novamente acabou com a festa. Fundos multimercados e de ações passaram a receber saídas liquidas em sequência, o fluxo para corretoras e plataformas diminuiu. O único mercado que “se salvou” foi o estrangeiro, dada a divisão que o país sofreu nessa última eleição. Na minha percepção, quem não ficou feliz com o resultado eleitoral decidiu levar sua poupança para outro lugar.
O importante é:
O “afegão médio financeiro” não possui grandes motivos para diversificar a sua carteira, os ativos mais simples de renda fixa voltaram a entregar retornos de dois dígitos, as incertezas de cenário são grandes e o noticiário está poluído demais para tomar risco nesse momento. Melhor fazer o “feijão com arroz” que eu ganho mais.
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Assim, sem grande fluxo para ativos de risco no Brasil (como é o caso da Bolsa), os mercados entram num modus operandi que eu chamo de “cachorro morto”:
Está barato? Sim.
Vale a pena comprar? Respeitando seu perfil de risco, sim.
Vai andar no curto prazo? Não sei, mas acho que não.
Vou perder dinheiro no curto prazo? Não sei, mas provável.
Vou ganhar dinheiro? No longo prazo, bem provável.
Quando isso vai acontecer? Não tenho a menor ideia, mas se os juros começarem a cair, com certeza teria um vento a favor.
Quando os juros vão cair? Não tenho grande ideia, possivelmente no ano que vem, tudo que sei é: não tendo um evento cataclísmico no mercado, um dia a mais ou um dia a menos esses juros vão cair.
O Brasil, dentro das economias emergentes minimamente “investíeis”, carrega a maior relação de juro real do mundo. Estamos com os juros em campo restritivo, e com a constrição no mercado de crédito e o aumento do custo de dívida, esse juro gera ainda mais restrição.
Em algum momento, esses juros vão virar, assistiremos um processo de normalização de política monetária – quando a taxa volta para o campo neutro – e teremos uma descompressão de múltiplos da Bolsa, ativos de risco num geral. Dito isso, o que fazer com o meu dinheiro?
O oposto ao “afegão médio financeiro” que eu citei acima: diversifique sua carteira, traga sofisticação. A Bolsa está negociando a 7 vezes preço sobre lucro, isso é bem abaixo das médias histórica – essa informação não diz nada além de que existem muitas ações descontadas sem justificativa fundamentada. O mesmo se aplica para fundos imobiliários, entre outros mercados.
Equilibre a sua carteira conforme seu apetite a risco, tenha sim uma parcela em renda fixa pois nesse momento, principalmente para curto e médio prazo, esses ativos estão remunerando mais – no último texto da coluna, eu evidencio isso no mercado de crédito high grade. Porém, tenha exposição aos demais mercados com aquela parcela do seu patrimônio para longo prazo.
Eu realmente não sei se você vai ganhar dinheiro com isso amanhã ou depois, talvez nem em um ano ou dois, mas com uma boa carteira, certamente vai compor retorno em janelas de 5 a 10 anos. Paciência é o nome do jogo no mercado financeiro.