“Trump é imprevisível e pode ser cisne negro dos mercados”, diz ex-diretor do Fed

Larry Meyer também aposta que Trump deverá escolher um bilionário para a presidência do Fed, encerrando uma sequência de pessoas com perfil mais acadêmico no comando do BC americano

João Sandrini

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 (SÃO PAULO) – Larry Meyer, diretor do Federal Reserve entre 1996 e 2002 e chefe de pesquisas da consultoria econômica LH Meyer, Inc., acredita que, por ser totalmente imprevisível, o presidente americano Donald Trump pode se transformar em um verdadeiro “cisne negro” para os mercados financeiros. “Cisne negro” é o termo cunhado pelo pesquisador libanês Nassim Taleb para descrever eventos totalmente inesperados, que não podem ser previstos nem antecipados. A analogia deve-se ao fato de que até 1697 os europeus acreditavam que só havia cisnes brancos no planeta – foi preciso que eles chegassem à Austrália para que um europeu descrevesse pela primeira vez a existência dos negros.

Durante palestra na Expert Latin America Conference, evento promovido pela XP Securities em Miami, Meyer afirmou que não dá para levar muito a sério tudo que Donald Trump disse durante a campanha e que será preciso esperar um pouco para saber quais promessas não serão esquecidas. Mas ele acredita que a condução política e militar dos EUA é mais perigosa que a econômica. “O Trump é imprevisível. Eventos geopolíticos vão testá-lo. Tomara que ele não cometa erros.”

As preocupações econômicas, no entanto, não podem ser deixadas de lado. Nos EUA quem toma as decisões mais importantes para os mercados é o Federal Reserve, o banco central americano, e não o presidente do país. O Fed tem autonomia de decisão. Os diretores possuem mandatos com período fixo e não podem ser demitidos. Mas Meyer lembra que Trump deve aumentar muito sua influência sobre o Fed nos próximos dois anos. O organismo está com duas vagas abertas na diretoria. No total Trump terá o poder de indicar sete membros do Fed até o final de 2018. Entre os que devem sair estão a atual presidente do Fed, Janet Yellen, e o vice-presidente, Stanley Fischer. Aos substituí-los Trump terá a chance de indicar diretores mais alinhados com sua linha de pensamento.

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Meyer acredita que Trump não deve colocar um acadêmico na presidência do Fed quando o mandato de Yellen terminar. Seu palpite é que Trump indicará um bilionário. “Ele [Trump] acha que os homens de negócios têm uma melhor visão. Acho que pode ser um bilionário [na presidência do Fed]. Na visão dele, se alguém ganhou tanto dinheiro é porque só pode ser esperto.”

Nas últimas semanas, Trump tem dados sinais pouco coerentes sobre a política econômica que deseja implementar. Durante a campanha eleitoral ele prometia acabar com as taxas de juros artificialmente baixas – o mercado acredita que isso faria com que o dólar se fortalecesse. Mais perto da posse Trump falou muito de acelerar obras públicas – o que é inflacionário e também poderia levar ao aumento de juros e a um dólar mais valorizado. Desde que assumiu, no entanto, Trump tem dito que um dólar mais forte não interessa aos americanos porque tira a competitividade dos produtos locais.

Meyer diz que devido a esses sinais dúbios, não dá para saber o que Trump vai realmente fazer na economia. Ele afirma que historicamente os republicanos defendem juros mais apertados e os democratas, mais relaxados. Só que não é possível dizer se Trump seguirá essa tradição porque juros mais baixos são bons para empreendedores – e Trump, como empresário, deve se mostrar sensível às demandas desse segmento. Outro ponto a ser considerado é que não há neste momento pressões inflacionárias que justifiquem uma forte alta de juros nos EUA.

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Outro ponto que o mercado estará de olho nos próximos meses é no provável início da redução do balanço do Federal Reserve. Desde a crise de 2008, o Fed recomprou títulos de renda fixa no mercado para injetar liquidez em todo sistema financeiro. Isso, no entanto, inchou o balanço do Fed, que desde 2008 cresceu de US$ 1,5 trilhão para US$ 4,5 trilhões. Esse movimento de injeção de liquidez no mercado já é coisa do passado e agora o mercado espera o início de uma reversão.

O problema é que a Bolsa subiu muito desde 2009 calcada no aumento da liquidez dos mercados – parte do dinheiro injetado pelo Fed era reinvestido em Wall Street ou em títulos do Tesouro americano. Não é à toa que que a Bolsa bateu tantos recordes e os “treasuries” chegaram a pagar os menores juros da história. Para Meyer, o Fed precisa ser bastante cuidadoso para não gerar fortes quedas nos mercados. “Acho que eles não devem acabar com esse programa até que a economia esteja muito bem encaminhada. Certamente em algum momento em 2017 veremos uma definição do Fed sobre até que ponto eles querem chegar com a redução do balanço.”

Veja a cobertura completa da Expert Latin America Conference 2017

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