Títulos públicos com prazos intermediários são “excelente oportunidade”, diz estrategista da XP

Para Marcelo Freller, papéis com vencimentos de 2024 a 2030 oferecem bons retornos com volatilidade relativamente baixa

Alexandre Rocha

(Getty Images)
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SÃO PAULO – As melhores oportunidades no mercado de títulos públicos são os papéis com prazos intermediários. A avaliação foi feita por Marcelo Freller, estrategista de macro da XP, durante o evento Semana da Renda Fixa, promovido pela empresa.

Ao mostrar uma tabela com papéis prefixados e outros com o retorno atrelado à inflação, Freller disse preferir aqueles com prazos de 2024 a 2030. “O meio da curva, de LTN 2024 a NTN-B 2030 (IPCA+juros), é o lado que eu gosto mais. Os mais longos realmente têm mais volatilidade e eu não tenho tanta confiança do que vai acontecer”, afirmou.

De acordo com Freller, os preços dos títulos públicos no mercado secundário estão bastante baixos, em patamares semelhantes aos de março de 2020, no início da pandemia, o que representa uma oportunidade de compra. Ao mesmo tempo, os prêmios para títulos de médio prazo subiram e estão próximos daqueles dos papeis de longo prazo.

“Esse meio de curva tem prêmio suficiente, com uma volatilidade não tão alta. É uma excelente oportunidade de investimento”, destacou.

No caso do Tesouro IPCA, ele ressalta que todos os títulos com vencimento a partir de 2024 estão pagando taxas acima de 4% de juros reais, ao passo que os papeis com prazos mais longos, até 2055, não chegam a 5%. No início de 2021, a diferença de juros entre um e outro chegou a mais de dois pontos.

“Agora é um momento muito melhor para comprar do que no começo do ano”, observou. Em relação aos papéis prefixados, os atrelados ao IPCA têm a vantagem de apresentar volatilidade 60% menor.

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Ambos tiveram rentabilidade negativa no mercado secundário em 2021 até agora, mas o Tesouro IPCA caiu até 11%, enquanto o recuo do prefixado chegou a 20%.

Freller alertou que, para operar no mercado secundário, o investidor deve levar em conta seu perfil, pois os valores dos títulos oscilam em função de fatores como a situação fiscal e política do país. Portanto, podem ocorrer quedas significativas como as observadas este ano. Ou seja, o investidor tem que “aguentar a volatilidade”.

Já quando mantém o título na carteia até o vencimento, o investidor recebe o retorno informado no momento da compra. “Carregando até o vencimento, você vai garantir o que contratou”, afirmou Luiza Lima, representante da área comercial de renda fixa da XP, que também participou do painel.

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As taxas vigentes quando da compra serão cumpridas ao final do prazo. As oscilações do mercado vão influir no resultado, para cima ou para baixo, caso o investidor decida vender o papel antecipadamente.

Sobre a desvalorização do Tesouro IPCA mesmo com o avanço da inflação, Freller observou que o aumento dos juros mais do que compensou o avanço do índice de preços.

“Os valores dos títulos e as taxas são inversamente proporcionais. Quando o valor do título está muito baixo, a taxa está muito alta. Por isso é que agora é uma oportunidade de entrar na renda fixa”, acrescentou Luiza Lima, representante da área comercial de renda fixa da XP, que também participou do painel.

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Juros

No caso do Tesouro Selic (LFT), pós-fixado que tem rentabilidade atrelada à taxa básica de juros, Freller ressalta que os prêmios estão elevados.

Ele conta que os prêmios destes títulos subiram bastante a partir de outubro de 2020, quando o mercado “descobriu” que o governo tinha R$ 700 bilhões em dívidas a vencer nos seis meses seguintes.

Mas a União conseguiu emitir papeis para rolar a dívida com folga, e as taxas voltaram a cair. Mesmo assim, estão ainda bem acima da média dos últimos anos. Vale lembrar que o Banco Central vem aumentando a Selic e a previsão é que a alta continue.

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Freller destaca que esses papéis estão dando retornos acima do CDI, pelo menos 105% do CDI corrente nos títulos com vencimento a partir de setembro de 2025.

“LTFs já eram e continuam sendo boas alternativas para a parcela de menos risco possível de sua carteira, pois não têm risco de crédito, são pós-fixadas e têm liquidez diária”, declarou. Ou seja, é uma boa opção para a reserva de emergência.

Conjuntura

O estrategista lembra que 2021 foi um ano difícil para a renda fixa, com a desvalorização dos títulos públicos. Isso ocorreu em função de fatores fiscais e políticos.

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Ele cita, por exemplo, a Reforma do Imposto de Renda, que sofre resistência no Senado e isso impede que ela seja usada como fonte do Auxílio Brasil, que o governo quer criar em substituição ao Bolsa Família.

Mais preocupante é questão dos precatórios – dívidas judiciais da União –, que vinham em média custando R$ 40 bilhões ao ano aos cofres públicos, mas em 2022 o volume estimado para pagamento é de R$ 90 bilhões, o que o ministro da Economia, Paulo Guedes, chamou de “meteoro”.

“Os precários são o fator que faz mais pressão na renda fixa”, comentou Freller.

Além disso a inflação está em alta. O IPCA chegou a 9,68% nos 12 meses encerrados em agosto, segundo o IBGE. Consequentemente, a Selic avança. Este cenário deve evoluir pelo menos até o final do ano, mas pode não seguir ao longo de 2022. A XP, por exemplo, prevê uma inflação de 3,7% no ano que vem.

“A renda fixa foi pega de surpresa. O mercado começou o ano prevendo a Selic em 3%, agora a previsão está acima de 8%. Com a inflação muito mais alta, o BC precisou subir os juros para controlá-la”, disse Freller.

Entre os “choques” que pressionaram a inflação, ele citou: preço do petróleo, câmbio, energia, gargalos nas cadeias mundiais de abastecimento, geadas e o auxílio emergencial liberado pelo governo em função da pandemia.

Para o estrategista, esses choques não devem se repetir em 2022, daí a expectativa de uma inflação mais baixa.

Alexandre Rocha

Jornalista colaborador do InfoMoney