Título público que paga quase 13% ao ano é uma boa compra agora?

Juros de papéis do Tesouro Prefixado renovaram máximas na quarta-feira (23) – e analistas acham que ainda podem subir mais

Leonardo Guimarães

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O Tesouro Prefixado 2035 e Tesouro Prefixado 2027 ofereceram taxas recordes nesta quarta-feira (23), de 12,79% e 12,92% por ano, respectivamente. Os valores representam um grande salto frente aos 10,66% e 9,95% ao ano que pagavam quando estrearam no Tesouro Direto, em fevereiro, refletindo o pessimismo do mercado com as contas públicas. O investidor pode se perguntar: os juros desses papéis abriram janela para aplicar agora?

Para analistas, os juros podem estar altos, mas esses papéis do Tesouro Direto ainda trazem mais riscos do que benefícios. A justificativa é simples: boa parte espera que a remuneração suba ainda mais em breve, portanto quem comprar agora deverá ter na carteira um papel desvalorizado, já que será fácil encontrar outros que pagam mais. 

É o que resume Fabrício Silvestre, analista da Levante: “apesar de reconhecer o patamar atual das taxas como bastante elevado, entendemos que o risco de novas elevações ainda é alto, o que reduz a atratividade da alocação em prefixados”.

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O mercado enxerga o momento atual com muitas dúvidas. A principal diz respeito à trajetória da Selic: ainda não está certo quando o ciclo de aperto monetário vai terminar, tampouco qual será a taxa final decidida pelo Banco Central. Sem uma visão clara sobre isto, é difícil avaliar se os prefixados oferecem prêmio suficiente contra o Tesouro Selic no longo prazo, por exemplo.

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Por que as taxas podem subir? 

A possibilidade de juros mais altos no curto prazo pode se concretizar se a política fiscal do governo seguir perdendo credibilidade. “A curva de juros precifica a Selic acima de 13% nos próximos três anos e o longo prazo vai depender muito da saúde fiscal do nosso País, que não parece dar sinais tão claros de recuperação”, diz Victor Furtado, head de alocação da W1 Capital. 

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Com a percepção de risco maior, os investidores vão pedindo cada vez mais prêmio para emprestar dinheiro ao governo. Entre projeções de alta ou queda nas taxas, os analistas escolhem o caminho considerado defensivo da primeira opção por não esperarem uma sinalização forte do governo federal no sentido do controle de gastos. 

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Risco inflacionário

Nicolas Gass, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, argumenta que a política fiscal do governo cria a chance de um “repique inflacionário” – alta forte e rápida dos preços – porque vai estimulando o consumo até não haver “oferta suficiente, o que faz os preços subirem”. Isto acende um alerta aos investidores de prefixados, já que a inflação pode corroer seus rendimentos. 

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“Em um prefixado, você está exposto tanto ao risco de juros mais altos quanto ao risco de uma inflação explosiva, não acho que vale a pena a aposta”, diz Gass. 

Nesse sentido, o Tesouro IPCA+ – que também não é o preferido dos analistas – seria uma opção melhor que os prefixados, já que tem uma parte da remuneração atrelada à inflação. 

Se investir, aposte no curto prazo 

Mesmo deixando claro a falta de apreço pelos prefixados agora, a recomendação dos analistas  para quem ainda quer investir neles é não alongar os prazos. O motivo principal é ter mais assertividade, considerando que se o curto prazo já traz incertezas, é ainda mais difícil prever o cenário muitos anos à frente. 

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“Enxergamos um risco maior de erro nos prefixados no longo prazo, dando preferência para pós-fixados e IPCA+, que têm riscos mais equilibrados”, conclui Furtado.