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Um dos mais conhecidos influenciadores digitais da área de finanças e investimentos, Thiago Nigro – o Primo Rico – fez ajustes em sua própria carteira nos últimos tempos, diante do “medo” que vem identificando no mercado diante de uma série de incertezas, como a possibilidade de recessão nas economias desenvolvidas ou as dúvidas de como terminaria a eleição presidencial no Brasil (e agora, sobre como será a equipe econômica do próximo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva).
Seu portfólio é sempre composto por quatro classes de investimentos: ações, fundos imobiliários, ativos internacionais e renda fixa. “Sempre tenho as quatro caixinhas, mas se o mercado está muito pessimista, eu tomo um pouco mais de risco. Gosto de ser do contra”, diz.
Em entrevista ao InfoMoney, Nigro afirmou já aumentou sua exposição a risco – algo que não é de hoje. “Não vou dizer que estou fazendo isso, eu já fiz. Tenho mais renda variável do que renda fixa na carteira”. Em sua avaliação, o fato de os juros terem subido rapidamente traz boas perspectivas para a inflação e, por isso, ele espera ver uma correção na taxa Selic – o que beneficiaria a Bolsa.
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“As pessoas acham que quando a taxa de juros está alta é um ótimo momento para comprar renda fixa. Mas, na verdade, o tempo nos mostra que quando os juros estão altos geralmente é um bom momento para você investir em renda variável. Ou em ativos prefixados”, disse.
As quatro “caixinhas” em que Nigro separa seus investimentos estão sendo replicadas no Arca Grão, um fundo de previdência lançado em outubro pelo Grupo Primo, que concentra seus negócios. O nome, Arca, é um acrônimo que faz referência a cada classe de ativos em que aplica: ações locais, real estate (por meio dos FIIs), caixa (renda fixa) e ativos internacionais.
Em março, o Grupo Primo adquiriu a fintech Grão, que ficou conhecida por oferecer uma conta digital remunerada. A empresa, fundada por Monica Saccarelli, cresceu e hoje é uma gestora de recursos – e o Arca Grão é o primeiro fundo que lançou. Com aplicação mínima de R$ 100, taxa de administração de 0,59% ao ano e sem taxa de carregamento, a carteira havia captado R$ 89 milhões até a última quinta-feira (3), segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Segundo Nigro, os aportes encaminhados já passam de R$ 100 milhões.
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Confira os principais trechos da entrevista que Nigro concedeu ao InfoMoney:
InfoMoney: Como você está investindo nesse momento?
Thiago Nigro: A história me ensinou que é muito difícil fazer boas escolhas em momentos de altíssima volatilidade. Ou, no mínimo, ao fazer escolhas em momentos como esses, você se expõe a riscos muito grandiosos. Montar uma carteira de investimentos que vai sobreviver ao tempo tem a ver com uma carteira diversificada.
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A partir desse pressuposto, deixei de tentar acertar qual é o próximo melhor investimento. E acabei passando a diversificar meu capital em quatro partes, independentemente do cenário. É uma alocação que me beneficiaria sempre, seja na vitória de Lula ou de Bolsonaro ou de quem seja, em qualquer ambiente de mercado.
Hoje eu tenho mais ou menos 30% de ações brasileiras na carteira. Tenho 30% de fundos imobiliários, 25% em investimentos internacionais e mais 15% ou 20% em renda fixa.
Sempre tenho as quatro caixinhas, mas se o mercado está muito pessimista, eu tomo um pouco mais de risco. Gosto de ser do contra. E se o mercado está muito otimista, geralmente fico com o pé mais no chão. O mercado muito pessimista ou muito otimista gera uma assimetria contrária.
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Em um mercado muito otimista, todos estão acreditando vai subir, o que acaba refletindo nos preços dos ativos de renda variável, com um preço mais alto. Significa que o upside [potencial de alta] diminui. Logo, fico mais conservador e diminuo minha alocação em renda variável. Quando as pessoas estão mais pessimistas, não significa que as ações vão cair, mas que há uma assimetria para o lado de quem gostaria de comprar ativos. É um jogo de gerenciamento e administração de risco, muito mais do que uma convicção de direcionamento do mercado.
É um jeito simples de investir, qualquer investidor poderia fazer isso de alguma forma. O indicador em que mais confio é o do sentimento [do mercado], que nunca me trai, porque não é um indicador racional e, sim, emocional.
IM: E o que esse indicador diz para você sobre o mercado atualmente?
Nigro: A gente vê um momento de mercado polarizado, como a gente vê nas eleições. Vejo as pessoas com muito mais medo diante do que aconteceu [resultado das eleições], mas surpreendidas com a alta da Bolsa [após as eleições] puxada por alguns segmentos específicos.
Aceitei humildemente que não posso prever o futuro, então tenho um pouco de ações, um pouco de fundos imobiliários, um pouco de investimentos internacionais, um pouco de renda fixa. Ganho mais sendo mais humilde do que aqueles que têm muita percepção e, na maioria das vezes, quebram a cara.
IM: Você tem aumentado sua exposição a risco neste momento? Em que setores?
Nigro: Não vou dizer que estou fazendo isso, eu já fiz. Tenho mais renda variável do que renda fixa na carteira. Isso é fruto de perceber que, de certa forma, as pessoas estão com muito medo: elas falam de recessão nos Estados Unidos, das possibilidades na política, da crise dos caminhoneiros, há muita imprevisibilidade.
Particularmente, gosto muito de bancos, são ações que parecem ter múltiplos interessantes. Mas tenho uma boa diversificação entre os ativos. Gosto de ter pelo menos dez segmentos diferentes na minha carteira. E tenho algumas apostas um pouco menos convencionais, porque hoje há empresas, especialmente as menores, sendo negociadas a praticamente o valor do caixa que têm.
Vimos a Selic subir muito rapidamente, o que trouxe um bom forecast [previsão] para inflação. Então podemos ter uma correção na taxa de juros, o que é muito bom para a Bolsa. As pessoas acham que quando a taxa de juros está alta é um ótimo momento para comprar renda fixa. Mas, na verdade, o tempo nos mostra que quando os juros estão altos geralmente é um bom momento para você investir em renda variável. Ou em ativos prefixados.
Como a taxa de juros está no ápice, há duas reuniões do Copom [Comitê de Política Monetária] sem reajustar, se ela começar a diminuir, as empresas devem sentir um impacto positivo.
IM: Os ativos da sua carteira são os mesmos em que o fundo Arca investe, mas as proporções são distintas. Por quê?
Nigro: Sempre divido minha carteira em quatro partes, mas tento colocar um pouquinho mais ou menos em ação, um pouquinho mais ou menos em investimento exterior, ou um pouquinho menos. O fundo de previdência não tem esse intuito, não faz market timing.
A ideia não é tentar prever para onde vai o mercado e, sim, manter-se fiel a uma estrutura mais conservadora do que a minha carteira – inclusive por uma questão de regulação da previdência, que protege o investidor. O investimento é muito mais seguro, blindado, tende a ter menos volatilidade.
Por isso, no fundo de previdência tem um pouco mais de alocação em renda fixa, em torno de 40%, enquanto ativos no exterior e fundos imobiliários têm de ter uma alocação menor. Percebemos que isso não fere a filosofia e esperamos que possa trazer retornos consistentes.
Meu dinheiro também está dentro do fundo de previdência, a cada mês faço mais aportes pensando no longo prazo. Minha lógica é ter um bom produto para o meu dinheiro. As taxas também são mais baixas do que o normal.
Esperamos que em poucos anos a gente tenha construído um dos maiores planos de previdência do Brasil, que vai acompanhar o brasileiro ao longo do tempo, já que a previdência social se mostra uma ferramenta não consistente de planejamento de aposentadoria. Nem 1% da população consegue se aposentar com a mesma qualidade de vida. Se conseguirmos conquistar um patrimônio superior a R$ 10 bilhões, estaremos entre os maiores.
IM: Ativos no exterior fazem parte da estratégia, mas o cenário nos países desenvolvidos não parece muito promissor. Como você avalia essa categoria de investimentos atualmente?
Nigro: Filosoficamente falando, acredito que investir no exterior é essencial por vários motivos. Não sabemos o que vai acontecer com o futuro do Brasil, não conseguimos cravar a direção. Podemos ter um cenário em que a Bolsa sobe, a renda fixa sobe, mas a nossa moeda desvaloriza. E desde 1994, com o Plano Real, praticamente todos os governos tiveram alta do dólar, consecutivamente, sistematicamente. É prudente imaginar que isso é uma tendência, então faz sentido diversificar o capital em dólar.
Além disso, olhamos para os Estados Unidos, que é uma economia exposta ao mercado global. Quando invisto em companhias globais, diversifico meu risco com as boas cabeças empreendedoras, num cenário competitivo e consigo acessar as melhores e maiores empresas do mundo, e me protegendo do real.
Quando pensamos em alocar lá fora, temos várias possibilidades. Podemos investir diretamente em alguns ativos, mas acredito, de verdade, que é muito difícil gerar alfa [ganho] consistente acima do S&P 500 porque o índice é muito mais eficiente do que o nosso [Ibovespa]. Por isso, na Grão, optamos por comprar as 500 maiores empresas do S&P 500, por meio de ETFs [fundo de índice].
Sobre a recessão lá fora, concordo, de certa forma, que é possível, mas também é nesses momentos que a gente gera alfa. Como acredito em filosofia de alocação, o que mais quero é estar posicionado num mercado em que ninguém mais acredita, mas que sistematicamente sobe. Independentemente do momento, é factível que eu colha frutos mais cedo ou mais tarde. E eu não tenho pressa.
IM: O Arca investe sempre por meio de outros fundos. Por que escolheram atuar dessa forma?
Nigro: É importante entender que a Grão é uma gestora especialista em alocação. É muito mais fácil ter ao alcance gestoras incríveis e alocar o meu capital onde estiverem as melhores cabeças. Nossos gestores conversam todos os dias com outros gestores, dentro e fora do Brasil.
Também somos uma gestora com uma estrutura de custos enxuta. O mais oneroso para o investidor no longo prazo é o excesso de movimentação e de custos. Nossos investimentos são feitos em uma estrutura de custos baixos e por isso temos uma das menores taxas de administração.
Além disso, não somos uma gestora tão passiva quanto uma BlackRock [gestora de ETFs], mas também não tão ativa quanto uma gestora que faz stock picking. Estamos no meio termo.
IM: Por que escolheram começar com um fundo de previdência para ser o primeiro produto financeiro a lançar?
Nigro: Porque o fundo de previdência é muito melhor para o longo prazo. Quando comecei a produzir conteúdo na internet, meus primeiros vídeos eram sobre previdência privada. Só que ninguém assistia, pois previdência é tida como um investimento chato, burocrático, sem charme.
Comecei a mudar meu conteúdo, me adaptando ao que a audiência queria ouvir mais, falando de ações, Tesouro Direto, fundos imobiliários. Passados sete anos, as pessoas me conhecem, e eu decidi voltar às origens, falando do que talvez seja o melhor veículo para aposentadoria no Brasil.
Os benefícios são incontáveis. Comparar a previdência privada com um fundo multimercado é desleal. O multimercado tem come-cotas, o Imposto de Renda seria de, no mínimo, 15%, não teria postergação da tributação, não teria usabilidade na transmissão de herança, teria de pagar ITCMD [Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação]. Não tinha como começar diferente.
Um dos grandes desafios para o brasileiro fazer uma boa previdência é a educação. E estamos muito bem posicionados no mundo da educação. Falamos com quase 20 milhões de pessoas e achamos que através da educação conseguimos libertá-las, ensiná-las, instruí-las a tomar boas decisões por conta.
Mas educação não é suficiente para as pessoas se aposentarem bem. Elas precisam também de um veículo. E como não havia um veículo que corroborasse com nossa filosofia, decidimos criá-lo.
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