Tesouro IPCA+ em queda: ainda vale a pena investir ou rali de recordes vai voltar?  

Mercado ainda vê títulos de inflação com bons olhos e alertam: incertezas sobre a economia ainda não acabaram e volatilidade das taxas podem voltar

Monique Lima

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A taxa do Tesouro IPCA+ de dez anos atingiu um valor recorde de nove anos no início de julho, ao bater em 6,58%. Desde então, os prêmios têm caído dia a dia, voltando a patamares mais brandos, na faixa dos 6,1%. O rali dos recordes ficou para trás? Ainda vale a pena investir em Tesouro IPCA+?  

Sim. Os títulos de inflação seguem na lista de ativos recomendados por analistas e gestoras. “O momento ainda é incerto. A dinâmica fiscal do país não está equacionada e não existe clareza sobre o equilíbrio fiscal e a estabilização da dívida”, diz Fabricio Silvestre, analista de investimentos da Levante Corp.  

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E justamente as dúvidas em relação à dinâmica fiscal do país que impulsionaram as taxas dos títulos no início do mês, além de influenciarem na desvalorização do real frente ao dólar e na abertura da curva de juros futuros, devido ao ambiente de insegurança que se instalou.  

Falas conciliadoras do governo para reiterar o compromisso com as contas públicas diminuíram o ambiente de risco, mas Silvestre sinaliza que outros fatores podem contribuir para um aumento na projeção da inflação do país.  

Recentemente a Petrobras (PETR4) aumentou o preço dos combustíveis e a bandeira de energia elétrica aumentou a cobrança para a faixa amarela. “São fatores que devem contribuir para a alta de preços no país, de modo que não está claro o comportamento da expectativa de inflação mais adiante, o que pode pressionar o Banco Central”, diz o analista da Levante.  

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Por outro lado, a perspectiva de corte de juros nos Estados Unidos em setembro é um atenuante que pode levar à valorização do real e beneficiar a economia de países emergentes — Brasil incluso.  

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“Existem riscos para os dois lados. Acreditamos ser um bom momento para aplicar nos títulos de inflação, mas com parcimônia”, diz Silveste. Segundo ele, os títulos intermediários e curtos são opções melhores, enquanto os títulos longos oferecem mais risco e volatilidade.  

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Em sua carta de estratégia em títulos públicos para o segundo semestre, o Itaú BBA sinaliza uma posição de 50% em inflação:  

Na carta, o estrategista do banco sinaliza que continua otimista com títulos atrelados à inflação, “dado o nível de taxa superior ao que acreditamos ser a taxa de equilíbrio de longo prazo no Brasil”, em referência ao prêmio acima de 6%. 

Marcação a mercado x vencimento 

No pior momento de ruído político no início de julho, as taxas do Tesouro IPCA+ 2035 abriram até 6,58% — a última vez que o um juro real dessa magnitude foi precificado neste título foi em julho de 2015, nove anos atrás.   

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Quem comprou o papel nesse pico poderá ganhar com uma valorização dupla: se levar até o vencimento, o prêmio IPCA + 6,58% está garantido; se optar por vender no mercado secundário, as chances de conseguir um bom preço também são grandes, isso porque o preço do papel aumenta com remarcação inferior do prêmio.  

Em dez dias — de 2 de julho a 12 de julho — a taxa caiu dos 6,58% para 6,13%, com isso o ganho de capital com o preço do título foi de 3,36%.  

Entretanto, Silvestre destaca que a dinâmica do mercado secundário é incerta, “pode ser uma possibilidade, como se mostrou no intervalo analisado, mas pode não ser o caso no futuro”, pondera.  

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Segundo ele, é importante que o investidor se atente a duas questões: Imposto de Renda e prazo. Os títulos do Tesouro são taxados de acordo com uma tabela regressiva de IR, então, deixar os recursos investidos por dois anos é importante para garantir o benefício fiscal.  

Já o prazo é uma questão de segurança para o caso de não ser possível um bom negócio no mercado secundário. “É importante aplicar com consciência para o caso de precisar manter o investimento até o vencimento”, o que não seria um mau negócio com um prêmio de inflação + juro real de 6%, segundo o analista.