Tesouro direto: títulos prefixados brilham em março com valorização de até 4,5%

Os ativos oferecem os melhores ganhos também no primeiro trimestre do ano: juros do Prefixado 2026, no período, foram de 5,31%

Neide Martingo

Ilustração (Pollyana Ventura/Getty Images)
Ilustração (Pollyana Ventura/Getty Images)

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Março foi marcado pela grande expectativa com relação ao anúncio do novo arcabouço fiscal, que acabou acontecendo nesta quinta-feira (30). A notícia deixou um clima positivo no ar, especialmente no mercado de juros.

“Por mais que não tenha sido a reforma dos sonhos, não veio a reforma do pesadelo. Veio uma reforma no limbo, que tem pontos bons, mas tem pontos preocupantes também, é muito desafiadora e se baseia num incremento de receita ainda muito subjetivo”, diz Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos.

Nos últimos 30 dias, o mercado estava acreditando que seria em maio ou, no máximo, em junho que o Banco Central (BC) iria começar a cortar juros, atualmente em 13,75% ao ano. E o BC praticamente tirou a chance de isso acontecer em maio, além de ter reduzido muito a expectativa para junho.

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“Isso provocou uma alta nos vencimentos mais curtos da taxa de juros, com o mercado acreditando que vai demorar um pouco mais pra começar a redução das taxas, o que puxa pra cima e estressa essa curva”, explica Cruz. Por outro lado, no caso dos vencimentos mais longos, as taxas cederam.

Ainda em março houve também muita turbulência por conta da taxa de juros americana, além da questão da crise bancária, que estressou os investidores pelo mundo. Houve preocupação até com ativos considerados mais seguros, com a dúvida de que eles poderiam apresentar algum tipo de problema.

“No Brasil, aconteceu de algumas empresas entrarem em recuperação judicial. Ou seja, o mercado de crédito está dando problemas por aqui, pelo fato de a economia não estar preparada para conviver com uma taxa de juros tão alta por tanto tempo”, ressalta o especialista da RB Investimentos.

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No Tesouro Direto, os reflexos foram vistos nas taxas – e nos preços – dos títulos públicos. Os investidores que detêm papéis com prazos mais curtos registraram ganhos maiores em março. Os destaques foram os prefixados. O Tesouro Prefixado 2029, por exemplo, ofereceu retorno de 4,49% no mês, seguido do Tesouro Prefixado 2033, com 3,59% e do Tesouro Prefixado 2026, com 2,93%.

Entre os títulos atrelados à inflação, o “campeão” de março foi o Tesouro IPCA+ 2035, com valorização de 2,13%. “O que eu espero para frente é que as coisas acalmem um pouco. Porque a regra fiscal agora existe e pode ser trabalhada”, diz Cruz, da RB.

Veja os rendimentos dos títulos negociados no Tesouro Direto em março e no acumulado do ano:

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Título Vencimento Rentabilidade em março (%) Rentabilidade no ano (%) Taxa de compra (%) Taxa de venda (%)
Tesouro Prefixado 01/01/2026 2,93 5,31 11,98 12,01
Tesouro Prefixado 01/01/2029 4,49 4,31 12,64 12,76
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2033 3,59 3,02 12,78 12,9
Tesouro IPCA+ 15/05/2029 2,01    – 5,87 5,99
Tesouro IPCA+ 15/05/2035 2,13 1,76 6,13 6,25
Tesouro IPCA+ 15/05/2045 1,03 -1,05 6,32 6,44
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2032 1,98 3,82 5,97 6,09
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2040 2,06 2,95 6,13 6,25
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/05/2055 1,84 2,13 6,18 6,3

Fonte: Tesouro Direto. Obs: dados relativos ao dia 31.03.2023

Desempenho no trimestre

Entre janeiro e março, o título público que mais trouxe retorno ao investidor foi o Tesouro Prefixado 2026, com avanço de 5,31%. O Prefixado 2029 aparece em segundo lugar, com 4,31%, seguido do IPCA+ 2032, com juros semestrais, que no primeiro trimestre valorizou 3,82%.

Ao contrário do que o mercado pensava no início do ano, por conta da inflação que caía de forma acelerada, o Fed (banco central dos Estados Unidos) passou uma mensagem de que ainda continuaria a subir os juros. “Os dados de inflação de fevereiro e de março já não foram tão bons assim, o processo desinflacionário se mostrou mais difícil. O mercado de trabalho em janeiro e fevereiro ficou muito forte, e depois veio a crise dos bancos”, lembra Cruz.

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No começo de janeiro houve a boa notícia de que a China iria reabrir de forma definitiva, após ter implementado sua restritiva política de Covid Zero. Isso provocou revisões de PIB no mundo inteiro. Mas no Brasil, em particular, no começo do ano, aconteceu a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que questionou a meta de inflação. E ele começou a atacar a política do Banco Central e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto – o que se intensificou mês a mês.

“Tudo isso deixou o mercado de juros conturbado, principalmente nas partes mais longas. O escândalo da Americanas (AMER3) mexeu com as partes mais curtas da curva, e depois veio também o problema com Lojas Marisa, o que bagunçou o mercado de crédito privado ao longo do trimestre”, analisa o especialista.

Atualmente, a sugestão de Cruz é concentrar a alocação ainda em ativos pós-fixados atrelados ao CDI, com prazo de um a dois anos. Para prazos depois de 2025, os títulos atrelados à inflação “parecem um pouco mais adequados”, avalia.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney