Tesouro Direto: prefixados voltam a ultrapassar os 13%; mercado repercute primeiras medidas do governo Lula

Maior taxa real oferecida pelos papeis atrelados à inflação era a do Tesouro IPCA+ 2026, de 6,37% ao ano

Neide Martingo

(Getty Images)
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No segundo dia “útil” do governo Lula, o temor ao risco fiscal dá o tom ao mercado. Investidores esperam alguma sinalização de que o novo governo não deve mostrar irresponsabilidade fiscal nesse início de gestão, após medidas preocupantes do ponto de vista da renúncia fiscal, como a prorrogação das isenções de impostos federais sobre a gasolina por dois meses e do diesel e gás de cozinha por tempo indeterminado.

O novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou, nesta terça-feira (3), que pretende iniciar a discussão com o Congresso Nacional sobre as medidas que julga prioritárias para “recolocar a economia brasileira no rumo certo” até o fim de abril.

“Temos um trimestre para anunciar as medidas necessárias para recolocar a economia brasileira no rumo certo”, afirmou em entrevista concedida do portal Brasil 247. “Eu gostaria de, a partir de abril, mais para o final do mês, começar a discutir com o Congresso a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal, que, no meu ponto de vista, podem e devem andar juntos”, salientou o novo ministro.

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Questionado se estaria havendo um ataque especulativo de agentes econômicos contra o atual governo, o novo ministro afirmou que está “caindo a ficha” do mercado, referindo-se ao governo Bolsonaro. “Muitos não tinham a noção do governo que estavam apoiando. Tinha muita gente que achava que a economia estava a pleno vapor, com uma grande retomada. As pessoas estavam realmente iludidas”, afirmou.

Os decretos de Lula, tirando oito empresas da fila da privatização, entre elas Petrobras e Correios, continuam refletindo na Bolsa. Por volta de 15h25, o Ibovespa operava em queda de mais de 1%, aos 105,1 mil pontos, acompanhando as perdas dos mercados em NY. Já o dólar apresentava alta de 1,54%, cotado a R$ 5,442.

“Hoje o mercado continua precificando a interferência do presidente Lula na questão da desoneração dos combustíveis. Foi uma decisão unilateral do presidente Lula em promover a continuidade dessa desoneração. E o mercado não gostou porque o ministro Haddad  poderia ter tomado a decisão — e a postura do ministro ia no sentido contrário. Isso deixou o mercado desconfortável”, afirma Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed. “Quem nos garante que não acontecerão outras interferências em outros ministérios?

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Segundo ele, o mercado, de fato, está fazendo um ajuste bem significativo nos ativos de risco por conta dessa interferência do presidente.  E todo esse movimento acaba refletindo nos títulos que são negociados no Tesouro Direto, com taxas em alta. “Isso favorece quem ainda não tem o papel e vai contra quem já tem algum tipo de posição no portfólio”, diz Jorge. Ele ressalta que agora o ponto é observar as novas declarações, tanto do ministro quanto do presidente, sobre possíveis novas interferências. Se isso continuar acontecendo, o mercado vai responder, como vem fazendo.

Às 15h23 o mercado de títulos públicos operava em alta. Os prefixados voltaram a ultrapassar os 13% ao ano. O destaque era o prefixado 2029, com juros de 13,23%, bem acima dos 13,07% vistos nesta segunda-feira.

A maior taxa real oferecida pelos papeis atrelados à inflação era a do Tesouro IPCA+ 2026, no valor de 6,37% ao ano, superior aos 6,29% registrados na véspera.

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Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta terça-feira (03): 

 

Tesouro Direto
Fonte; Tesouro Direto

Haddad

O ministro Fernando Haddad também comentou hoje a medida provisória editada ontem pelo governo, que prorroga a desoneração tributária sobre combustíveis – contrariando as sinalizações do ministro ainda durante os trabalhos da transição.

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Haddad disse nesta segunda-feira que algumas das últimas medidas tributárias tomadas pelo governo Jair Bolsonaro (PL), no apagar das luzes de 2022, vão causar um prejuízo entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões aos cofres públicos.

Segundo o novo ministro, a equipe econômica do ex-presidente descumpriu o acordo de não adotar medidas com impacto grande nas contas públicas após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Entre essas medidas estão a desoneração do querosene de aviação e cortes nas alíquotas do PIS/Cofins de bancos e grandes empresas.

“Revogaço”

Pouco tempo depois de tomar posse como Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou 52 decretos presidenciais e pelo menos três medidas provisórias.

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As iniciativas tiveram o intuito de estabelecer uma nova estrutura para a administração federal, além de revogar normas editadas pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) e tomar providências sobre o programa Auxílio Brasil – que futuramente voltará a se chamar Bolsa Família. As publicações foram divulgadas no Diário Oficial da União desta segunda-feira (2).

Além disso, um despacho assinado pelo presidente determina a ministros de seu governo a retirada da Petrobras do processo de desestatização. A determinação também prevê barrar a privatização de outras empresas públicas: Correios, Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Dataprev, Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), armazéns e imóveis de domínio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a Pré-Sal Petróleo (PPSA).

Bolsas

O ano começa oficialmente hoje para a maioria dos mercados globais. E os indicativos são positivos após um 2022 difícil marcado por inflação alta, políticas monetárias restritivas e impactos diretos e indiretos da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Nesta manhã, os índices futuros de Nova York e a maioria das Bolsas da Ásia voltaram do feriado prolongado de fim de ano em alta, mas à espera de indicadores econômicos agendados para esta semana.

Nos Estados Unidos, são esperados para quarta-feira a ata da última reunião do Federal Reserve do ano passado e a pesquisa de vagas de emprego e rotatividade de trabalho, mais conhecida como Jolts.

Também estão agendados vários discursos de presidentes do Fed para quinta e sexta-feira. Antes disso, serão conhecido hoje o PMI industrial referente a dezembro e os gastos com construção locais.

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Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney